Script = https://s1.trrsf.com/update-1731009289/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Cantora de Parelheiros interpreta funk e rap em Libras

Conheça o trabalho de Nzambiapongo, que além de traduzir músicas para a língua de sinais também tem músicas autorais lançadas

4 jul 2022 - 05h00
(atualizado às 16h31)
Compartilhar
Exibir comentários
Nzambi iniciou o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais desde pequena
Nzambi iniciou o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais desde pequena
Foto: @nzambiapongo_oficial/Reprodução

Quem curtiu o show das gêmeas Tasha e Tracie no Festival Cena, realizado durante o mês de junho em São Paulo, também acompanhou o trabalho de uma terceira mulher no palco, a intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) Nzambiapongo Brito, 21.

Nzambi, naquela ocasião, chegou a aparecer no telão do festival, para as milhares de pessoas presentes no Sambódromo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, mas ela está acostumada mesmo é com a tela dos smartphones.

O perfil dela no Instagram conta com mais de 17 mil seguidores. É lá onde ela, que também é cantora, “traduz” hits de funk, rap e trap para a língua de sinais. O vídeo em que interpreta a música “Sei que tu gosta muito”, do L7nnon e Biel do Furduncinho, soma mais de 1 milhão de visualizações na rede social.

A produção dos vídeos no Instagram da Nzambi, que é moradora de Parelheiros, extremo sul de São Paulo, começou em 2020, após ela interpretar uma música para os pais dela, que têm deficiência auditiva.

“Uma vez eu estava em casa vendo um clipe do MC Lipi, ‘Vitória Chegou’, e minha mãe viu. No vídeo ele faz alguns sinais, ele não fala em Libras, mas faz [os gestos de] uma casinha de madeira, e minha mãe quis saber o que ele estava falando da casa”, relembra Nzambi.

“Sempre tive vergonha de mostrar para os meus pais o que eu escutava, mas aí falei: 'quer saber, vou mostrar o que escuto mesmo e eles vão gostar'”.

Esse primeiro vídeo soma pouco mais de 2 mil visualizações, mas o sucesso veio mesmo na interpretação seguinte, da música “Homenagem aos Relíquias”, que também conta com participação do MC Lipi.   

 "Minha avó me ligou lá da praia me dando os parabéns. Aí vi que várias pessoas tinham gostado, tinham curtido. E é muito louco porque não sei como isso chegou para elas. Quem me intitulou intérprete não foi eu, foram vocês”, comenta. O vídeo em questão tem mais de 54 mil views.

A partir daí, Nzambi passou a fazer trabalhos como intérprete de Libras em lives e eventos presenciais, mas o foco do conteúdo dela nas redes sociais continuou sendo os ritmos periféricos. “Senti que era uma coisa que gosto de fazer, que senti falta nesse meio, das pessoas traduzirem o funk, traduzirem putaria e o que a gente escuta”, diz.

Libras diferenciadas

O sucesso nas redes sociais veio com o vídeo da música ‘Homenagem aos Relíquias’
O sucesso nas redes sociais veio com o vídeo da música ‘Homenagem aos Relíquias’
Foto: @nzambiapongo_oficial/Reprodução

Nzambi relata que, mesmo entre os intérpretes de Libras, há preconceito linguístico com o dialeto periférico. “Já teve uma professora questionando se eu tinha diploma, porque era difícil falar comigo. Isso me trouxe uma frustração imensa”, lembra.

“As pessoas das periferias que são surdas têm o seu jeito de se comunicar, que é totalmente diferente, totalmente periférico”, complementa.

Foi pensando nisso que Nzambi desenvolveu o Libras Diferenciada, um projeto de formação gratuita para popularizar a Língua Brasileira de Sinais da forma como ela vem apresentando nas redes sociais: repleta de ginga e gírias.

