Alunas da zona sul de SP vão às ruas levar pautas feministas
Estudantes promovem protesto e discussões no Dia Internacional da Mulher em escola do Grajaú, na periferia da zona sul de São Paulo
“Luto, resistência e memória” foi o recado dado na bandeira hasteada na escola municipal de ensino fundamental Padre José Pegoraro, no Grajaú, zona sul de São Paulo, na manhã de 8 de março. A iniciativa fez parte das ações promovidas pelo coletivo Consciência Feminina na Escola (CFE), formado por alunas e ex-alunas do local, para o Dia Internacional da Mulher.
Além da bandeira, as estudantes também espalharam mensagens de combate ao assédio pelos muros da escola, inclusive dentro do banheiro dos meninos. O CFE existe desde 2019, quando sete alunas se organizaram e procuraram a professora de ensino de arte Lucidalva Gonçalves, 38, para receber orientação e apoio junto à gestão escolar.
Até o dia 8, o grupo era formado por doze jovens, com idades entre 13 e 16 anos. A ação feita na escola chamou a atenção de novas estudantes.
“O CFE é um projeto só de meninas, feministas, que lutam pelos seus direitos nas escolas. A gente protesta da nossa forma quando há alguma injustiça. A gente procura fazer cartazes, não só para ajudar as meninas a se amarem, mas também para que os meninos tenham respeito”, conta Emily Gomes, 16.
Emily faz parte do Consciência Feminina na Escola desde o início do coletivo, mas não é mais aluna da Padre José Pegoraro, pois a unidade conta com turmas somente até o nono ano do ensino fundamental.
Porém, o espaço continua aberto para que as ex-alunas consigam se reunir e manter as atividades. “Como agora estamos separadas, cada uma está numa escola diferente, a gente procura trazer um pouco do projeto para as nossas escolas”, explica a aluna.
A maioria das meninas envolvidas no CFE já tinha interesse nas pautas do feminismo antes de se juntarem ao grupo. Marjorie de Oliveira, 16, conta que sempre questionou por que as tarefas domésticas ficam, na maioria das vezes, a cargo das mulheres.
“Sempre tive essa crítica: por que o homem não? Com o CFE, fui vendo as meninas e pensando ‘que projeto legal’, aí me interessei, entrei e evolui muito, não só a minha mente, mas como pessoa também”, conta.
Emily e Marjorie agora estudam na escola estadual Samuel Wainer, também no Grajaú. Lá, as alunas têm se incomodado com as regras de vestimentas impostas pela coordenação e planejaram um protesto para o último dia 8 de março. “A gente não pode usar a roupa que é confortável para a gente”, explica Emily.
Na ocasião, as meninas foram ao colégio vestindo uma calça rasgada e um cropped. Os meninos também se juntaram à manifestação vestindo roupas pretas, representando o luto pela violência contra meninas e mulheres.
Segundo a professora Lucidalva, alguns cartazes chegaram a ser rasgados e foi preciso intervir junto à Diretoria de Ensino para que as alunas pudessem protestar.
Ações não se limitam ao 8 de março
Em 2021, o Consciência Feminina na Escola venceu o prêmio “Criativos da Escola”, do Instituto Alana, na categoria Equidade. O dinheiro dessa premiação permite que as garotas pensem em mais ações para além do 8 de março.
“Hoje elas podem fazer as intervenções com esse dinheiro, nós decidimos juntas para onde isso vai. Tudo que acontece aqui na Pegoraro nós não precisamos gastar porque temos uma gestão que apoia. O que fazemos é apresentar nossas ideias, essa é a facilidade”, explica Lucidalva.
Segundo a professora, a EMEF Padre José Pegoraro é conhecida na comunidade por ser uma “escola de projetos”. O CFE nasceu por iniciativa das próprias alunas, mas a unidade de ensino conta também com o Um País Chamado Grajaú, que envolveu diversas turmas e disciplinas para desenvolver um mapa afetivo da região, e o Padrecast, um podcast produzido pelos estudantes.