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Indústria: O trabalho desumano em abatedouros e frigoríficos

Como se não bastasse o sofrimento animal, a produção de carne, leite e ovos expande a sua exploração para além dos animais não humanos.

23 mar 2023 - 05h00
(atualizado às 09h38)
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Foto: CanvaPro

Normalmente ao falarmos da indústria da carne, mencionamos a realidade dos animais e a degradação ambiental. Mas pouco se fala da realidade dos trabalhadores em frigoríficos e abatedouros.

De antemão é possível prever que quem trabalha nesse ambiente provavelmente terá perdas, sejam elas físicas ou mentais. Não é possível um ser humano ser obrigado a trabalhar com tamanha crueldade e não se tornar insensível. 

A produção de carne é responsável pela situação precária, desumana e insalubre dos trabalhadores dentro dos abatedouros e frigoríficos. Segundo a análise da psicóloga Raquel Ginez Leitão, a psique dos trabalhadores dentro desse ambiente de trabalho é completamente afetada.

Acidentes de trabalho, vidas perdidas, doenças ocupacionais, queimaduras, fraturas, amputações, cortes, lacerações, contusões. Tudo isso faz parte da vida dos trabalhadores de frigoríficos.

Segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, o número total de acidentes notificados no abate de suínos, aves e outros pequenos animais, subiu de 10.880 acidentes em 2019 para 12.179 em 2020, com elevação de 12%. E entre os países do G-20 e das Américas, o Brasil ocupa o segundo lugar em mortalidade no trabalho, com 8 mil óbitos a cada 100 mil vínculos de emprego.

A média de acidentes em frigoríficos chegam a 50 vítimas diárias, só no Brasil. Sem contar que o trabalho é automático, os movimentos são repetitivos, a temperatura muitas vezes não passa de 10°C, o trabalho é exaustivo e lidar com manipulação de corpos animais é péssimo.

Uma ex-funcionária de frigorífico relatou para o documentário ''Carne e Osso'' (2014) um dos absurdos em que são submetidos: “Há trabalhadores que fazem até 18 movimentos com uma faca para desossar uma peça de coxa e sobrecoxa, em apenas 15 segundos”. Seguindo uma linha 'fordista' de produção, seres humanos e animais se misturam em meio à exploração e ao sofrimento.

Foto: CanvaPro

Os trabalhadores são obrigados a lidarem com assassinato, com a morte, com sangue e com o ambiente sombrio e frios de matadouros e frigoríficos. Sendo assim, eles perdem a empatia, a capacidade de refletir de maneira ética em relação aos corpos que estão manipulando.

Sugerimos a leitura completa do artigo para compreender melhor a situação psicológica dos funcionários de abatedouros, o nome é: ‘O trabalho realizado em abatedouros e suas consequências psicológicas – uma análise de relatos’. O artigo contou com relatos de funcionários nos Estados Unidos, mas a realidade com toda certeza se aplica em território nacional.

Infelizmente, numa sociedade desigual, na qual a população depende de qualquer tipo de emprego, não dá para dizer ao trabalhador: ‘’escolha outro tipo de serviço’’, precisamos olhar essa situação de forma um pouco mais aprofundada e não virar os olhos.

A indústria animal não é cruel apenas com animais não humanos, ela é implacável com qualquer espécie, para onde você olhar vai se deparar com dor e sofrimento. Em 2023 é inviável a produção de carne, leite e ovos de forma ética, seja para humano ou animais não humanos.

Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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