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Bloco do Beco promove cultura entre um carnaval e outro em SP

Criado em 2002 no Jd. Ibirapuera, na zona sul, projeto conta com biblioteca comunitária e laboratório audiovisual para impulsionar conteúdos

21 out 2022 - 05h00
(atualizado às 19h24)
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Projeto atua há duas décadas na periferia da zona sul de São Paulo
Projeto atua há duas décadas na periferia da zona sul de São Paulo
Foto: Maloka Filmes/Reprodução

Em 2002, os agentes culturais Carla Arailda, 49, e Luiz Claudio, 49, fundaram o Bloco do Beco com o objetivo de valorizar a cultura do carnaval de rua e realizar um desfile no Jardim Ibirapuera, bairro do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, junto aos sambistas e moradores da região. 

Após o evento, eles notaram a falta de espaços de lazer e cultura na comunidade e resolveram fazer do desfile um espaço cultural. Assim, um ano depois, inicia-se a Associação Cultural Recreativa Bloco do Beco, uma organização sem fins lucrativos que atualmente também conta com biblioteca comunitária e laboratório audiovisual. 

A origem 

Bloco do Beco é uma referência no carnaval de bairro no Jardim São Luís
Bloco do Beco é uma referência no carnaval de bairro no Jardim São Luís
Foto: Maloka Filmes/Reprodução

No início, a associação ficava em um espaço alugado, mas a sede teve que ser devolvida por dificuldades financeiras. Após a participação do Bloco do Beco em um projeto televisivo que apoiava ONGs, a equipe foi premiada e conseguiu recursos para o primeiro ponto de cultura na Favela da Erundina, no Jardim Ibirapuera. 

Hoje esse espaço se tornou a Biblioteca Comunitária Luiza Erundina, com acervo de literatura infantil e infanto-juvenil. Além dele, o projeto também conta com o Ponto de Cultura Bloco do Beco, atual sede da associação cultural, que foi cedida pela associação de moradores do bairro. 

Todos os dias há atividades no local, como oficinas de capoeira, dança, preparação física, judô, canto, forró e maracatu. Também são realizados debates abertos ao público sobre assuntos relacionados à diversidade de gênero, racismo e respeito à memória dos povos indígenas. Há uma circulação mensal de 300 pessoas em média. 

“Não somos apenas um espaço cultural. A gente se coloca como um espaço antirracista, anti-homofóbico e de pluralidade cultural que acredita em todas formas de culturas periféricas e que busca preservar a ancestralidade negra e indigena”, afirma Anabela Gonçalves, 41, socióloga, gestora cultural e atual presidente da sede. 

As oficinas buscam realizar trabalhos coletivos que estimulem a criatividade dos participantes. Algumas delas dão origem a coletivos autônomos – em 2009, a partir de uma oficina de maracatu, surgiu o grupo “Baque de Atitude”, que é formado por alunos da organização. 

Outro projeto em andamento é o IbiraLab, que fica próximo à sede atual e busca impulsionar trabalhos audiovisuais da quebrada, como produção de conteúdos de cinema, jornalismo e fotografia, além de oferecer consultorias de marketing digital para pequenos empreendedores locais. 

Atualmente, o Bloco do Beco conta com 12 funcionários fixos. Alguns tiveram o primeiro contato com o projeto quando ainda eram adolescentes e participavam de oficinas. 

“A maior mudança da minha vida foi entender que eu poderia trabalhar com algo que eu gosto. Com 15 anos, a pegada era de trabalhar com mercado formal, pois só assim você poderia ser alguém”, conta Sabrina de Lana, 26, comunicadora social que entrou na ONG como educanda na adolescência. 

Apresentações culturais são realizadas na biblioteca mantida pelo projeto
Apresentações culturais são realizadas na biblioteca mantida pelo projeto
Foto: Bloco do Beco/Instagram

Eventos na comunidade 

Ao longo dos anos, o Bloco do Beco realizou grandes eventos na região, como festivais gastronômicos, festa junina e o carnaval de rua, que é o carro-chefe do projeto e referência nos desfiles de bairros. O último desfile foi no ano de 2020, antes da pandemia de Covid-19, e conseguiu reunir 5 mil pessoas. 

“Reunir 5 mil pessoas no carnaval não é para qualquer um. E o nosso [desfile] é bem legal, vem famílias e diversas pessoas”, comenta Luiz Claudio. 

Há parcerias para a realização dos eventos, muitas vezes com UBSs (Unidades Básicas de Saúde), Casas de Cultura e Fábricas de Cultura, mas a falta de um apoio financeiro estável impacta na programação e no número de atividades. 

O carnaval, por exemplo, não tem um edital fixo e não há nenhuma lei que garanta a sobrevivência desse tipo de festividade no bairro. Ainda está sendo planejado como será a captação de recursos para a próxima edição. O IbiraLab também ainda não tem incentivo próprio, se mantém em um espaço alugado e está angariando recursos para se desenvolver. 

Bairro educador  

Um dos objetivos da ONG é implementar no Jardim Ibirapuera alguns temas relacionados à Agenda 2030 da ONU – um plano global da Organização das Nações Unidas que estabelece 17 objetivos de desenvolvimento sustentáveis para serem atingidos até o ano de 2030. 

A ideia se chama “Ibira 30” e pretende fazer com que o bairro trabalhe em rede com saúde, educação, comércios e sociedade civil para atingir objetivos como: fazer com que a leitura faça parte da cultura das crianças; pensar nas relações de alimentação e meio ambiente; e criar espaços que resgatem a memória territorial da periferia. “Isso nos foi negado durante muito tempo”, conclui Anabela Gonçalves. 

SERVIÇO: 

Ponto de Cultura Bloco do Beco: Rua Bento Barroso Pereira, 288, Jardim Ibirapuera / Aberto de segunda a sexta, das 9h às 17h  

Biblioteca Comunitária Luiza Erundina: Rua Acédio José Fontanete, 86 - Viela Química - Jardim Ibirapuera / Aberta de segunda a sexta, das 10h às 16h 

IbiraLab: Rua Salgueiro do Campo, 504, sala 01 - Jardim Ibirapuera / Aberto de segunda a sexta, das 9h às 17h 

Site: blocodobeco.org 

Contato: 11 2638-2430 / contato@blocodobeco.org 

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