Para falar de aquecimento global precisamos falar da pecuária
A pecuária é um dos setores que mais afetam as mudanças climáticas, por que pouco se fala disso?
Não existe nenhum outro setor com tanto lobby quanto a indústria da carne. Nenhum setor é tão protegido e incentivado quanto o agronegócio, seja por um governo de extrema direita, centro ou esquerda.
Não importa o viés ideológico, a produção de origem animal e monoculturas de soja e milho sempre tiveram a sua proteção institucional.
Hoje, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), conta com 280 parlamentares, e é de longe, o grupo de interesse mais poderoso do Congresso Nacional.
O agronegócio é o setor que mais gera lucro para o país, e representa ¼ de todo o Produto Interno Brasileiro. Grandes mídias são bem cautelosas ao abordar o aquecimento global e associar a produção de carne, leite, ovos e derivados.
Sempre que vão falar sobre as mudanças climáticas, quem leva toda culpa são os automóveis e as grandes indústrias, que merecem ser questionados e ter uma mudança severa na sua operação, porém, não são os únicos.
Só no Brasil, o rebanho bovino conta com mais de 224,6 milhões de cabeças, o país tem mais boi e vaca do que gente, e de acordo com a SEEG a agropecuária representa aproximadamente 27% de todas as emissões de gases no Brasil. Em 2020, quase 70% das emissões dentro do setor agropecuário vieram da pecuária.
O metano liberado pelos arrotos e gases dos bovinos é o segundo principal gás de efeito estufa, devido ao seu potencial de aquecimento global, cerca de 28 vezes maior do que o do CO2 (dióxido de carbono). Apesar de não ser o principal, é um dos mais importantes e uma série de mudanças se fazem necessárias, urgentes.
Um relatório preliminar da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que uma dieta à base de vegetais poderia reduzir em 50% as emissões de gases poluentes. E ainda segundo a ONU, a produção de carne, principalmente bovina, é o alimento que mais contribui para emissão de gases do efeito estufa, com o desmatamento da Amazônia e do Cerrado.
Ainda segundo o SEEG, o Brasil emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 em 2021, e o desmatamento foi o principal responsável pelas emissões, sendo a agropecuária o segundo setor que mais emitiu gases do efeito estufa.
E conforme o IPCC, a produção de carne é um dos principais agentes por trás do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Porque muitas vezes a vegetação nativa dá lugar para pastagens e plantações de soja, que serve predominantemente para alimentar rebanhos.
É inegável que precisamos olhar para a pecuária, a produção de carne não pode avançar da forma que vem avançando, e a sociedade precisa entender que quanto mais produtos de origem animal consumirmos, mais quente, instável e hostil ficará este planeta, principalmente para nossos filhos e filhas.
Mencionar aquecimento global e mudança climática sem olhar para a produção de carne, leite, ovos e derivados de animais é o mesmo que falar que usar um canudo de inox resolve o problema da poluição por plásticos nos oceanos.