Banda afropernambucana Abulidu lança álbum antirracista
Disco de estreia enaltece mulheres pretas, raízes africanas e reúne um time representativo de artistas recifenses
Após disponibilizar, em abril deste ano, o EP "Remix" com as três primeiras músicas de trabalho, Abulidu, banda afropernambucana antirracista, lança seu primeiro álbum, "Códigos Periféricos". Com oito faixas, o disco traz crítica social e política, histórias de Pernambuco, arte brasileira, amor, beleza ancestral, empoderamento e, claro, raízes africanas.
“É a nossa antena pernambucana captando tudo, com seus códigos periféricos. Para engrossar ainda mais o caldo, temos a panela preta na pressão cheia de ingredientes adubada por Buguinha, que é o maior responsável pelos arranjos”, conta o cantor e compositor Hélio Abulidu.
A banda enaltece a cultura preta local, como a capoeira, evidenciando Nascimento Grande, capoeirista recifense conhecido como herói popular, o Brabo dos Brabos. Essa mesma faixa conta com a participação do cantor e compositor Cannibal, vocalista da banda pernambucana Devotos.
Um som para o mundo
Cannibal comemorou sua participação, a qualidade da produção e, sobretudo, o trabalho proposto pela banda. “Estou muito feliz por ter participado desse projeto tão rico, que tem produção de Buguinha, um dos melhores produtores do Brasil. Sem contar que a Abulidu é formada por uma galera jovem, com identidade forte, um propósito social muito bem definido”, analisa Cannibal.
Ele conta que trocou experiências, ensinou e aprendeu. “Espero que eles tenham reconhecimento e espaço na mídia. Se um dia eu abrir o jornal e lá tiver uma matéria sobre eles em um festival na Europa, eu não vou ficar surpreso, porque eles fazem um som para viajar o mundo”, enfatiza.
Conheça algumas faixas do disco
“É o elo do nosso povo. São os 'Diamantes Negros', nome de uma música do disco, cantada com um banho de poesia que atravessa o tempo. Outra faixa, 'Negrarte', é um mantra da arte brasileira”, conta Hélio Abulidu.
Entre personalidades citadas nessa música estão a escritora, compositora e poetisa, Carolina Maria de Jesus e os cantores e compositores Gilberto Gil, Djavan e Milton Nascimento.
Outras personalidades negras aparecem em "Rádio Favela", como Djamila Ribeiro, filósofa, professora, escritora e ativista, além da cantora, compositora, rapper, atriz e instrumentista americana Lauryn Hill.
Mulheres são exaltadas em Códigos Periféricos
A canção "Diamantes Negros" conta com a participação da poetisa Odailta Alves na voz e letra. “Minha experiência nessa construção foi muito linda, a partir da declamação de um poema autoral que apresenta esse lugar da mulher preta se exaltando, exaltando sua ancestralidade, que soma com um álbum tão lindo, tão preto e tão potente”, diz a poetisa.
Segundo Odailta Alves, “a Abulidu está fazendo uma revolução autoral, preta, periférica dentro da cena musical pernambucana e eu tenho muito orgulho de ter sido convidada nesse projeto, que eu espero que voe muito alto”.
A música "Não é Oba Oba é Baobá" faz referência à árvore africana que tem Pernambuco como o seu jardim, depois da África, e cita a comunidade Suvaco da Cobra, de Jaboatão dos Guararapes.
A ancestralidade permeia todo o álbum e ganha destaque na música "Ifé", que significa amor na língua iorubá, amplamente falada na Nigéria.
Pequeno histórico da banda Abulidu
A identidade visual é assinada pelo artista Diego Sidrim. A arte da capa foi produzida pelo pernambucano Adelson Boris, arte-educador, grafiteiro, ilustrador e integrante do Coletivo Pão e Tinta, do bairro Pina, Recife.
Surgida em dezembro de 2019, a banda lançou três músicas antes do disco de estreia. "Quilombo Urbano" e "Abulidu" ganharam videoclipe. O primeiro conquistou o 1º lugar do TOP 20 RNC, em abril deste ano.
O grupo conquistou ainda o segundo lugar geral do Pré-Amp (2020), concurso de música autoral de Pernambuco. No ano passado, tocou na posse do presidente Lula (PT).