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Blocos se viram para sobreviver sem carnaval em SP

Na zona sul, Bloco do Beco fez uma mudança em sua sede, enquanto o Jah É, na zona norte, participa de eventos fechados para cobrir gastos

25 fev 2022 - 05h00
(atualizado em 3/3/2022 às 19h33)
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Evento do Bloco do Beco, da zona sul de São Paulo
Evento do Bloco do Beco, da zona sul de São Paulo
Foto: @kaluo_photo

Tradicional bloco de carnaval da zona sul, o Bloco do Beco completa 20 anos em 2022 e desfilaria pelo Jardim Ibirapuera, na região do Jardim São Luís, no próximo sábado (26). O verbo ‘desfilar’ é usado no futuro do pretérito porque, por mais um ano, isso não poderá acontecer.

O carnaval de rua em São Paulo foi cancelado pelo segundo ano consecutivo por conta da pandemia de covid-19. Ao contrário dos desfiles das escolas de samba, adiados para o mês de abril, não há previsão de que os foliões possam curtir o feriado nas ruas da cidade neste ano.

A decisão da Prefeitura de São Paulo foi tomada na primeira semana de janeiro, mas antes disso, mesmo com inscrição feita, a equipe do Bloco do Beco já havia optado por não desfilar em 2022. 

“Em dezembro, o índice de vacinação ainda estava em 70%, se não me engano, e a gente fez uma conta de que teriam cerca de mil pessoas não vacinadas no nosso bloco”, conta Lenon Farias, de 25 anos, produtor cultural e mestre de bateria.

“Achamos isso super delicado e perigoso, porque tem muitos idosos, é um carnaval bem familiar mesmo. Nosso medo de expor essas famílias falou mais alto e, mesmo se houvesse a liberação, talvez não teríamos nosso carnaval”, complementa.

Em substituição ao desfile, o Bloco do Beco optou por derrubar os muros que o separava do Jardim Ibirapuera, literalmente. No último fim de semana, foi feito um mutirão para derrubar o muro na entrada da sede, tornando-a visível a quem passa pelo bairro.

Foto: @kaluo_photo

“A gente tinha o sonho de derrubar porque, mesmo que fôssemos um espaço cultural conhecido no bairro, muitas pessoas passavam e não conseguiam olhar aqui dentro. Era algo que intimidava e elas optavam por não entrar”, afirma Farias.

Após o mutirão, foi feita uma roda de samba com a velha guarda do bloco. “A gente conseguiu ver a absurda diferença, muitas pessoas vinham chegando e se aproximavam. A galera que passava na rua ficava abismada, foi uma coisa bem bacana mesmo”, conta o produtor cultural.

Festas para fechar a conta

Instrumentos do bloco Jah É, da zona norte de SP
Instrumentos do bloco Jah É, da zona norte de SP
Foto: Arquivo pessoal

Na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo, o bloco Jah É, focado em reggae music, se preparava para fazer o terceiro carnaval de rua. Segundo a programação inicial divulgada pela Prefeitura, o Jah É, fundado em 2018, teria desfilado na tarde do último domingo (20).

Neste dia, ao invés do Largo da Matriz da Freguesia do Ó, o bloco se apresentou numa casa de shows na Vila Madalena, na zona oeste da capital. Investir nesses eventos fechados foi a saída encontrada pelos integrantes para cobrir gastos que tiveram na preparação para este carnaval.

“Tínhamos uma base para receber R$ 5 ou R$ 6 mil, divididos entre todos os nossos patrocinadores e apoiadores, que só viriam se houvesse carnaval. E a gente acaba absorvendo custos. Estamos com uma agenda de uns quatro, cinco shows nos próximos 20 dias para ver o que conseguimos recuperar”, conta o presidente do bloco Gustavo Vinicius, 39.

Bloco Jah É, da zona norte de SP, participa de eventos para cobrir gastos
Bloco Jah É, da zona norte de SP, participa de eventos para cobrir gastos
Foto: Arquivo pessoal

Produtor cultural e jornalista de formação, Gustavo se diz contra o cancelamento do carnaval de rua. “Todas as casas de shows estão abertas, com lotação máxima, sem máscaras. Se o povo serve para trazer lucro, para trabalhar, ser explorado até pegar a Covid-19, por que não pode uma festa popular e que tenha uma identificação social muito forte? O carnaval é o nosso maior feriado”, questiona.

Pensando em 2023, o Jah É pretende abrir uma escolinha de bateria a partir de abril deste ano para aumentar a quantidade de integrantes. Atualmente, a bateria do bloco conta com 27 ritmistas, sendo que apenas 12 deles participam das apresentações fechadas.

Agência Mural
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