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O agronegócio brasileiro não alimenta o mundo

Além de não alimentar o mundo, é responsável pelos principais desmatamentos e destruição ambiental.

10 ago 2023 - 12h29
(atualizado às 18h30)
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Foto: CanvaPro

A principal propaganda do agronegócio brasileiro é a sua capacidade e eficiência em alimentar 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo. Contudo, isso é uma falácia, uma mera propaganda.

O agronegócio é bom em alimentar gado e abater animais para produzir alimentos de origem animal, como a carne, que representa apenas 18% da caloria consumida no mundo todo. Isso é um fato, não opinião.

O agro não alimenta nem mesmo o Brasil, quem dirá o mundo. Para se ter uma noção, 70% da produção de alimentos que chegam à mesa dos brasileiros são produzidos por pequenos produtos rurais. Os latifúndios, com as extensões de terras utilizadas para plantar soja e milho, servem apenas para exportação e cumprem outras funções econômicas e comerciais.

Essa propaganda do agronegócio é importante para o setor, pois não há nada mais devastador, destruidor e prejudicial ao meio ambiente, aos animais e aos povos originários do que o agro. Justamente por isso, eles precisam vender uma imagem de que estão fazendo algo positivo para a população mundial.

De acordo com um artigo do Joio e o Trigo, a pesquisa que comprova que o agronegócio alimenta o mundo, com apoio da Embrapa, utilizou uma regrinha de três para chegar à conclusão de que esse setor é responsável por alimentar 1 bilhão de pessoas no mundo.

Mas a conta não fecha, porque a soja e o milho não são destinados exclusivamente à alimentação humana. Além disso, a carne consumida no mundo não é distribuída de maneira igualitária, o acesso aos alimentos não foram considerados. Somente consideraram a população mundial, a produção brasileira e a produção mundial, tendo como x da questão a quantidade de pessoas alimentadas no mundo.

Cerca de 77% da soja é usada para alimentar animais, apenas 19% é destinada à alimentação humana. Os seres humanos consomem apenas 2% da soja in natura, e a soja é um alimento de altíssima qualidade, extremamente nutritivo, proteico e rico em aminoácidos, 37% da soja é proteína, é um alimento nutricionalmente sofisticado com a sua produção praticamente inteira destinada a animais.

O agronegócio bate no peito ao afirmar que fornece proteína de alta qualidade para o planeta. Porém, criar animais para gerar pequenos pedaços de carne requer uma quantidade imensa de grãos, cereais e água, para termos uma noção, diariamente, um boi médio se alimenta de cerca de 7,5 vezes mais comida e 25 vezes mais água que um ser humano adulto, em um mundo com a necessidade de alimentar mais de 7 bilhões de pessoas, isso é inviável. O agronegócio além de tudo é insustentável.

As exportações brasileiras de produtos do agronegócio atingiram um valor recorde de US$ 82,80 bilhões no primeiro semestre deste ano. Enquanto isso, o Brasil ainda conta com 21 milhões de pessoas que não têm o que comer todos os dias, e 70 milhões em situação de insegurança alimentar, segundo a ONU.

A população brasileira precisa enxergar o agronegócio como ele realmente é, um negócio, apenas. Esse setor está preocupado em produzir ao máximo, expandir sua produção, comercialização e exportação, para gerar lucros estratosféricos e não reduzir a fome no Brasil e no mundo. Os cabeças desse setor visam o poder e a concentração máxima de capital.

Esse setor, além de não contribuir efetivamente com o fim da fome, com uma alimentação de qualidade e acessível para a população, gera um impacto tremendamente negativo.

Podemos mencionar diversos malefícios desse setor para o Brasil, como a desertificação, solos compactados, crise hídrica, produção alarmante de gases de efeito estufa, extermínio da população quilombola e indígena, em áreas ocupadas há centenas de anos.

Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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