Escritor que vendeu 10 mil livros sozinho abre editora
Barraco Editorial começa com livros de bolso vendendo pelas redes sociais e nas ruas, calçadas, praças e feiras
Wesley Barbosa, escritor preto originário das quebradas de Itapecerica da Serra, região Metropolitana de São Paulo, está dando mais um passo para autonomia do processo, ou melhor, do progresso editorial: autor que é sua própria livraria, vendendo livros pelas ruas e redes sociais, torna-se agora sua própria editora, com a Barraco Editorial. Por ela, quer reeditar suas obras e publicar autoras e autores periféricos.
A Barraco Editorial estreia com livros de bolso. O primeiro é O Rebento do Ódio, publicação em livro do conto que saiu em julho na revista Piauí. Os próximos lançamentos devem ser dois livros lançados no ano passado, Parágrafos Fúnebres e Viela Ensanguentada, o primeiro romance de Wesley Barbosa.
O jornalista e escritor Xico Sá, que escreveu o prefácio de O Rebento do Ódio, é um fã do escritor, e declara que a literatura de Wesley Barbosa “tem a marca existencial dos viventes e sobreviventes das margens (nada plácidas) da sociedade. O autor revela as dores e os desencontros do mundo, com se Lima Barreto trocasse os subúrbios ferroviários do Rio por uma São Paulo de 2023. Sou fã da sua escrita e da sua enorme capacidade de fazer circular os seus livros, sempre apostando no encontro direto para convencer os leitores e leitoras”.
O esquema da editora é o mesmo do escritor: constância nas redes sociais e muito pé no chão, literalmente, pelas ruas, onde é encontrável com, no mínimo, sua mochila cheia de livros. Quando a estrutura toda está montada, há mesinha e banquinho em alguma calçada, praça ou feira.
A ideia e a possibilidade da Barraco Editorial ser fundada tem relação direta com a editora Selo Povo, do escritor Ferréz. Em 2016, ele apostou no livro O Diabo na Mesa dos Fundos, de Wesley Barbosa. “Ele acreditou no livro, bancou mil exemplares, depois me cedeu os direitos, por causa disso eu consegui continuar.”
As parcerias são fundamentais, como a que rola com o designer Andrés Nigoul, criador do logotipo da Barraco Editorial e responsável pela concepção gráfica dos livros e outros materiais. Ele conheceu o trabalho de Wesley Barbosa por acaso, lendo o livro O Diabo na Mesa dos Fundos.
Aí procurou o escritor na internet e, por um acaso quase inacreditável, o encontrou em uma manifestação na Avenida Paulista. “A partir daí, começamos a fazer amizade, sonhar, temos muitos projetos”, como a Barraco Editorial.
Wesley Barbosa concedeu entrevista ao Visão do Corre.
Por que alguém optaria por publicar na sua editora?
Como autor periférico, conheço bem as dificuldades de publicar e até mesmo ter algum tipo de contato com editores. O fato é que a Barraco Editorial nasceu de uma necessidade de sobrevivência no mercado editorial: então, a princípio, eu criei para reeditar meus livros e agora tem chegado muitos autores querendo saber como publicar. A vantagem é que sou escritor apaixonado por livros e o livro que cair nas minhas mãos e eu gostar, vou apostar como se fosse meu.
Como pretende editar os livros?
Vai ter boa capa, bom projeto gráfico, boas revisões, o livro tem que ter todas essas qualidades. Eu conheço bem o processo, da minha própria experiência. A princípio, não tem distribuição nas livrarias. Estou fazendo a editora na raça, sem edital, com a venda dos meus próprios livros. Não tenho nenhum tipo de apoio a não ser a minha vontade de continuar seguindo na literatura. Não é uma editora que você vai encontrar na avenida Paulista com um escritório. O escritório está na minha cabeça.
Não tem espaço físico?
Não. O escritório é realmente dentro da minha cabeça porque, quando eu não tinha nem caderno para escrever, fui lá e acreditei, e hoje tenho a minha própria editora. Estou fazendo e está dando certo. Meu sonho era apenas publicar meus livros, mas quando as coisas começaram a ficar mais difíceis, eu decidi abrir a Barraco Editorial, que também é uma referência ao barraco onde morei e lia à luz de vela, quando faltava luz elétrica. Dei este nome para simbolizar a luta que é poder continuar no mercado editorial excludente.
O esquema é o mesmo que faz com seus livros?
É um passo após o outro. Passos de formiguinha. A minha ideia é ter os meios de conseguir publicar de uma forma mais autônoma. Dessa forma eu estou conseguindo viver somente dos livros.
Serviço
O Rebento do Ódio, do escritor Wesley Barbosa, obra que inaugura a Barraco Editorial, está em pré-venda através do Insta @barbosaescritor e @barraco952