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Pobres e periféricos: como e por que viramos veganos

A coluna do Vegano Periférico levanta a discussão sobre o veganismo ainda ser, equivocadamente, um movimento associado à classe média-alta

7 jun 2022 - 05h00
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Foto: Vegano Periférico

O veganismo é uma causa ampla, abrangente e fundamental para mudanças reais na sociedade. Porém, isso nunca foi assunto no nosso meio, ninguém trocava ideia sobre isso. Aliás, na quebrada pouco se fala em alimentação vegetariana, quem dirá veganismo (que transcende a alimentação). Portanto, esse assunto sempre foi distante da nossa realidade.

Por conta desse contexto, tínhamos muitos preconceitos, a gente pensava: ‘’o quê, largar o churrasco e virar vegano? Imagina o que a rapaziada vai falar, o que a família vai pensar, isso não é pra nóis não’’.

Já fomos muito mais ignorantes e desinteressados de assuntos relevantes, então esses assuntos mais cabeça, como veganismo, por exemplo, era motivo de chacota. E tudo isso é resumido pela falta de informação, falta de contato com outras realidades, que vem de uma forte influência da estrutura social, que é extremamente desigual e seletiva.

Contudo, ao longo do tempo, começamos a nos informar melhor, a nos preocupar com assuntos pertinentes que julgávamos importantes para a nossa vida e para a coletividade. Dentro disso, surge a questão do veganismo e as pautas relacionadas à exploração animal.

Começamos a questionar o consumo de animais em 2015, quando acompanhamos na ‘internet’, um caminhão que caiu com porcos no Rodoanel. As cenas eram de terror, muito sangue, pernas esmagadas, berros de desespero.

O contato com esse cenário nos despertou alguns questionamentos: como podemos tratar o cachorro e os gatos que temos em casa com tanto carinho e comprar pedaços de outras espécies e tratá-las como mercadorias?

Esse contato foi o bastante para entendermos que, se não suportamos a crueldade contra cães e gatos, não fazia o menor sentido continuar colaborando com a indústria da carne, apoiando a venda e a comercialização de seres inocentes e indefesos.

A única diferença é que, culturalmente, é aceitável criar alguns para matar e comer, e criar outros como companheiros e tratá-los da melhor forma possível.

A partir daí começamos a tomar mais consciência da questão animal e do consumo de animais. Descobrimos que os porcos são até mais inteligentes que os cachorros e que diversas espécies têm um mundo emocional complexo que nós humanos ignoramos completamente.

O mais importante foi que aprendemos a enxergar todos os animais da mesma forma que enxergamos os cachorros e os gatos. Entendendo que eles devem ser respeitados e livres. Desde então, seguimos pesquisando sobre veganismo, exploração e libertação animal.

Quando esses questionamentos surgiram não tínhamos referências e muito menos informação suficiente para abandonar alimentos, roupas e produtos de origem animal, mal sabíamos o que iríamos comer ou usar, foi um desafio se opor e não querer mais participar dessa atrocidade.

E ao decidir não consumir mais carnes, leite, ovos e derivados, é necessário mudar a alimentação, criar novos hábitos e em pouco tempo se adaptar. Mas estávamos muito acostumados a comer apenas arroz, feijão e um pedaço de carne animal, na maior parte das vezes frango, ou ovo e salsicha.

Por conta do costume, da dificuldade em variar a alimentação e estar tão habituado ao consumo tradicional, o processo para mudar totalmente foi gradual, aos poucos. Fomos tirando as carnes, em seguida o leite e os ovos e em pouco tempo nos adaptamos e percebemos que essa forma de se alimentar era mais simples, acessível e barata.

No cotidiano, com as dificuldades de tempo e dinheiro, não dá para ficar inventando ou fazendo muita coisa. Mesmo em meio às dificuldades, sempre que sobra um pouco de tempo a gente faz alguns preparos, pesquisa uns rangos e inventa algumas receitas simples.

Em relação a produtos testados em coelhos, porquinhos-da-índia, entre outros, nós começamos a ler rótulos e procurar o selo que indicava que aquele produto não foi testado. 

Jamais compramos de marcas caras que usam uma estética chique e vendem produtos inacessíveis. Assim, passamos a procurar produtos mais acessíveis no mercadinho do bairro, e percebemos que na maioria das vezes é mais barato comprar um produto sem testes. 

A maior parte das nossas informações sobre o veganismo vem da nossa vivência, da nossa realidade. A prática nos mostrou um veganismo totalmente diferente daquele que a maioria das pessoas têm em mente. Aquela visão que tínhamos de um movimento para rico, elitizado e cheio de frescuras desapareceu. Esse ano vai fazer 7 anos que nem cogitamos consumir produtos de origem animal. 

Foto: Vegano Periférico

Se liga:

Os feijões, lentilha, grão-de-bico, entre outros são os substitutos da carne, fornecendo proteínas e ferro suficientes para nos nutrir.

Leia rótulos. Crie o hábito de pegar um produto na mão e ler os ingredientes, e repare se tem selo escrito ''Não testado em animais''. Afinal, você sabe o que está consumindo?

No mercadinho do seu bairro você encontra. Pulando de mercadinho em mercadinho dentro das periferias é possível encontrar uma variedade de produtos e alimentos que não envolvem exploração animal.

Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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