Israel é considerada a capital vegana, e a Palestina com isso?
A luta pelos direitos dos animais precisa caminhar junto com a luta por direitos humanos.
Neste exato momento, ocorre o conflito israelo-palestino, uma guerra antiga e insana entre Israel e Palestina, no Oriente Médio. A maioria das informações transmitidas pela Mídia Ocidental, apresenta uma mensagem apelativa contra os palestinos, mas pouco se comenta sobre a imposição truculenta do governo israelense contra esse povo.
De antemão, ressaltamos que Israel utiliza os direitos dos animais de maneira estratégica, como propaganda, com o intuito de passar uma imagem progressista, compassiva e positiva sobre o país. No entanto, suas políticas em termos de direitos humanos contra o povo palestino são contestáveis em diversos níveis.
Os soldados israelenses, com suas botas e boinas veganas (material sintético) e alimentação vegetariana, controlam a vida dos palestinos há anos. Conforme o secretário-geral do Instituto da Cultura Árabe, Mohamed Habib, ''Israel é uma escola de violência, com um exército brutal feito para matar civis''.
Conforme o especialista, o povo palestino não tem um aparato militar, mas seguem sendo vítimas de atitudes selvagens. Mohamed aponta que não são duas forças iguais em conflito. Além disso, segundo a agência de notícias, Reuters, na Faixa de Gaza não há abrigos antiaéreos oficiais.
Pouco importa ter uma consciência vegana, proteger os animais, se não respeitamos vidas humanas. De nada vale ser considerado um dos países mais veganos do mundo, se em relação aos direitos humanos o país comete atrocidades atrás de atrocidades e não apoia a Palestina na construção de um Estado independente e digno de direitos.
Recentemente, o Ministro da Defesa, Yoav Galant, deste Estado que se coloca amigo dos animais e se orgulha em ser um país com milhões de adeptos ao veganismo, animalizou de maneira pejorativa os palestinos em um vídeo recente, em que o Ministro aparece dizendo: ''Estamos impondo um cerco total à Gaza (...) nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás, tudo bloqueado. Estamos lutando contra animais e agimos em conformidade.''
No texto ‘’Você pode substituir direitos humanos por veganismo, por exemplo’’, publicado em 2018, a ativista Sandra PapaCapim que é vegana, morou em Israel e participou ativamente em ações pró-palestina, escreveu sobre o que suas amigas israelenses lhe disseram: ‘’o movimento vegano começou, vários anos atrás, como parte integrante da luta por justiça e contra todos os tipos de opressão, incluindo a ocupação e a colonização israelense da Palestina. Muitas veganas israelenses ainda militam contra a ocupação, mas essa conexão não está presente no discurso vegano dominante, onde conciliar veganismo e sionismo (grupo ideológico judeu que ocupou a Palestina Histórica) não parece ser um problema.’’
No mesmo artigo, a ativista israelense Haidi Motola diz que ''os soldados israelenses podem obter comida e equipamentos veganos, como botas de couro sintético. Eles podem usar suas botas “sem crueldade” nas barragens militares enquanto atiram em manifestações, declaradas ilegais, simplesmente porque o povo palestino não tem o direito básico de protestar.
Eles podem usar suas botas enquanto planejam e realizam outro ataque mortal em Gaza. Eles podem usar suas botas ao pilotar aviões e pressionar um botão para matar milhares de pessoas''.
Não é razoável que um país seja considerado a capital do veganismo, que tenha sido palco de um dos maiores eventos veganos do mundo, como ocorreu em Tel Aviv, em 2014, e ser um país tão extremista em relação aos direitos humanos.
Nós, enquanto veganos, precisamos compreender que a luta pelos direitos animais precisa caminhar lado a lado com a luta pela libertação humana.
Essa guerra que está ocorrendo na Faixa de Gaza, é reflexo de anos de aprisionamento a céu aberto e ataques cotidianos. A população que habita os minúsculos e populosos territórios palestinos, sofrem diariamente com a falta de liberdade, sem o direito básico de ir e vir, sofre com a fome, com a falta de energia, de combustível, com a falta de atendimento médico, racionamento de água, embargos econômicos, etc.
É importante destacar que nem toda população de Israel é ruim ou bélica, e muito menos estamos defendendo crimes hediondos cometidos pelo Hamas. Não importa o lado, a bandeira ou o posicionamento ideológico e político, sequestrar, torturar e usar crianças, adolescentes e inocentes é inadmissível e imperdoável em qualquer parte do mundo.
A Palestina luta por um Estado Palestino independente, no entanto, Israel não permite, e impõe uma série de restrições e bloqueios não-pacíficos. É importante que, tanto Israel quanto a Palestina tenham o direito de ser considerados um Estado independente, com direitos e possam conviver de forma harmoniosa.
Para isso, é preciso que Israel, que se proclama o país mais ético em relação aos direitos dos animais, considere a existência da Palestina, seja ético em relação aos direitos humanos, e não tente aniquilar os palestinos.
Pega visão:
Analisar relações de conflitos históricos, que permeiam questões religiosas, territoriais, econômicas, políticas e sociais, com sentimentalismo, não é o melhor caminho. É preciso compreender esses conflitos de maneira geopolítica, sobretudo com um olhar crítico e imparcial.
Seria desleal generalizar e acusar um país inteiro, toda a sua população sem considerar que existem muitos israelenses que são pró-palestina, que não concordam com as atitudes do governo, e também estão sofrendo as consequências de intensos conflitos ao longo dos anos.