“Vi alguns vídeos em que a pessoa ensinava de uma forma sem vontade. Tem que colocar uma cor, um ânimo. Várias pessoas vieram atrás de mim para aprender Libras porque gostaram dos meus vídeos”, conta.

As aulas foram realizadas no fim do ano passado e começo de 2022 de forma online, mas a meta dela é oferecer o curso em Casas de Cultura pelas periferias de São Paulo.

Nzambi reconhece que houve uma popularização das Libras entre a população ouvinte por conta das lives de artistas durante a pandemia, mas que a forma como os intérpretes apareciam não tinham o destaque devido.

 “Sei que estou fazendo parte de um momento que faz com que as pessoas entendam [a importância das Libras]. Entendo que há pessoas que estavam há muito tempo fazendo isso, mas elas não fizeram mais outras pessoas sentirem vontade de aprender”, explica Nzambi, reforçando o propósito do projeto dela:

“Esse foi o meu intuito, de instigar e incomodar as pessoas a entenderem que as Libras é algo que é nosso”.

Sobre uma das características mais marcantes do dialeto periférico, as gírias, Nzambi conta que às vezes ela mesma cria uma tradução para palavra, mas que em alguns casos ela considera a gíria “bonita demais” para ser traduzida, optando por soletrá-la (apesar de dar mais trabalho).

“Para ‘mandrake’ uso o sinal de malandro. Queria que fosse algo diferente, mas às vezes não tem muito o que mudar e botar muito enfeite. As gírias são muito difíceis de construir. É uma coisa única, de cada um. Às vezes é uma gíria que a gente nunca ouviu”, conta.

Mais que intérprete: cantora

Apesar da Língua Brasileira de Sinais ser a principal fonte de renda atualmente, Nzambi gosta de enfatizar que o foco dela é a música. Como cantora, ela tem um único single lançado até o momento, a música “Todos Vilão”.

Nzambi começou gravando vídeos para o Instagram em 2020
Nzambi começou gravando vídeos para o Instagram em 2020
Foto: @nzambiapongo_oficial/Reprodução

Por ter pais com deficiência auditiva, Nzambiapongo aprendeu a se comunicar por meio de gestos antes mesmo de saber falar. Com medo de que a filha desenvolvesse alguma dificuldade neste sentido, os pais dela fizeram com que ela frequentasse mais a casa da tia.

Foi lá que ela começou a se apaixonar pela música, em especial o funk. “Quando era criança, não podia gostar de funk. Se meus pais me vissem dançando alguma coisa era ‘não, você não pode’. Minha prima vivia no baile funk e eu ficava 'quero ser assim', aí cresci e fiquei pior”, brinca a cantora.

Já a escrita entrou na vida da intérprete durante a adolescência, quando Nzambi começou a fazer aulas de teatro. “Gosto de escrever para ter um entendimento melhor do que está acontecendo na minha vida. Quando escrevo, começo a compreender a fase que estou na minha vida, entender meus sentimentos e organizá-los”.

Além dos vídeos na internet, a intérprete já foi convidada para traduzir as músicas em um palco
Além dos vídeos na internet, a intérprete já foi convidada para traduzir as músicas em um palco
Foto: @nzambiapongo_oficial/Reprodução

A união dessas vivências é a base das composições dela. Nzambi conta que quis se apresentar em “Todos Vilão”, música repleta de influências no rap.

 “Falo que sou uma pessoa que gosta da ‘prata’, que minha família está em primeiro lugar, falo um pouco da minha visão. Gosto de navegar por várias vertentes porque estou me encontrando, mas realmente gosto de funk”, conta.

Após subir ao palco do Festival Cena como intérprete, Nzambi comentou se imagina um dia estar lá novamente com suas músicas. “Só prefiro ter alguém do meu lado interpretando porque senão vai ser uma carga muito pesada – cantar e fazer as Libras – talvez não fique uma coisa do jeito que quero. Teria que treinar bastante, talvez funcione”, finaliza.

Agência Mural
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade