Sexta-feira Santa: peixe também é carne e sente dor
É unânime a ideia de que não se pode comer carne na sexta-feira santa, considerando que peixe não é carne, será mesmo?
Nossa família já está preocupada com o fato de não poder consumir carne na sexta-feira santa, e está se movimentando para comprar peixe e pensar em receitas que não incluem carne.
No entanto, eles agem dessa maneira devido à forma em que foram educados. Ao perguntar a alguns parentes de onde eles tiram essa informação, a resposta é sempre a mesma: "sempre escutei falar que não podia''.
É comum agirmos de uma determinada forma sem ao menos saber o porquê fazemos aquilo, até porque seria inviável viver sabendo absolutamente tudo. Mas quando se trata de um comportamento que envolve outras pessoas ou animais, é importante questionarmos a origem, principalmente quando está relacionado com alguma religião.
O cristianismo herdou do Judaísmo a tradição cultural que não classifica peixe como carne, o que apesar de ter uma explicação devido os peixes e frutos do mar serem considerado pecilotérmicos, ou seja, ter o sangue frio, e por essa razão não se igualaria a carne de animais terrestres que são homeotérmicos, que possuem sangue quente, peixe também é carne.
O peixe está presente em muitos lugares da Bíblia e tem um simbolismo profundo na tradição cristã. Lembramos o milagre da pesca milagrosa, da multiplicação dos pães e dos peixes, o peixe assado na beira do lago após a ressurreição.
Embora os peixes não possuam um cérebro tão complexo quanto o dos mamíferos, eles são seres sencientes, possuem todo o aparato anatômico-fisiológico que capta e processa estímulos nocivos e um sistema nervoso capaz de detectar e responder a estímulos dolorosos.
Estudos demonstram que os peixes possuem receptores de dor e são capazes de sentir dor de forma semelhante a outros animais. Peixes que são expostos a estímulos dolorosos tendem a se afastar ou tendem a evitar a fonte de dor, demonstrado que eles têm a capacidade de sentir estímulos, como dor, calor, frio, pressão e vibração.
Além dos peixes, serem sencientes, e a ciência já ter demonstrado que diversas espécies sentem tudo o que os demais animais terrestres sentem, peixe é carne, peixe não é uma fruta, não é um vegetal ou grão e cereal, peixe é um ser vivo e que não merece ser tratado como coisa, objeto ou comida.
Se liga:
Para sermos coerentes em uma suposta abstinência de carne na Sexta-feira Santa, deveríamos seguir o que CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO diz na passagem Cân. 1251:
- ''Guarde-se a abstinência de carne ou de outro alimento segundo as determinações da Conferência episcopal, todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; a abstinência e o jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo''.
Pega a visão:
Não estamos nos referindo ao consumo de peixe por populações ribeirinhas, povos indígenas ou sociedades que dependem da pesca para a sobrevivência, muito menos estamos discriminando alguma religião ou invalidando qualquer forma de manifestação espiritual religiosa.
O questionamento em uma sociedade democrática deve ser encarado com respeito e importância, porque não existe verdade absoluta em meio a tantas possibilidades.