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Dá para comer chocolate e ser contra a indústria do leite

Antes de buscarmos opções de ovos de páscoa sem leite, é necessário compreender o porquê

15 abr 2022 - 05h00
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Ovo de Páscoa feito sem leite
Ovo de Páscoa feito sem leite
Foto: Vegano Periférico

Desde o nosso primeiro dia como veganos, nos perguntam se comemos chocolate ou só vegetais. Essa pergunta se baseia não só na falta de informação sobre o que é o veganismo, como também sobre as diversas possibilidades de alimentação vegana, sobretudo quando o assunto envolve alimentos sem leite.

Nesse período de páscoa, as piadas começam cedo. Esses dias, recebemos uma foto de abacate cortado ao meio, escrito "tô vendendo ovo de colher vegano’’. É até engraçado. Antes do veganismo, fazíamos as mesmas brincadeiras, e está tudo certo, o legal é dar risada.

Mas se engana quem pensa que veganos não comem ovos de páscoa, não consomem produtos gordurosos e calóricos. O chocolate naturalmente não contém leite. A maioria das opções disponíveis no mercado, são formuladas com leite na composição, mas ao contrário do que pensamos, é possível fazer ovos de páscoa sem leite. O chocolate é basicamente grão de cacau e açúcar, e é possível encontrar opções sem adição de leite. Como já dissemos em um texto aqui na coluna: o veganismo não é uma dieta, desde que não contenha ingredientes animais, não há restrição alimentar.

Atualmente há uma variedade de alimentos sem leite, opção não falta. Mas para além de buscarmos opções de ovos de páscoa e chocolate sem leite, é necessário compreender o porquê de optar por não consumir produtos lácteos.

Não somos educados a refletir sobre o leite que tomamos ou que compõe diversos produtos industrializados e ultraprocessados, como chocolates, bolos industrializados, bolachas, iogurte, ovos de páscoa. Apenas consumimos e não nos damos conta do que tem por trás da indústria leiteira. E é muito importante enxergar a realidade para consumir com consciência.

Um fato importante é a exploração de vacas leiteiras na indústria. Enquanto nós, humanos, nos beneficiamos de um produto de origem animal, consequentemente tiramos a liberdade e ignoramos os interesses dos animais.

As vacas leiteiras, que viveriam entre quinze a vinte anos na natureza, chegam à exaustão em cinco anos na indústria do leite. Quando já não servem mais, são abatidas. Elas passam praticamente a vida toda dentro de um pequeno cercado, pisando e dormindo sobre a própria urina e excremento. São inseminadas artificialmente para engravidar, e ao dar à luz, são separadas de suas crias, para que seu leite seja destinado aos humanos, ao invés do bezerro.

Além de extremamente inteligentes, as vacas leiteiras são seres sencientes, ou seja, são capazes de sentir tudo o que nós sentimos: dor, fome, frio, saudade, tristeza. Mas a indústria do leite não leva isso em consideração. A vaca é enxergada como objeto lucrativo.

Tratar criaturas vivas que têm mundos emocionais complexos como se elas fossem máquinas, tende a lhes causar não só desconforto físico como também grande estresse social e frustração psicológica.

Falar sobre a indústria do leite e expor as situações que os animais sofrem nesse contexto não é uma forma de impor nada ou dizer o que é certo ou errado. O que você irá fazer ao receber uma determinada informação é de sua responsabilidade.

A nossa intenção é exclusivamente trazer informação, causar reflexões e fomentar o consumo consciente. E quem sabe essa páscoa não seja uma oportunidade de escolhermos chocolates sem leite.

Ao invés de pensar apenas nas grandes marcas de chocolate, podemos optar por produções artesanais próximas a nossa casa, incentivando os pequenos produtores locais, que em sua grande maioria dependem exclusivamente dessa troca.

Além disso, se tiver tempo e disposição, outra opção é colocar a mão na massa. Nós sempre fazemos em casa, é bem simples: só vamos precisar de uma barra de chocolate sem leite (é possível encontrar por um preço bom em atacados) e forminhas de ovos. É só derreter o chocolate e despejar na forminha. Boa Páscoa, pessoal!

Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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