Conheça as Meninas de Sinhá, da favela Alto Vera Cruz, em MG
Às vésperas dos dez anos da morte da fundadora, grupo perpetua melhoria da qualidade de vida de idosas, as envelhecentes
O Grupo Cultural Meninas de Sinhá foi idealizado por dona Valdete Cordeiro, defensora de mulheres idosas – ou melhor, envelhecentes – da favela Alto Vera Cruz, região leste de Belo Horizonte. Embora criado em 1996, suas raízes são do final da década de 80, com os encontros promovidos pelo projeto Lar Feliz.
Dando sequência ao idealismo e preocupação de dona Valdete, o projeto busca entender os problemas comuns de mulheres na maturidade, suas dificuldades, necessidades e angústias. Além do resgate de memórias e saberes dos idosos e da preservação da cultura popular através de músicas, cantigas de roda, brincadeiras, encontros e oficinas, a organização tem a missão de promover qualidade de vida às envelhecentes, que têm entre 61 e 87 anos.
Dona Valdete deixou registrado o que mais a motivou. Em entrevista do jornal O Estado de Minas em 2013, um ano antes de morrer, ela contou que trabalhava no Centro de Atendimento ao Menor do Bairro Alto Vera Cruz (CIAME). Passava sempre em frente ao posto de saúde e observava as mulheres saindo com sacolas de remédios antidepressivos.
“Elas tomavam remédio para comer, para dormir, para preocupação, enfim, para viver, e isso me entristecia. Então comecei a conversar com elas, que me diziam que tomavam remédios porque se sentiam angustiadas, tristes. Comecei a notar que precisavam melhorar a autoestima e cuidar mais de si mesmas”, explica a líder comunitária que viveu entre 1938 e 2014.
Atividades culturais e lúdicas construíram o grupo
A convite de dona Valdete, as senhoras começaram a se reunir semanalmente. No início, foi difícil: os encontros reuniam apenas quatro pessoas. “Elas diziam que tinham mais o que fazer, uma até chegou a me dizer que o tanque estava cheio de roupa para lavar. Com o tempo, uma foi influenciando a outra e trocando conhecimentos, como artesanatos de fuxicos, tapetes, bichinhos e bonecas”.
Além de terapêuticas, as atividades rendiam um ganho extra. Mas faltava algo para atingir o principal objetivo das reuniões, pois elas ainda faziam uso de antidepressivos. Assim foi implantada a dança, expressões corporais, brincadeiras de infância, como chicotinho queimado, passa anel, barra manteiga e brincadeiras de roda.
Muitas dessas mulheres não tiveram a oportunidade de brincar quando crianças devido ao trabalho precoce. Mas passaram a curtir a infância nas atividades do grupo. Mudaram o astral, ficaram felizes e se fortaleceram em conjunto.
Apresentações tiram idosas do sedentarismo
A atual coordenadora, Patrícia Lacerda, fala da emoção de ser convidada por dona Valdete para trabalhar com o grupo e sobre a reação do público diante das apresentações do Grupo Cultural Meninas de Sinhá.
“As pessoas ficam encantadas com a força delas e comentam sobre a mãe, a avó e a tia que estão em casa com depressão, não têm essa alegria. E aí elas dão conselhos, para que não deixem elas assim, que as levem para realizarem alguma atividade”, conta Patrícia.
Durante a trajetória das Meninas de Sinhá, elas organizaram diversas oficinas gratuitas, palestras e apresentações, tanto para a comunidade, quanto em instituições de longa permanência para idosos, além de escolas, hospitais e creches de Belo Horizonte.
Uma lista de prêmios recebidos
As atividades chegaram a mais de 30 cidades do Brasil e em dois festivais no exterior. As premiações são diversas, a exemplo do Registro como Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social e o Prêmio Zumbi de Cultura.
Ganharam ainda o Prêmio Melhor Grupo Categoria Regional, do Prêmio TIM de Música, além do Prêmio Cultura Viva, 2ª edição, e o reconhecimento como Projeto Social de Impacto pelo Baanko Challenge. Quer mais? Foram reconhecidas como Utilidade Pública Municipal de Belo Horizonte.
Hoje a organização dá continuidade à missão de realizar projetos de assistência social e cultural, fortalecendo e valorizando o potencial do público envelhecente, promovendo o desenvolvimento pessoal, o empoderamento e a geração de renda.