Exposição 'Crias Que Criam' reúne artistas periféricos cariocas
Criadores são da Baixada Fluminense e expõem pinturas, ilustrações, lambe-lambes, fotografias e esculturas
"Crias Que Criam" é a exposição de abertura da recém-inaugurada Ainda Galeria de Arte, espaço destinado a fomentar o desenvolvimento e crescimento de artistas independentes no competitivo mercado da arte no Rio de Janeiro.
Com participação de artistas majoritariamente negros da Baixada Fluminense, e com diferentes repertórios, "Crias Que Criam" visa mostrar a pluralidade da periferia carioca. São pinturas, ilustrações, lambe-lambes, fotografias e esculturas que montam um panorama atual e representativo da periferia. As criações tratam de temas como mobilidade urbana, ancestralidade, infância e funk carioca.
Segundo o curador João Paulo Ovidio, a exposição coletiva representa uma oportunidade singular de reunir obras de quem têm criado novas imagens do Rio de Janeiro, diferentes da paisagem turística, idealizada e estampada nos cartões-postais.
Segundo ele, a curadoria da exposição mostra que não existe “a representação da periferia”, no singular, como se toda rua, casa, pessoa, grupo ou vivência fosse igual. São periferias, sempre.
Entender a Baixada Fluminense como periferia
Silas Sena, de Nova Iguaçu, é artista visual e urbano, membro do coletivo BXD Lambe, e de graduando em Belas Artes na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Ele vê a participação do coletivo, que geralmente atua na rua, como uma oportunidade de adentrar os espaços de galerias, que normalmente abrigam outros tipos de arte.
O artista acredita que uma exposição com maioria de artistas baixadenses diferencia a cena, pois as oportunidades locais dentro das artes visuais são escassas. “É muito legal, faz a gente entender a Baixada Fluminense como periferia. É uma periferia muito unida, muito própria. É muito satisfatório para gente acessar esse lugar.”
Pietra Canle, 25 anos, de Nova Iguaçu, artista e educadora, também do coletivo BXD Lambe, celebra o fato de estar expondo ao lado de artistas com origens parecidas com as dela. “É muito importante para o nosso fazer artístico enquanto um coletivo da Baixada, que utiliza o território para criar, pensar arte, fazer arte.”
Ainda Galeria de Arte
A sede física da Ainda Galeria de Arte foi inaugurada no dia 26 de agosto deste ano, mas o projeto existe virtualmente desde 2021. O intuito era a venda de obras de artistas independentes para todo o Brasil. Seja no espaço físico ou virtual da galeria, no centro do Rio de Janeiro, ou em outros locais, a iniciativa realiza exposições, ações e incursões fomentando a arte autônoma.
A galeria é idealizada por Kariny Fenelon, 22 anos, natural de Nova Campinas, distrito de Duque de Caxias, atualmente moradora de Botafogo.
A inspiração para criar a Ainda Galeria de Arte na internet e em meio à pandemia de covid-19 surgiu da difícil experiência de um amigo de infância, Edu Ribeiro, que está na exposição Crias que Criam. Também de Caxias, ele é artista plástico e enfrentava dificuldades para monetizar seu trabalho.
A proposta do projeto virtual reuniu dez artistas independentes no ano da fundação. Atualmente, são 25, quase todos crias de comunidades periféricas do estado do Rio de Janeiro. A meta é tornar o trabalho itinerante, com exposições por todo o Brasil.
Serviço
A exposição Crias que Criam, com curadoria de João Paulo Ovidio, 28 anos, morador de Duque de Caxias (RJ), mostra o trabalhos de Ayra Aziza, BREU, Bruna Gomes, Silas Sena e Pietra Canle (do coletivo BXD Lambe), Edu Ribeiro, Flavia Adriano, Jônatas Moreira, Juan Calvet, Juan Pablo, Karine de Souza, Marcos Aurélio, Monique Ribeiro e Viviane Laprovita.
- A mostra fica em cartaz até 21 de outubro, com entrada franca. A Ainda Galeria de Arte funciona de quarta a sexta-feira, das 11h às 18h, e sábado até às 15h. Rua da Quitanda, nº 83, segundo andar, centro do Rio de Janeiro. É necessário agendar a visita pelo site.