Criação animal: carne, leite e ovos orgânicos são a solução?
Diferente do que muita gente acredita, a produção de carne, leite e ovos orgânicos não é a solução para acabarmos com a exploração animal
A criação de animais para consumo é uma prática antiga. Com o crescimento populacional, avanço econômico, industrialização, urbanização, a criação e a comercialização de animais se intensificou drasticamente, aumentando consideravelmente a exploração animal.
Hoje, bilhões de animais são aprisionados e vivem uma vida programada e medíocre sendo tratados como objetos em fazendas industriais. O nível de exploração é sem precedentes.
Então seria a produção orgânica a solução? Para continuarmos com esse consumo, o ideal seria a criação de animais em sistemas livres, preservando o bem-estar, sem termos que explorar os animais como na grande indústria?
A resposta é não. Os animais são seres sencientes, o que significa que conseguem sentir tudo como nós humanos, então, independente da forma como são tratados, usá-los para fins lucrativos é questionável.
A ideia de manter animais sob controle humano para benefício da nossa espécie, sem a necessidade real de sobrevivência, é uma prática especista. A produção animal de forma ‘orgânica’, como os ovos, por exemplo, não passa de sofrimento velado, onde a exploração dos animais é maquiada por uma estética de fazenda feliz e bem estar.
O 'selo orgânico' muitas vezes só é utilizado para reforçar uma imagem positiva de uma fazenda que de feliz não tem nada.
É muito comum confundirmos exploração com violência física, mas exploração é a prática de se beneficiar de um ser vulnerável e mantê-lo sob nosso controle, como se fosse uma propriedade, esse controle pode até ocorrer mais ‘’livremente’’ (orgânico) do que é na indústria, mas ainda assim existe exploração animal, sofrimento e a necessidade de mantê-los presos e impedidos de exercer suas necessidades mais básicas.
A comercialização orgânica é uma forma de reforçar o consumo de animais, partindo da ideia de que se os animais forem bem tratados, forem criados livres, tiverem uma vida de liberdade, mesmo que presos como propriedade humana, é válido o consumo.
Além de os animais continuarem sendo usados para nos servir, a produção de carne, ovos e leite de forma orgânica exige mais recursos que a produção convencional. Dessa forma, os produtos seriam muito mais caros do que já são.
Por outro lado, não podemos confundir comercialização de orgânico com a criação de animais para consumo próprio, ou a caça e a pesca pela sobrevivência. Sobrevivência difere de apropriação, posse, aprisionamento, instalação industrial, abatedouros, granjas, descarte de animais vivos e geração de lucros.
Os nossos avós, os povos indígenas, povos ribeirinhos, quilombolas, vila de pescadores, estão cercados por diversas questões culturais, territoriais, sociais, além das questões de sobrevivência. Portanto, esse não é o foco da luta pela libertação animal.
Contudo, é importante pontuar que existe um dilema: se uma pessoa é vegana e seus avós criam galinhas e vacas, seria errado consumir? De uma perspectiva ética antiespecista, sim, pois a pessoa compreende não haver a necessidade desse consumo. Ao nosso ver, quando já temos informação, alternativas e compreendemos o especismo, tal prática é incoerente.
Precisamos abordar a questão da exploração animal, sempre pensando na perspectiva animal, o que realmente seria melhor para eles. A produção orgânica seria mais benéfica para nós, mas o quanto os animais ganhariam, de fato, com isso? Não é uma troca justa. Por isso, lutamos pelo fim da exploração, utilização indevida e apropriação de animais.
Temos uma vasta diversidade de alimentos naturais, como frutas, vegetais riquíssimos em nutrientes, grãos, cereais e legumes. Infinitas possibilidades de pratos e preparos, não há necessidade alguma de utilizar da exploração de animais para tal finalidade. Não precisamos criar animais para consumo. Sem contar o impacto ambiental que esse consumo acarreta.
Se liga:
A luta pelo fim da exploração animal deve vir carregada de recortes, compreensão cultural, socioeconômica, política, financeira, e, sobretudo, com o pé na realidade, sem sensacionalismo, preconceito e ignorância.
Você sabe o que é especismo?
Ainda vamos fazer uma publicação referente a esse termo, mas a princípio o Especismo é o ponto de vista de que uma espécie, no caso a humana, tem todo o direito de explorar, escravizar e matar as demais espécies de animais por considerá-las inferiores. O termo foi criado e é usado principalmente por defensores dos direitos animais para se referir à discriminação que envolve atribuir a animais sencientes diferentes valores e direitos baseados na sua espécie, nomeadamente quanto ao direito de propriedade ou posse. (Wikipédia)
Fontes: Ritchie, H. Impactos ambientais da produção de alimentos. OWID.