Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Domingo é dia das periferias dançarem k-pop na Liberdade

No bairro japonês, Centro Cultural São Paulo atrai praticantes de diversas danças. Aos domingos, predomina o k-pop coreano

19 mai 2024 - 05h00
(atualizado às 12h39)
Compartilhar
Exibir comentários
Resumo
Grupos de dança de k-pop treinam nos corredores e áreas abertas do espaço cultural localizado na Liberdade, bairro historicamente preto, japonês no último século, e com crescente influência coreana. Jovens de diversos bairros periféricos de São Paulo, da Região Metropolitana e de outros estados se reúnem para ensaiar aos domingos, fazendo jus ao sucesso de bandas coreanas como BTS, Blackpink, Twice e Exo. Alguns querem competir, e todos gravam vídeos para a internet.
Grupo Rivotrixes tem componentes de São Mateus, zona leste de São Paulo, além de Osasco e Santo André
Grupo Rivotrixes tem componentes de São Mateus, zona leste de São Paulo, além de Osasco e Santo André
Foto: Su Stathopoulos

Domingo é o dia: quem passa em frente ao Centro Cultural São Paulo até 10 horas da manhã presencia a aglomeração de jovens ansiosos na calçada. Mal esperam o segurança liberar e entrada. Quando libera, a galera invade “parecendo Jogos Vorazes”, descreve uma jovem dançarina.

Ela vem de Guarulhos e passa o dia ensaiando k-pop no Centro Cultural, localizado no bairro da Liberdade, culturalmente japonês, mas com crescente presença coreana, a exemplo da dança baseada na música de bandas como BTS, Blackpink, Twice e Exo.

A quantidade de dançarinas, dançarinos e dançarines, o tempo de formação dos grupos, o interesse em competir ou gravar vídeos para internet, assim como a quantidade de seguidores nas redes sociais, variam.

O Centro Cultural São Paulo lota de jovens ensaiando k-pop aos domingos. A maioria vem de bairros distantes do centro da capital paulista
O Centro Cultural São Paulo lota de jovens ensaiando k-pop aos domingos. A maioria vem de bairros distantes do centro da capital paulista
Foto: Su Stathopoulos

Desistências, rearranjos e novas formações são constantes. Mas, independente das variações, todas, todos e todes vêm de longe para ensaiar k-pop no Centro Cultural São Paulo. O Visão do Corre esteve duas vezes lá e conversou com integrantes de vinte grupos.

Entre os entrevistados, quem mora mais perto é Lucas Vinícius, no Bom Retiro, integrante do grupo KDT. A maioria vem da periferia da capital, de cidades da região, interior e até de outros estados.

Para conseguir um lugar ao sol, nos corredores ou no pátio aberto do Centro Cultural São Paulo, tem que chegar cedo
Para conseguir um lugar ao sol, nos corredores ou no pátio aberto do Centro Cultural São Paulo, tem que chegar cedo
Foto: Su Stathopoulos

Geral vem de longe para dançar k-pop

O Centro Cultural São Paulo, na Liberdade, está mais próximo da avenida Paulista do que do centro turístico do bairro japonês.

A maioria chega ali de locais distantes como Sapopemba, Artur Alvim, Guaianases e São Mateus, na zona leste; Guarapiranga, Capão Redondo e Parelheiros, na zona sul; Vila Medeiros e Brasilândia, na zona norte.

Chegam também de cidades da Região Metropolitana, como Ferraz de Vasconcelos, Jandira, Jundiaí, Osasco, Santo André e Guarulhos, a exemplo do grupo Morning Flare.

Em geral, jovens ficam o dia inteiro no ensaiando no Centro Cultural São Paulo, mas a gravação de vídeos é na Avenida Paulista
Em geral, jovens ficam o dia inteiro no ensaiando no Centro Cultural São Paulo, mas a gravação de vídeos é na Avenida Paulista
Foto: Su Stathopoulos

Reunidos há dois anos, têm integrantes do centro da cidade e dos bairros Cabuçu e Pimentas, periferias de Guarulhos. Aos finais de semana, saem de suas casas rumo ao ponto de encontro, a estação Tucuruvi, primeira da linha azul do metrô, já em São Paulo.

De lá viajam quatorze estações até Vergueiro, cuja saída fica ao lado da entrada do Centro Cultural São Paulo. Se quiserem garantir um lugar para ensaiar, precisam chegar antes de 10 horas da manhã. E lá ficarão o dia inteiro.

Diversidade dos grupos de k-pop

O Black Mystery está começando. A líder, Suzana Karla, quer “dançar até o corpo não aguentar mais”. Ela veio de Fortaleza para São Paulo e mora em Interlagos. Procurou onde dançar e encontrou o Centro Cultural São Paulo em redes sociais. O grupo tem seis integrantes, que fazem os primeiros ensaios para se apresentar e competir.

