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Artistas circenses voltam apresentações nas periferias de SP

Cia Trupe Liuds, de Perus, e Circo de Québra, do Jardim São Luís, falam sobre os desafios e cuidados no pós-quarentena

1 abr 2022 - 05h00
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Cia Trupe Liuds atua nas periferias de São Paulo, especialmente em Perus, na zona noroeste
Cia Trupe Liuds atua nas periferias de São Paulo, especialmente em Perus, na zona noroeste
Foto: Ira Romão/Agência Mural

Quando a pandemia da Covid-19 começou, em março de 2020, a Cia Trupe Liuds, de Perus, na zona noroeste de São Paulo, ainda reverberava a alegria de ter tido uma de suas peças selecionadas no FITI (Festival Internacional de Teatro de Inverno), em Moçambique, no sul da África.

A peça infantil, que permitiu que a companhia atravessasse o Oceano Atlântico para se apresentar no continente africano, em junho de 2019, conta a história de “Mjiba - a boneca guerreira”: uma boneca negra que é encontrada em uma caixa por dois palhaços carteiros, que passam a conduzir uma discussão lúdica sobre os problemas enfrentados pelas mulheres negras na sociedade.

“Passamos duas semanas em Moçambique e foi uma experiência muito intensa, enriquecedora e muito conflitante também”, diz Valmir Santana, 32, o Palhaço Torradinho, um dos sete integrantes da trupe.

“Pudemos trocar essa experiência com os nossos companheiros artistas aqui no território. Trouxemos o que chamamos de magia e uma consciência de como preservar a cultura afro-brasileira”, acrescenta.

O grupo teve uma peça selecionada para um festival em Moçambique
O grupo teve uma peça selecionada para um festival em Moçambique
Foto: Ira Romão/Agência Mural

Ao longo da pandemia, a Cia Trupe Liuds, que tem como sede a Comunidade Cultural Quilombaque, também em Perus, teve que migrar as apresentações para o online. Essa mudança fez com eles adotassem a responsabilidade de conscientizar as pessoas sobre o momento pandêmico por meio da arte circense.

“Fomos para a rua bater de porta em porta pelas periferias da cidade levando as mensagens dos palhaços carteiros da peça Mjiba, pedindo que as pessoas se protegessem, usassem máscara e álcool em gel – itens que distribuímos com as histórias e palhaçadas pelas quebradas de São Paulo”, lembra Santana.

Apesar da retomada presencial, os desafios da pandemia ainda não acabaram para os artistas da trupe. Clébio Ferreira, 37, o Palhaço Candango, comenta sobre a primeira apresentação pós-quarentena, realizada em frente ao CCJ (Centro Cultural da Juventude), na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte da capital.

“Foi uma experiência louca porque temos uma interação [de proximidade] com o público e na hora não sabíamos se poderíamos interagir e o público também não. Ficou meio que uma barreira”, conta.

“A pandemia criou essa barreira de parecer que é televisão. Como ficamos muito no online, criou-se uma barreira real que tem que ser quebrada. A cada espetáculo temos tentado derrubá-la e nos aproximar do nosso público”, continua Ferreira.

Durante a pandemia, a trupe conscientizou moradores por meio da arte circense
Durante a pandemia, a trupe conscientizou moradores por meio da arte circense
Foto: Ira Romão/Agência Mural

Outro desafio da retomada apontado por ele está relacionado à performance física e textual da trupe. “Perdemos o preparo físico e, às vezes, o tempo da piada. Estamos retomando essa questão de preparação porque, para nós, o palhaço tem que ser muito dinâmico”, diz.

Com a retomada, o artista acredita que 2022 é um “ano que promete”. “O público está esperando, está a fim de ver, de jogar e de estar junto. O público está esperando arte, então vamos dar arte para ele”, afirma.

Do outro lado da cidade, no distrito de São Luís, na zona sul, o retorno presencial com o público também tem gerado boas expectativas nos integrantes do Circo de Québra. O grupo atua desde 2016, levando espetáculos, intervenções e oficinas circenses para vielas e escadões de diferentes periferias.

Foto: Ira Romão/Agência Mural

O trabalho é desenvolvido por meio de rede: além de integrantes que atuam na organização das apresentações e oficinas, o Circo de Québra também conta com a participação de artistas de outros coletivos e regiões em todos os espetáculos. Assim, as apresentações são sempre únicas.

Com a retomada, Wandré Gouveia, 31, produtor cultural e artista circense idealizador do projeto itinerante, afirma que as intervenções já estão atingindo a mesma quantidade de público que o Circo tinha quando a pandemia chegou.

“Tivemos um processo durante esses anos de formação de público, então, na verdade, o nosso público fiel aqui da viela já estava aguardando há um bom tempo pela nossa retomada”, conta.

Para Gouveia, isso também se dá porque a proposta do grupo já é conhecida. Em parceria com coletivos que já têm alguma atuação nas quebradas, o Circo de Québra busca entender como suas ações podem contribuir e somar com o trabalho que já é desenvolvido por outros grupos.

Foto: Ira Romão/Agência Mural

Sobre a volta, o artista diz que o coletivo está no processo de entender a questão do distanciamento e dos cuidados, tanto da exposição do público que está acompanhando, quanto dos artistas que estão atuando.

“É uma questão de engrenar novamente. Não é um processo muito duro porque era o que estávamos mais sentindo falta. Então foi um alívio poder voltar a fazer coisas presenciais”, relata.

Além de levar a arte circense para as periferias, quebrando barreiras ao se adaptar a esses espaços, o grupo promove ainda atividades com foco no meio ambiente, como hortas urbanas e jardins verticais.

O projeto mais recente foi o Parque de Québra, montado durante a pandemia na Viela matriz do projeto, no Jardim Novo Santo Amaro. A ação, segundo Gouveia, “trouxe alívio para as famílias e as crianças nesse período tão difícil para todos”.

Agência Mural
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