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Carta aberta a MC Ryan SP após a voadora na ex-namorada

Se o funk afronta o sistema, na relação com a mulher ser revolucionário significa ir contra o próprio gênero

29 set 2024 - 18h23
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Resumo
Após o vazamento de imagens de Ryan SP agredindo Giovanna Roque, algum funkeiro seria capaz de se colocar contra a ideia fixa de mulher como sinônimo de “vadia”? Daria mais polêmica do que a ostentação e os apoios políticos.
Funk superou preconceitos, artistas ficaram milionários, mas misoginia parece insuperável. É mais fácil enriquecer do que virar gente?
Funk superou preconceitos, artistas ficaram milionários, mas misoginia parece insuperável. É mais fácil enriquecer do que virar gente?
Foto: Divulgação

Agora deu ruim, né, lindão? Mas não vim te execrar. Há gente suficiente e necessária para fazer a crítica absolutamente legítima, necessária e nunca suficiente. Vim fazer uma sugestão.

E se uma hora dessas, em um momento de compreensão profunda, de aceitação íntima do quanto nós, homens, somos uns idiotas, você fizesse um funk contra a maneira criminosa de tratarmos as mulheres?

Já pensou, Ryan, o quanto seria revolucionário você, um expoente do funk, contrariando o tema fundante do gênero? Do gênero, entendeu?

Não estou propondo uma jogada de marketing. É só o vislumbre de uma possibilidade na proporção de uma em um milhão. Por um momento pensei que, sei lá, alguém podia desencadear a depuração.

Eu pergunto a você, Ryan, na moral, e aos demais funkeiros se, vencido o desafio que parecia impossível, de ganhar dinheiro, o quanto vocês são capazes de promover um avanço civilizatório contra o machismo?

Ou vai me dizer que a presença da mulher no funk é somente como “vadia”? É o máximo que suas canetas poderosas alcançam?

Isto aqui, gordinho, não é ironia gratuita, é consciência do quanto ainda somos uns vermes. No plural, me incluindo, entendeu?

E também não é ironia gratuita porque, do ponto de vista da capacidade de rimar, se a mulher ocupa somente uma posição nas letras, estamos esbarrando em uma limitação do gênero. Do gênero, sacou?

 Quem aí, Ryan, quem aí entre os que pululam nos clipes rodeados de “vadias”, teria condição e coragem de dar a guinada, correndo o risco de ser desacreditado, perder fama, grana, tendo peito para ser um vida loka de verdade?

Já pensou você, Ryan, sempre bem-humorado, aparecendo em clipe de funk de avental, lavando uma loucinha na pia? Dando uma varridinha na sala? Passando um paninho no chão? Servindo uma bebidinha pra ela?

Teria que ser de verdade, mudança de 360 graus, tipo aqueles manos que largam o craque e viram crentes. Teria que ter a profundidade do resultado de décadas de terapia, superando traumas sobretudo sexuais.

Teria que ter essa verdade aí, que vocês expressam quando dizem que geral desacreditou, mas vocês chegaram lá. Não como nos vídeos de desculpas e passapanismos gravados depois dos escândalos.

Eis o grande desafio, porque ficar rico é bem mais fácil e menos importante do que virar gente. E não é só um problema seu, é nosso.

Por isso esta carta é aberta. É pra mim, para os funkeiros, para os machos brasileiros. É sobre a esperança de um pequeno passo para o homem, gigantesco para a humanidade.

Se nós formos capazes de realizar esse avanço para a espécie, evoluiremos algumas eras geológicas e alcançaremos um novo estágio evolutivo.

Chegaremos à nossa Pré-História.

Fonte: Visão do Corre
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