Há grupos mais estruturados, com longa caminhada e prêmios no currículo, como Standout Dance Crew, com 12 anos de existência e 30 pessoas dançando. “Começamos em 2012, não tinha muitas pessoas no Centro Cultural São Paulo dançando k-pop. Agora, é lotado”, relembra Júlia Fernandes.

O grupo reúne integrantes do Campo Limpo, Parada de Taipas, Vila Medeiros e Brazilândia, quebradas da zona sul, noroeste e norte de São Paulo, além de Jundiaí.

Jovens dançam k-pop e celebram diversidade de gêneros, estrutura, quantidade de integrantes e tempo de existência dos grupos
Jovens dançam k-pop e celebram diversidade de gêneros, estrutura, quantidade de integrantes e tempo de existência dos grupos
Foto: Su Stathopoulos

“O Centro Cultural sempre foi um local onde a gente se encontra e se sente aceito”, resume Noemi Oliveira, 21 anos, uma das dez integrantes do grupo Wonder Phoria, com gente de quebradas paulistanas como Capão Redondo, Parelheiros, Guaianases, Vila Prudente, além da cidade de Jandira.

Ainda sobre o local preferido para dançar k-pop em São Paulo, “é um dos únicos que dá pra dançar sem as pessoas ficarem olhando com preconceito, achando que é loucura”, diz integrante de um quarteto formado há seis meses na zona leste da capital, em Artur Alvin, o Your Glow.

O k-pop dissemina nomes em inglês, como Insomnia Dance, com pessoas da Região Metropolitana e da zona sul de São Paulo, e Red Love, formado por jovens de Perus, Itaquera e Capão Redondo, quebradas paulistanas, e Osasco, vizinha à capital.

Por que o Centro Cultural Vergueiro?

Há pelo menos três atrativos para jovens dançarinos de k-pop. O primeiro é a facilidade de acesso pelo metrô: a saída da estação Vergueiro é literalmente colada à entrada do Centro Cultural São Paulo.

Nele, há corredores com paredes de vidro que dão para a área aberta, e os grupos podem observar, do lado de dentro ou de fora, o ensaio refletido, recurso fundamental para afinar a sincronia.

A galera se divide conforme as próprias divisórias dos vidros, uma marcação informal, mas muito evidente, dos espaços ocupados. 

Um motivos de atração ao Centro Cultural São Paulo são as divisórias de vidro que refletem os movimentos, recurso indispensável para ensaiar
Um motivos de atração ao Centro Cultural São Paulo são as divisórias de vidro que refletem os movimentos, recurso indispensável para ensaiar
Foto: Su Stathopoulos

Quer mais? Ninguém paga nada, o que explica a aglomeração de jovens esperando a liberação da entrada às 10 horas da manhã de domingo. Se chegar tarde, dançou.

Há outras vantagens, como banheiro, água e tomadas para recarregar celulares, tocar rádios e caixas de som de jovens na faixa dos vinte anos. 

São fãs de grupos de k-pop dos quais reproduzem, recriam ou somente usam as músicas para coreografias ensaiadas à exaustão. “Se fosse para dançar pra gente, dançava em casa”, diz uma integrante do Morning Flare.

O rolê consiste em chegar cedo ao Centro Cultural São Paulo, treinar o dia inteiro, exaustivamente, e depois gravar vídeos para a internet
O rolê consiste em chegar cedo ao Centro Cultural São Paulo, treinar o dia inteiro, exaustivamente, e depois gravar vídeos para a internet
Foto: Su Stathopoulos

Mais que campeonatos, para internet

Os ensaios têm dois objetivos principais: participar de campeonatos e gravar vídeos para internet, indispensáveis para qualquer grupo.

A interação presencial conflui para a virtual e as postagens de performances dançando k-pop é tão fundamental, que alguns grupos focam somente nos canais de vídeo e redes sociais.

“A gente está vendendo nossa imagem”, diz Rafaella Oliveira, 21 anos, moradora da Granja Julieta, zona sul de São Paulo. Ela integra o grupo War Zone, com mais de vinte integrantes e diversidade de gênero.

Nem sempre os grupos pretendem competir, mas todos fazem vídeos para a internet, onde a competição pela melhor performance também acontece
Nem sempre os grupos pretendem competir, mas todos fazem vídeos para a internet, onde a competição pela melhor performance também acontece
Foto: Su Stathopoulos

O grupo Rivotrixes, cujo foco é o Instagram, produz dois vídeos por semana e, segundo William Damasceno Pereira, 24 anos, “fazemos nosso marketing e servimos como marketing do Centro Cultural também”.

O cenário preferido para os vídeos é a Avenida Paulista, ali pertinho. Segundo vários relatos, ela lembra os espaços em que geralmente são gravados os videoclipes de bandas de k-pop, com prédios futuristas ao fundo e gente bonita passando.

Bem diferente dos ensaios suados de domingo no Centro Cultural São Paulo, onde cola a juventude das beiradas da cidade, com roupa fuleira e tênis surrado, vinda de transporte público para ocupar um espaço geográfico e simbólico central.

Fonte: Visão do Corre
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade