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Para falar de aquecimento global precisamos falar da pecuária

A pecuária é um dos setores que mais afetam as mudanças climáticas, por que pouco se fala disso?

31 ago 2023 - 08h23
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O arroto do boi é uma das maiores fontes de emissão de gás metano, que contribui para o efeito estufa. (Embrapa)
O arroto do boi é uma das maiores fontes de emissão de gás metano, que contribui para o efeito estufa. (Embrapa)
Foto: CanvaPro

Não existe nenhum outro setor com tanto lobby quanto a indústria da carne. Nenhum setor é tão protegido e incentivado quanto o agronegócio, seja por um governo de extrema direita, centro ou esquerda.

Não importa o viés ideológico, a produção de origem animal e monoculturas de soja e milho sempre tiveram a sua proteção institucional.

Hoje, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), conta com 280 parlamentares, e é de longe, o grupo de interesse mais poderoso do Congresso Nacional.

O agronegócio é o setor que mais gera lucro para o país, e representa ¼ de todo o Produto Interno Brasileiro. Grandes mídias são bem cautelosas ao abordar o aquecimento global e associar a produção de carne, leite, ovos e derivados. 

Sempre que vão falar sobre as mudanças climáticas, quem leva toda culpa são os automóveis e as grandes indústrias, que merecem ser questionados e ter uma mudança severa na sua operação, porém, não são os únicos.

Só no Brasil, o rebanho bovino conta com mais de 224,6 milhões de cabeças, o país tem mais boi e vaca do que gente, e de acordo com a SEEG a agropecuária representa aproximadamente 27% de todas as emissões de gases no Brasil. Em 2020, quase 70% das emissões dentro do setor agropecuário vieram da pecuária.

O metano liberado pelos arrotos e gases dos bovinos é o segundo principal gás de efeito estufa, devido ao seu potencial de aquecimento global, cerca de 28 vezes maior do que o do CO2 (dióxido de carbono). Apesar de não ser o principal, é um dos mais importantes e uma série de mudanças se fazem necessárias, urgentes.

Um relatório preliminar da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que uma dieta à base de vegetais poderia reduzir em 50% as emissões de gases poluentes. E ainda segundo a ONU, a produção de carne, principalmente bovina, é o alimento que mais contribui para emissão de gases do efeito estufa, com o desmatamento da Amazônia e do Cerrado.

Ainda segundo o SEEG, o Brasil emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 em 2021, e o desmatamento foi o principal responsável pelas emissões, sendo a agropecuária o segundo setor que mais emitiu gases do efeito estufa. 

E conforme o IPCC, a produção de carne é um dos principais agentes por trás do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Porque muitas vezes a vegetação nativa dá lugar para pastagens e plantações de soja, que serve predominantemente para alimentar rebanhos.

É inegável que precisamos olhar para a pecuária, a produção de carne não pode avançar da forma que vem avançando, e a sociedade precisa entender que quanto mais produtos de origem animal consumirmos, mais quente, instável e hostil ficará este planeta, principalmente para nossos filhos e filhas.

Mencionar aquecimento global e mudança climática sem olhar para a produção de carne, leite, ovos e derivados de animais é o mesmo que falar que usar um canudo de inox resolve o problema da poluição por plásticos nos oceanos. 

Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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