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Conheça Hell Boy, o roqueiro carnavalesco. “Meu forte é o bordado”

Ele é referência em bordados de fantasias de bate-bola no Rio de Janeiro e neste ano coloca sua primeira turma na rua

19 fev 2025 - 14h54
(atualizado em 20/2/2025 às 14h28)
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Resumo
Flávio de Azevedo, conhecido como Hell Boy, tem duas paixões na vida: o rock e o samba. Ganha a vida trabalhando para turmas de bate-bola e se diverte com sua banda Macacos me Mordam. Emotivo, conta como é seu trabalho e como vê as mudanças no carnaval suburbano.
Bordador dos mais requisitados das turmas de bate-bola no Rio de Janeiro, Flávio de Azevedo é conhecido como Hell Boy.
Bordador dos mais requisitados das turmas de bate-bola no Rio de Janeiro, Flávio de Azevedo é conhecido como Hell Boy.
Foto: Arquivo pessoal

Flávio de Azevedo, 50 anos, é um cara emotivo. Chora quando lembra do pai ao ouvir Legião Urbana, chora ao saber que sua aluna de bordado, com deficiência motora, toma menos remédio controlado porque está bordando. Conhecido como Hell Boy, ele é um dos principais bordadores de fantasias de bate-bola no Rio de Janeiro.

Nascido e criado em Paciência, zona oeste da capital fluminense, o começo da sua carreira também é emocionante. Filho de costureira, “não tinha condições para comprar adereço, ficava olhando as fantasias do pessoal. Eles brincavam de noite, de manhã eu ia com copinho descartável catando paetê, lantejoula, penas”.

Foi criado numa quebrada com ruas sem asfalto e esgoto a céu aberto. Começou criança e não parou mais. A dedicação à profissão o deixou sem sua própria fantasia no Carnaval, e está inchando as pernas de tanto ficar sentado. O trabalho é duro.

Obra de saneamento em Paciência. Quebrada onde Hell Boy nasceu e vive ainda precisa de melhorias na infraestrutura.
Obra de saneamento em Paciência. Quebrada onde Hell Boy nasceu e vive ainda precisa de melhorias na infraestrutura.
Foto: Beth Santos/Prefeitura do Rio de Janeiro

Trabalho o ano inteiro, e na quarta-feira de cinzas estou iniciando outros trabalhos. Sento na sala ouvindo samba enredo, com ventilador em cima, e mando ver”. Ainda assim, encontra tempo para fazer um som com sua banda de rock, Macacos me Mordam.

Um homem bordando?

O apelido Hell Boy surgiu porque Flávio deixava o cavanhaque parecido com o personagem dos quadrinhos e do cinema. Outra semelhança, o cabelo grande, era preso nos bailes funk de corredor – formado por filas de pessoas, precisava ter coragem para passar no meio. “Eu ia pra briga”.

Além dos bailes, curtiu rock. Legião Urbana é a referência desde quando se chamava Aborto Elétrico. “Tenho muito mal o ensino médio”. Hell Boy casou, teve dois filhos, e foi se especializando como bordador de bate-bolas. Hoje é respeitado e transita por várias turmas. “Meu forte é o bordado, na costura sou muito preguiçoso”, diz.

Samba e carnaval correm nas veias de Flávio de Azevedo, o Hell Boy. Bordados é um trabalho artesanal.
Samba e carnaval correm nas veias de Flávio de Azevedo, o Hell Boy. Bordados é um trabalho artesanal.
Foto: Arquivo pessoal

“Sou bem requisitado, graças a Deus. O pessoal conhece meu trabalho, sabe da minha responsabilidade, sabe que entrego tudo no prazo”. A paixão pelo bate-bola pode colocar o bordador atrasado em perigo. “Você está mexendo com o sonho da pessoa, ela espera o ano inteiro”.

Geralmente, quem borda bate-bolas são homens. “Para você ter ideia, eu sou professor de bordado numa ong feminina. Só em Paciência, tem uns dez costureiros de fantasias”, diz Hell Boy.

Valores e mudanças nos bordados de bate-bola

Imagens de desenhos animados são comuns nas fantasias de bate-bola. Flávio usa miçangas, glitter, purpurina, cola, tecidos e linhas de várias cores. O trabalho manual quase não tem concorrência, mas uma mudança recente, em relação ao tecido colorido, o paetê, incomoda Hell Boy.

“Pela escassez de paetê, estão migrando para a sublimação de estampas, uma espécie de estampa feita em máquina, que sai colorida, com brilho, estão colocando na casaca. Eu me preocupo pelo seguinte: o bordado é um trabalho manual, não tem como fazer na máquina, é um paetê e uma miçanga, volta, coloca outro”.

O garoto que juntava restos de fantasia após o desfile hoje vive de bordar fantasias de bate-bola. “Não atraso”.
O garoto que juntava restos de fantasia após o desfile hoje vive de bordar fantasias de bate-bola. “Não atraso”.
Foto: Arquivo pessoal

Um bordado em torno de um metro, custa R$ 600,00. Menores, a metade. A fantasia de bate-bola inclui ainda pano, costura, máscara, meião, tênis (o mais caro de tudo, pois é customizado). Há fantasias que podem custar R$ 3.500,00, como da turma Playboy, de Realengo. Outra fantasia, da Eufrazino, de Campo Grande, sai por volta de R$ 2.000,00.

Um crítica e duas alegrias de Hell Boy

“A única coisa que me chateia é a vaidade. Tem pessoas muito orgulhosas, que gostam de menosprezar as turmas que estão começando, ou algum amigo que sai com bate-bola repetido. Eu não sou fã disso”, diz Hell Boy.

Passou a época dos bailes de corredor, das brigas com outras turmas de bate-bola. Até novela da Globo, Volta por Cima, está retratando o carnaval tipicamente suburbano. “A galera que pegou a época braba de briga, de rivalidade, está vendo que não é nada disso. Carnaval é para ser brincado”.

Outra alegria? Neste ano, ele coloca sua primeira turma de bate-bola na rua, naturalmente chamada Hell Boy. “A gente está em alta”, diz, confiante. E em paz.

Fonte: Visão do Corre
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