Último bairro de Porto Alegre está "alagado e esquecido"
Santa Rosa fica na divisa da capital gaúcha com Alvorada. Isolada, população faz o corre para encontrar suas soluções
Moradores da região do Santa Rosa, na zona norte de Porto Alegre, sofreram com a enchente e estão se sentindo isolados, tanto geograficamente, quanto do ponto de vista de apoio oficial . A região tem várias áreas atingidas. Estão precisando de roupas e mantimentos, sobretudo água.
Não é de hoje que moradores da região do Santa Rosa, na zona norte de Porto Alegre, reclamam do esquecimento do poder público e da imprensa. Na enchente, a população, sem apoio oficial, se articula para socorrer as vítimas e jornalistas não tem narrado a tragédia de milhares na divisa com a cidade de Alvorada.
A região do Santa Rosa tem várias áreas atingidas, como as ocupações Fazendinha, Capadócia e Nova Gleba. Erick Dênil, 29 anos, cria do pedaço, calcula que cerca de dez mil pessoas foram atingidas na parte baixa do Santa Rosa.
Ele preside o Centro Popular de Cultura Comunitário e Periférico, que articula o socorro às vítimas. E reclama que, apesar da necessária cobertura da enchente no centro de Porto Alegre e em outras cidades, “o cantão da zona norte está esquecido”.
Erick Dênil conversou com o Visão do Corre.
Poderia descrever resumidamente a situação da Vila Santa Rosa e arredores?
A gente foi afetado muito fortemente nas extremidades, mais próximo da represa, do arroio Feijó. A água parou de subir na terça. O problema é que vai vir mais chuva. Poucas casas não foram invadidas, algumas tiveram o telhado coberto pela água. A grande maioria dos moradores se retirou. As famílias estão muito preocupadas com o futuro delas. É desesperador.
Por que, apesar da intensa cobertura, a imprensa não está abordando a situação de vocês?
A imprensa demora muito para chegar à zona norte. Sempre fomos esquecidos, agora não seria diferente. Enquanto houve muitas reportagens em várias cidades, no centro e nos bairros nobres de Porto Alegre, nós estamos em situação muito pior. O povão lá do fundo está esquecido.
O que vocês mais precisam agora?
Roupa de cama, água – água está escassa -, colchões e produtos de higiene. Temos problemas para conseguir roupa de criança, fraldas e absorventes.
Para onde foram os desabrigados da região?
Grande parte, para alojamentos em escolas. Mas tem muita gente que está na casa de amigos, parentes e também passam dificuldades. Tem que ter mais estrutura.
Há alguma perspectiva de começar a reconstrução?
Não temos. Estão falando em quarenta dias. A água do Guaíba baixou uns vinte centímetros, não teve impacto nenhum. E o pior: vai vir chuva. Nós estamos com muito medo de que a água avance mais.
Haveria alguma coisa que poderia ter sido feita para evitar o que aconteceu?
Essa tragédia poderia ter sido evitada ou amenizada. Toda chuva muito forte alaga a região. Precisa criar uma nova rota para a água, alargar e afundar mais o arroio Feijó, para não transbordar. E aumentar o tamanho dos diques. Daqui para frente, existe grande chance disso se repetir. Não foi acidente, havia previsões.