50 anos de Sabotage: SP terá shows e exposição sobre o rapper
Homenagens a um dos maiores nomes do rap nacional, morto em 2003, começam no mês de abril; filhos do cantor planejam um livro e um filme
O ano de 2023 é importante para o rap nacional. Neste ano é celebrado os 35 anos do primeiro álbum de rap produzido no país, o “Hip Hop Cultura de Rua” (1988), e os 30 anos do primeiro álbum dos Racionais MC’s, o “Raio-X do Brasil” (1993). E também é marcado por duas efemérides ligadas a um dos maiores nomes da cena na década de 1990: o Sabotage.
Em 2023, completam-se 20 anos em que a vida e a carreira de Mauro Mateus dos Santos foram tragicamente interrompidas. Sabotage foi morto na manhã do dia 24 de janeiro de 2003. Nascido em 1973, em São Paulo, ele completaria 50 anos no próximo dia 3 de abril.
É a partir desta data que a família do rapper pretende iniciar uma série de homenagens e celebrações ao legado do Sabota. Entre os planos, estão a realização de um evento com shows e batalhas de rima, uma exposição, o lançamento de um livro e até um filme sobre o cantor.
“Ele tinha um espírito jovem. Se ele estivesse vivo ainda, nem ia parecer que faria 50 anos. Vai ser outra data muito importante, que a gente pensa em fazer algo para não passar batido”, conta Wanderson dos Santos, 30. Filho do cantor, ele é conhecido como Sabotinha ou Sabota Jr.
Wanderson conversou com a Agência Mural alguns dias após a data de 24 de janeiro deste ano. Ele comenta que, além da dor da perda, foi surpreendido com a repercussão que o assunto teve durante aquela semana.
“Já esperava a questão da imprensa dar um toque, querer fazer uma matéria sobre o Sabota, mas não pensava nessa repercussão toda que ia dar. Parece que foi ontem [a morte dele], mas felizmente estamos aqui mantendo o legado dele mais vivo ainda”, diz.
Ele e a irmã, Tamires dos Santos, são os principais responsáveis pelo cuidado com o nome Sabotage. Com DJ Kalfani, filho do KL Jay [integrante dos Racionais MC's], eles mantêm o estúdio Hama Music.
O selo tem como objetivo lançar novos talentos do rap nacional, mas também foi responsável pelo lançamento de uma música póstuma de Sabotagem, “Love Song (A Maior Dor de um Homem)”, em parceria com Mano Brown, em 2018.
No fim de semana que antecedeu o dia 24 de janeiro, a prefeitura de São Paulo promoveu um festival de rap como parte da programação do aniversário da cidade, mas que também foi um tributo ao Sabotage.
“Nós subimos ao palco, agradecemos ao público. Se apresentaram o MC Hariel, Rappin Hood, Negra Li, Tássia Reis, Don L. Tipo, a geração da antiga e a geração de hoje, tava tudo que é público, tá ligado? Foi bem bacana”, conta Wanderson.
As homenagens ao legado de Sabotage começaram mesmo em agosto do ano passado, com a entrega de vários grafites na favela do Boqueirão, no fundão do Ipiranga, zona sul da capital paulista, onde Mauro viveu os últimos anos de vida.
“Ali meio que virou memória. Assim que lançou, ficaram uns dois meses direto vindo visitantes. Vieram uns MCs de funk para fazer clipe em frente. Não é difícil uma pessoa passar pelo beco e não tirar foto ali. E foi bem bacana porque ajudou a comunidade”.
Na época, havia o plano de lançar uma espécie de museu celebrando o trabalho de Sabotage, com previsão de abertura para o mês de janeiro. A ideia, contudo, converteu-se na exposição que está sendo planejada para este ano, mas ainda sem data definida.
“Vamos fazer a exposição no centro da cidade, onde rolou a do Racionais. Fomos lá visitar o lugar e achamos legal”, afirma Sabotinha. O lugar em questão é o Central, antigo Red Bull Station, que fica ao lado da praça da Bandeira, na República.
Já sobre o livro, ele conta que pretende contar mais sobre a vida do Maurinho, como o pai era conhecido entre os amigos, e não tanto sobre o artista Sabotage. “Estamos vendo a editora ainda. Tem duas que estão querendo somar, mas não é nada definitivo, vai depender da união”, completa Wanderson.
O filme também é um material que está em fase de conversas com a produtora, mas sem algo definido também. Certo mesmo é a realização de mais shows e eventos. Um deles foi a entrega do “Palco Sabotage”, no final de janeiro. O espaço fica na Casa de Cultura Chico Science, a poucos minutos da favela do Boqueirão.
A Casa de Cultura na região do Ipiranga foi um dos primeiros lugares que Sabotage cantou no começo da carreira. “Na verdade foi um show do Rappin Hood, que já o conhecia e deu uma oportunidade para ele subir no palco e cantar ‘Rap é Compromisso’”, lembra.
“Rap é Compromisso” também é o nome do único álbum de estúdio gravado por Sabotage, em 2000. Com mais de 1,7 milhões de cópias vendidas, o trabalho conta com participações de artistas como Negra Li, Black Alien, RZO e Chorão.