Artistas periféricos expõem grafites sobre figuras negras
Em cartaz no MIS, a mostra tem visitação gratuita até 29 de janeiro e homenageia personalidades como Carolina Maria de Jesus e Emicida
81 artistas periféricos de São Paulo foram selecionados pelo MIS (Museu da Imagem e do Som), na zona oeste da cidade, para ilustrar a exposição “Grandes personalidades negras”. A mostra coletiva traz retratos em grafites de brasileiros famosos, como o cantor Gilberto Gil e a escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), e tem visitação gratuita até o dia 29 de janeiro de 2023.
Moradora do Jardim Lucinda, em São Miguel Paulista, na zona leste, a grafiteira Bianca Gabriele, 24, pintou a cantora Alaíde Costa, considerada uma das maiores intérpretes da MPB (Música Popular Brasileira). “Nos meus traços, procurei evidenciar os aspectos físicos negros predominantes, como lábios, nariz e cabelos”, conta ela, que assina os trabalhos como Flora.
Os participantes da exposição foram indicados pela gestão dos CEUs (Centros Educacionais Unificados), Fábricas de Cultura e outras entidades culturais do Estado de São Paulo. Cada artista ficou responsável por uma figura homenageada – 81 ao todo também.
A artista plástica Stefanie Torelli, 31, conhecida como Fani, retratou o engenheiro André Rebouças (1838-1898), que lutou pelo fim da escravidão no país e defendia uma inclusão social mais plena para as populações escravizadas. “Foi um prazer retratar o primeiro engenheiro negro do Brasil. [Usei] cores bem vivas e traços fortes”, conta ela, que mora no Itaim Paulista, também na zona leste.
As obras originais ficam no museu, mas as reproduções também estão expostas em cerca de cem outros pólos culturais e educacionais de São Paulo – como os CEUs, o Museu Afro Brasil, a Universidade Zumbi dos Palmares e estações do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
O grafiteiro Vauiris Pereira “Sprart”, 42, também morador do Itaim Paulista, acredita que alcançar espaços para expor em museus e equipamentos culturais é fundamental para romper com os múltiplos preconceitos de que grafite não é arte. Quem recebeu a homenagem foi o músico e apresentador Emicida.
“Foi muito legal, pois me identifiquei com ele e com a sua história. Busquei deixar a minha marca registrada de cores vibrantes e os acessórios característicos que o rapper usa. De forma singela, trouxe também um trecho da música ‘Só isso’: enquanto buscam o sentido da vida, eu vivo ela”, cita.
Morador de Pirituba, na zona noroeste, o grafiteiro Rodolpho Gomes, 38, cuidou da representação do Mestre Ataíde (1762-1830). Para ele, foi um desafio retratá-lo, pois pouco se sabe sobre a vida dele, além de haver raros registros fotográficos do pintor. Para isso, teve como inspiração as obras do artista, como “A Última Ceia”, de 1828.
“Muitas obras não foram documentadas. Neste contexto, busquei manter a originalidade do emprego de cores vivas e combinações impactantes que ele empregava. Trouxe muitos splashes de cores, mas também mostrei a minha identidade com o grafismo”, finaliza ele, que assina o grafite como Gesp.
Saiba mais sobre as 81 personalidades negras homenageadas clicando aqui.
Serviço:
Grandes Personalidades Negras (MIS - 1º andar)
Endereço: Av. Europa, 158 - Jardim Europa, São Paulo – SP
Data: Até 29 de janeiro de 2023
Horário: Terça a sexta, das 11h às 19h (com permanência até as 20h); sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (com permanência até as 19h)
Ingressos: Gratuito