RJ: prisões em operações policiais crescem 300% na Baixada
Aumento aconteceu nos últimos três anos, liderado pela Polícia Militar. Pesquisador propõe “desinvestimento” em polícia
O número de operações realizadas pelas polícias Militar e Civil na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, aumentou 300% nos últimos três anos. Duque de Caxias lidera o ranking. A quantidade de pessoas presas nessas ações também cresceu. PM realizou nove entre dez ações.
Nos últimos três anos, a quantidade de prisões em operações policiais na Baixada Fluminense cresceu 300%. Somente no ano passado, aumentou 53%, mesmo com diminuição de 18% das ações, especialmente da Polícia Militar. Esses e outros dados foram compilados pela Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial, em relatório anual recém-lançado.
No ano passado, a média de presos e de operações das polícias Civil e Militar ficou praticamente igual: pouco mais de três por dia. Das 1.234 ações na Baixada Fluminense, em somente cinco foi apreendido mais de 1 quilo de droga. 22 pessoas morreram e 1.180 foram presas.
O relatório do IDMJ Racial compila dados sobre operações policiais desde 2020. Duque de Caxias lidera o ranking. Há pelo menos dois motivos para a realização do levantamento.
O Instituto de Segurança Pública (ISP), que produz estatísticas, não informa as operações policiais no Rio de Janeiro. Essas ações sofreram restrições desde a pandemia, como usar helicópteros para plataforma de tiros, conforme ação no Supremo Tribunal Federal (ADPF 635).
Procurada pelo Visão do Corre, a Polícia Militar, que realiza 91% das operações policiais na Baixada Fluminense, informou que “as ações da corporação são pautadas por critérios técnicos, planejamento prévio e dentro do previsto na legislação vigente, sempre com a preocupação central de preservar vidas”.
O coordenador-executivo do IDMJ Racial, Fransérgio Goulart, detalha o relatório em seis respostas.
Qual a fonte das informações do levantamento?
São dados retirados do monitoramento das redes sociais oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro e da Polícia Civil, como Twitter, Instagram. A quantidade de ações policiais não é uma categoria do Instituto de Segurança Pública (ISP). Dele usamos as estatísticas drogas, armas e desaparecidos.
Houve pequena diminuição no número de ações policiais no ano passado, por quê?
Uma hipótese é que a diminuição representa um aumento dos desaparecimentos forçados, porque quando não há corpos, não vira dado. Isso é muito importante dizer. No caso da Baixada Fluminense, o projeto de milicialização como política de segurança pública domina quase 93% do território.
O que é milicialização?
As milícias presentes nas casas legislativas, diretamente ou indiretamente, e no Executivo.
O que explica a liderança no número de ações policiais do 15º, 20º e 21º batalhões?
São áreas em que a milícia ainda disputa alguns territórios com o Comando Vermelho. E também, recentemente, por um acirramento dos conflitos entre milícias.
Da perspectiva das operações policiais, que diminuíram, o encarceramento aumentou. Isso demonstra eficiência?
Isso levanta uma hipótese e se relaciona com a seguinte discussão: na perspectiva de privatização do sistema prisional, corpos pretos presos são lucrativos.
Vocês propõem o desinvestimento em polícias, poderia explicar?
Pensar em tirar dinheiro da polícia para colocar em políticas sociais, de educação e assistência, é fundamental. Temos dialogado com organizações pretas dos Estados Unidos, que vem produzindo esse projeto de desinvestimento das polícias. Que não é novo, é um legado dos Panteras Negras: fortalecer o trabalho comunitário tirando dinheiro da polícia.