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Projeto social auxilia gestantes na favela Itaoca, em São Gonçalo (RJ)

O Espaço Gaia atua nas lacunas deixadas pelo poder público e busca profissionalização para ampliar ações

29 mar 2023 - 05h00
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Laura Torres, 26 anos, doula e cria de Jardim Catarina, favela localizada ao lado de Itaoca, ambas favelas da cidade de São Gonçalo (RJ), é diretora geral e idealizadora do Espaço Gaia. O projeto assiste mulheres moradoras da comunidade onde havia, até 2012, um lixão, desativado através da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Há muito tempo Laura Torres é ativista em movimentos sociais e atualmente ocupa o cargo de vice-secretária da Associação Doula Solidária, grupo que pretende levar a doulagem para pessoas de baixa renda – a atividade consiste em auxiliar a gestante durante a gravidez, parto e cuidados com a criança.

Só na favela Itaoca ela faz trabalho social há oito anos. E conta que, no começo, o Espaço Gaia era uma marca para os seus trabalhos como doula. Quando pensou no nome, não tinha o intuito de transformá-lo em um projeto social. O processo foi, segundo ela, muito orgânico e rápido.

Em contato com gestantes, nasce o projeto social

Os primeiros trabalhos do Espaço Gaia estiveram concentrados no monitoramento de denúncias de violências obstétricas e neonatais na cidade de São Gonçalo. Eram realizadas pesquisas nesse campo, cobrando do poder público melhorias na maternidade do município, que sofre com falta de estrutura.

Logo em seguida foi criada uma cartilha sobre dignidade menstrual, violência doméstica e obstétrica – que acontece quando ocorrem atos que ferem, física e psicologicamente, a dignidade das pessoas gestantes. A partir de um convite para ministrar uma roda para grávidas dentro da favela Itaoca, o projeto criou corpo.

Laura Torres (no centro, agachada) criou o Espaço Gaia a partir do incentivo de moradora da favela de Itaoca, em São Gonçalo (RJ)
Laura Torres (no centro, agachada) criou o Espaço Gaia a partir do incentivo de moradora da favela de Itaoca, em São Gonçalo (RJ)
Foto: Divulgação

Rodas de conversa, cartilhas, ensaio fotográfico

No evento, Laura conheceu Maiara Aparecida, na época com 24 anos e passando pela sua quarta gravidez – ela pediu a realização de mais rodas no local. Maiara tinha sofrido diferentes tipos de violência obstétrica e tentou suicídio naquela gestação, para não passar por traumas novamente.

Laura deve o sucesso das rodas a Maiara. “Foi ela que me chamou para ir lá e que convidou todo mundo. Começou com quatro mulheres, hoje somos 20. Foi ela que fez acontecer tudo isso”, resume a ativista.

Além do trabalho voluntário das rodas, realizadas com recursos limitados, o projeto foi submetido a um edital de financiamento. Isso possibilitou ampliação das ações, como reuniões com outras profissionais, advogadas, psicólogas e enfermeiras, além da criação de mais cartilhas. A Gaia também realizou ensaios fotográficos com as gestantes e chá de bebê coletivo.

Nas rodas promovidas pelo Espaço Gaia, na favela de Itaoca, em São Gonçalo (RJ), mulheres são orientadas sobre gestação
Nas rodas promovidas pelo Espaço Gaia, na favela de Itaoca, em São Gonçalo (RJ), mulheres são orientadas sobre gestação
Foto: Divulgação

Formalização vem por aí

O Espaço Gaia está em processo de formalização para se tornar uma organização da sociedade civil. A intenção é trabalhar não apenas com gestantes e pós-parto, mas passar a atender todas as pessoas que possuem útero e sejam moradoras da Itaoca, em diferentes frentes, atendendo várias pautas.

A meta é contribuir para a diminuição da insegurança alimentar, da falta de acesso a água e saneamento básico. Outra pauta é trabalhar a emancipação financeira, pois, apesar da desativação do lixão, a maioria dos moradores ainda trabalha com reciclagem.

Em diálogo constante com da favela Itaoca, em São Gonçalo (RJ), mulheres são orientadas verbalmente e com cartilhas sobre direitos de gestação, entre outros
Em diálogo constante com da favela Itaoca, em São Gonçalo (RJ), mulheres são orientadas verbalmente e com cartilhas sobre direitos de gestação, entre outros
Foto: Divulgação

Quanto ao recorte de gênero, há os casos das mulheres que sofrem violência doméstica, mas continuam com seus companheiros, pois eles são os detentores da renda e elas não conseguem sair da situação. “Já que o poder público não atua aqui dentro, porque não quer mesmo, não deseja, a gente vai fazer com que elas se sustentem”, finaliza Laura.

ANF
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