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Abril Laranja: todos os animais têm direitos ou apenas pets?

Quando falamos de direitos animais, precisamos compreender que não existe só cachorro e gato.

17 abr 2023 - 05h00
(atualizado às 10h50)
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Foto: CanvaPro

Abril Laranja é uma campanha contra a crueldade animal, ou melhor dizendo, o mês de prevenção e conscientização dos maus-tratos aos animais. Essa campanha foi criada em 2006 pela Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra Animais (American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em inglês).

Conforme o CRMV/RJ, no Brasil, conforme prescrito no Artigo 32 da Lei Federal n° 9.605/98, os maus-tratos contra os animais é crime. Além disso, de acordo com uma nova legislação, a Lei Federal n° 14.064/20, prevê prisão de até 5 anos, multa e nome do infrator no registro de antecedentes criminais.

A campanha é importante e fundamental, essencialmente numa sociedade que enxerga os animais como seres inferiores. No entanto, tendemos a ser seletivos nessa conscientização e na defesa de outras espécies. Os animais incluídos normalmente nessa conscientização, seja em fotos, palestras ou campanhas, são os pets, mais especificamente cães e gatos.

Isso conversa perfeitamente com a nossa cultura, que entende que alguns animais têm direito ao respeito, ao afeto, à vida, e outros, que são destinados ao abate, a mera posição de produtos e objetos de consumo, como animais inteligentes como porcos, galinhas, vacas, bezerros e bois. 

É interessante observar o quanto associamos maus-tratos só quando é direcionado a cachorros e gatos, e outros animais permitimos que sejam explorados, mortos e consumidos.

Aliás, não só aceitamos a exploração de outras espécies, como apreciamos sua carne, ostentamos seu couro, suas penas e peles, utilizamos seu leite, seus ovos e usamos produtos testados em seus olhos. Aceitamos anualmente que bilhões de animais terrestres e trilhões de animais marinhos sejam mortos e consumidos.

A questão dos maus-tratos dos animais é, em certa medida, deturpada. Quem inventou essa história de que existem animais para serem bem tratados e fazer companhia, e animais para serem explorados, consumidos e comercializados?

Já passou da hora de ampliarmos nossa visão, compreender que da mesma forma que um cachorro e um gato sente dor e sofre, porcos, vacas, galinhas, peixes, bois, coelhos, entre outros, sentem da mesma forma. Todos os animais devem ter direito à vida.

O especismo faz a gente enxergar os animais (que não sejam os pets) com um olhar insensível, sem considerar suas necessidades, sua natureza e seus interesses. E aqui não é papo meramente moral, espiritual ou puritano, é um papo sério sobre a nossa confusão mental em relação a maus-tratos contra animais.

Milhões de galinhas sofrem em granjas de ovos (bico cortado, pintinhos machos triturados, galinhas dividindo espaços minúsculos). As vacas são inseminadas artificialmente e abatidas assim que param de produzir leite. Os bois são criados com uma única finalidade. As galinhas poedeiras têm uma vida curtíssima, assim como coelhos, camundongos e macacos utilizados em testes cruéis (cosméticos e produtos de higiene). Todos esses animais são vítimas de nossas atividades e desejosos, de nós, que nos sentimos seres superiores às demais espécies.

A nossa intenção é ampliar o horizonte dos direitos animais, trazer uma reflexão antiespecista e contrapor essa cultura que considera alguns animais mais importantes que outros, questionar essencialmente essa seletividade responsável pelo sofrimento e morte de bilhões de animais.

Não somos contra o Abril Laranja, muito pelo contrário, achamos uma campanha extremamente importante e feliz em seu propósito. O nosso ponto é ampliar e considerar todos os animais, sem exceção.

Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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