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Artista leva mil pessoas da periferia a exposição no Recife

Estreia da mostra Comigo Ninguém Pode, gratuita, triplica o recorde anterior de público na Caixa Cultural

8 jan 2024 - 05h00
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Moradores do Barro, zona oeste do Recife, e de outras periferias, lotaram a exposição de Jeff Alan
Moradores do Barro, zona oeste do Recife, e de outras periferias, lotaram a exposição de Jeff Alan
Foto: Suellen Barbosa/ANF

“Coragem” e “sonhos” são palavras que estampam algumas das 57 telas, 19 inéditas, do artista visual pernambucano Jeff Alan. Mas nem ele sonhou com a quantidade de pessoas na abertura da exposição Comigo Ninguém Pode, em Recife, que segue de graça até o final de janeiro.

“Recebemos um público de mais de mil pessoas, superamos o recorde anterior da Caixa Cultural, que era de 330. Uma marca histórica. Foi muito importante ver as pessoas do meu bairro aqui, pessoas que vieram ao museu pela primeira vez, fazendo questão de dar esse depoimento com os olhos brilhando. Para mim o sucesso é esse, fazer com que as pessoas se enxerguem no meu trabalho”, resume Jeff.

Desde novembro de 2023, a Caixa Cultural do Recife foi ocupada por telas carregadas de sensibilidade, potência e – sim, vamos ter que repetir – representatividade negra e periférica. Os trabalhos de Jeff Alan são representações de personagens reais que vivenciam o cotidiano das periferias do Recife, sobretudo do Barro, zona oeste da capital pernambucana, onde o artista vive desde nascido e mantém seu ateliê.

No início de dezembro do ano passado, a reportagem visitou a mostra Comigo Ninguém Pode e conferiu de perto o lançamento do catálogo impresso. A distribuição gratuita dos 200 exemplares esgotou em 10 minutos. Uma nova tiragem vem aí e alguns visitantes prometem voltar para garantir os seus catálogos.

A favela representada

Alguns dos personagens das obras, em diversas dimensões, variadas técnicas e cores vibrantes, são vizinhos, amigos e conhecidos do artista. Muitos estiveram na exposição e puderam se ver retratados em quadros e murais.

Jeff Alan ficou surpreso e feliz com o público da exposição, gente da periferia que nunca havia entrado em um museu em Recife
Jeff Alan ficou surpreso e feliz com o público da exposição, gente da periferia que nunca havia entrado em um museu em Recife
Foto: Suellen Barbosa/ANF

“Está sendo muito importante encher esse lugar com pessoas pretas, pessoas que foram retratadas aqui, pessoas vivas. Isso não é comum”, observa Jeff Alan sobre um espaço cultural geralmente ocupado por pessoas brancas de classe média. 

Um dos visitantes da exposição, o jornalista Anderson Maia, é morador do bairro de Beberibe, periferia da zona norte do Recife. Foi ao evento por indicação de uma prima.

“É completamente surreal. Me sinto muito orgulhoso em me reconhecer nessas telas, não só enquanto tom de pele, mas também enquanto comunidade, pois são pessoas de periferia, estudantes de escola pública, coisas que fazem parte da minha vivência”, diz Anderson.

Primeira mostra individual

Jeff é daltônico e pinta desde a infância, incentivado pela sua mãe, Lucilene Mendes. Autodidata nas experimentações e desenvolvimento de suas habilidades, faz desenho a lápis, pintura e grafite. Seu trabalho é uma denúncia, protestando por todos aqueles que não se sentem representados nas obras, nos artistas e no público. 

Telas retratam pessoas reais, homenageadas em vida, moradores do Barro, periferia da zona oeste do Recife
Telas retratam pessoas reais, homenageadas em vida, moradores do Barro, periferia da zona oeste do Recife
Foto: Suellen Barbosa/ANF

“Na obra 'O caminho da Escola' eu trago crianças caminhando até os seus sonhos, que poderão ser conquistados através da educação. Mas foi também no caminho da escola que alguns amigos meus foram mortos e não estão aqui vendo a realização do meu sonho. Estão presentes a partir de mim e do meu trabalho”, explica o artista, que realiza sua primeira mostra individual.

Um artista visita a exposição

Para o também artista visual Denis de Lima, 28 anos, conhecido por Argos, a existência da pessoa e da arte de Jeff Alan é uma referência necessária para esta e para futuras gerações. Denis é morador da comunidade do Coque, na Ilha Joana Bezerra, região central do Recife, território estigmatizado pela violência e falta de políticas públicas.

“Me apaixono por cada obra que vejo aqui. Me toca de uma maneira diferente, me inspira ainda mais como artista e me faz perceber que esse sonho não está tão distante, ele é muito real. É como se fosse um ancestral nosso, vivo, fazendo e mostrando a nossa história”, conclui Argos.

Aquele mano que você encontra feliz indo curtir o final de semana está imortalizado por Jeff Alan, da periferia do Recife
Aquele mano que você encontra feliz indo curtir o final de semana está imortalizado por Jeff Alan, da periferia do Recife
Foto: Suellen Barbosa/ANF

Antes desta exposição individual na Caixa Cultural do Recife, Jeff Alan expôs com outros criadores na galeria recifense Urban Arts, e nas galerias paulistas Amparo e A7MA Gallery, além da edição de 2023 da Bienal SP Arte. O artista também esteve em uma residência artística em Portugal, onde realizou outras exposições.

Mas você também pode encontrar Jeff Alan nas ruas, em murais espalhados pelas periferias e áreas centrais da capital pernambucana.

Serviço:

Exposição Comigo Ninguém Pode – A pintura de Jeff Alan

Caixa Cultural Recife - Av. Alfredo Lisboa, nº 505, Bairro do Recife

Até 28 de janeiro de 2024

Entrada gratuita

Visitação: terça a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 10h às 18h

Classificação indicativa: Livre

ANF
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