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Anitta não é vegana: xamanismo não tem nada a ver com veganismo

O mundo místico atrelado a celebridades é um prato cheio para manchetes estereotipadas, sensacionalistas e dúbias.

10 out 2023 - 15h52
(atualizado em 12/10/2023 às 09h40)
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Foto: Reprodução/Anitta/Instagram

Recentemente a Anitta participou de um retiro espiritual xamânico caríssimo, completamente fora da realidade de 98% do povo brasileiro. E como sempre, o veganismo foi associado na manchete, de forma lamentável. Pois associa celebridade, xamanismo e caro, alimentando o imaginário coletivo que enxerga o veganismo como algo fora da realidade da população.

Uma das manchetes está assim: ‘Veganismo, regressão e mapa gestacional: como é o retiro xamânico de quase R$10 mil que Anitta realizou’.

Ser vegano é uma luta política contra a sistemática exploração de bilhões de animais, esse movimento é simples, tem uma pauta objetiva e não tem relação nenhuma com espiritualidade, com retiro, yoga, meditação, incenso.

Não que pessoas veganas não possam praticar tais atividades ou práticas religiosas, mas associar o veganismo a determinadas práticas e com o valor do retiro, é algo totalmente errado e que não condiz com o veganismo. 

A Anitta recentemente postou um vídeo batendo em uma picanha e comendo a carne de maneira pública, sem nenhum ressentimento ou preocupação. Ou seja, a cantora brasileira Anitta, não é vegana em nenhum aspecto. Ela apenas deixou de consumir carne nesse retiro elitista.

Sobre o retiro, Anitta disse: ‘’A gente fica vegano, com uma alimentação vegana durante todo o tempo em que está lá, não comemos nada de origem animal, o que vocês sabem que para mim é muito tranquilo. Tenho uma vida balanceada, um pouquinho de cada coisa, então essa foi a parte mais tranquila para mim", garantiu.

A cantora não demonstra uma preocupação realmente política pela exploração animal e o impacto ambiental da pecuária em diversos biomas, como Cerrado e Amazônia. É uma busca meramente pessoal, voltada para si.

Não estamos fazendo juízo de valor, só estamos pontuando o que realmente é, colocando os pontos nos is. A cantora é sócia de uma empresa vegana, mas isso é negócio, que também é voltado para si. 

A Anitta com certeza seria uma voz importante na luta contra o agronegócio, contra a exploração animal, mas para isso é fundamental que ela compreenda a causa como uma luta em prol dos animais e de toda a biodiversidade do planeta.

Reafirmamos que, associar o movimento vegano ao xamanismo, budismo, religiões indianas, retiros espirituais, celebridades, a riqueza, é uma forma de manter o estereótipo do movimento, descaracterizando toda sua potencialidade e importância. 

Lamentamos que notícias como essa continuem sendo publicadas por portais que não se aprofundam no movimento vegano, apenas usam o termo ‘veganismo’ sempre que surge uma oportunidade de ganhar clique.

No retiro da Anitta, como é abordado só a questão da alimentação, é um retiro com alimentação vegetariana estrita. O termo veganismo não cabe na reportagem, pois fala apenas de alimentação, não abordando outras formas de exploração animal. Outro problema, é atrelar o veganismo com dietas de regeneração, detox, entre outros absurdos.

No mundo todo, todos os anos, mais de 70 bilhões de animais terrestres e trilhões de animais marinhos são mortos para consumo humano. Milhões de animais são explorados como entretenimento humano ao redor mundo e explorados na indústria cosmética e farmacêutica. 

Além disso, a indústria da moda é responsável pela morte de outros milhões de animais para usar seu couro, pele, pena e lã. 

E o veganismo é sobre lutar contra esses tipos variados de exploração animal, e é um grande equívoco atrelar o veganismo com dietas de regeneração, detox, entre outros absurdos.

Pega a visão: 

Embora saibamos que uma alimentação vegetal, sem produtos de origem animal, seja bastante saudável, não é correto generalizar e usar isso como limpeza, ou algo do tipo.

Quando abordamos alimentação no veganismo, pensando mais como uma educação alimentar, visando questões de saúde pública e consciência do impacto da indústria alimentícia no mundo, não é uma questão de se alimentar de maneira saudável só para se sentir pleno, limpo e espiritualizado.

Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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