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Livro sobre Mulher de Roxo resgata andarilha de Salvador

Lenda urbana, pouco se sabe sobre a mulher real que perambulou por quase 40 anos pelo centro histórico da capital baiana

6 ago 2024 - 11h00
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Resumo
A Mulher de Roxo despertava curiosidade, admiração, perplexidade, respeito, compaixão, receio, e nas crianças, medo. Foi imortalizada em painel da Assembleia Legislativa da Bahia, inspirou personagem de Glauber Rocha, virou música e clipe de Pitty e Cascadura e peça teatral. Apesar de conhecida, pouco se sabe sobre sua história fora das ruas. Adson Brito do Velho mergulhou nessa trajetória de vida e escreveu Quem Tem Medo da Mulher de Roxo?
A Mulher de Roxo perambulou pelo Centro Histórico de Salvador, especialmente pela Rua Chile, por quase quatro décadas.
A Mulher de Roxo perambulou pelo Centro Histórico de Salvador, especialmente pela Rua Chile, por quase quatro décadas.
Foto: Tribuna da Bahia

Possivelmente nascida em Salvador em 1917, a Mulher de Roxo perambulou por quase quatro décadas pela Rua Chile, no Centro Histórico de Salvador. Seu ponto predileto era em frente à Casa Sloper, onde pediu esmolas entre 1960 e 1997, quando morreu.

Era também conhecida como A Dama da Rua Chile. Tinha a voz infantilizada e era inofensiva. Mas sua presença despertava estranheza: na maioria das vezes, trajava vestes roxas ou pretas, que pareciam o hábito de uma freira.

Com um enorme crucifixo pendurado no pescoço, em raríssimos momentos aparecia vestida de noiva, segurando um buquê de flores, fortalecendo a versão de que fora abandonada pelo noivo no altar. Poderia também ter se apaixonado por um padre, sem ser correspondida.

Mulher de Roxo despertava curiosidade, admiração, perplexidade, respeito, compaixão, receio. Mas era pacífica.
Mulher de Roxo despertava curiosidade, admiração, perplexidade, respeito, compaixão, receio. Mas era pacífica.
Foto: Divulgação

Talvez tenha enlouquecido por perder tudo no jogo. E há ainda duas versões trágicas: teria presenciado a mãe matar o pai ou sua casa, na ladeira da Montanha, pegou fogo.

O nome dela? Doralice, Florinda, Nair, Sandra. Suposições. Pouca coisa se sabe com certeza. Ela viveu no Albergue Noturno mantido pela prefeitura, na Baixa dos Sapateiros, onde hoje funciona o Posto de Saúde Pelourinho.

O albergue foi atingido por um grande temporal e a Mulher de Roxo perdeu todos os seus documentos, começando aí o grande mistério da sua vida. Adoentada, passou os últimos dias no Hospital Santo Antônio, hoje Hospital Irmã Dulce, onde faleceu 1997, aos 80 anos, sendo sepultada como indigente.

Mulher de Roxo podia ser Doralice, Florinda, Nair, Sandra. Suposições sobre o nome e a própria vida.
Mulher de Roxo podia ser Doralice, Florinda, Nair, Sandra. Suposições sobre o nome e a própria vida.
Foto: Divulgação

Solitária na vida e na morte, tem um cúmplice de sua história, o professor, psicólogo e escritor Adson Brito do Velho, que pesquisou dois anos para escrever Quem tem Medo da Mulher de Roxo?, a ser lançado em 10 de agosto.

Atualmente, Velho é o sujeito que mais sabe sobre a personagem da qual pouco se sabe. Ele conversou com o Visão do Corre.

Por que escrever um livro sobre a Mulher de Roxo?

Nós não sabemos quase nada sobre ela, é um grande mistério da Bahia. Faz 27 anos que ela morreu, mas até hoje está no imaginário coletivo do povo baiano. Ela não fez nada de extraordinário, ela apenas estava ali durante trinta anos, perambulando pelo centro histórico de Salvador. Não temos certeza nem sobre o nome dela. O interesse vem da incerteza.

Adson Brito do Velho escreveu Quem Tem Medo da Mulher de Roxo? Para o autor, personagem merecia estátua.
Adson Brito do Velho escreveu Quem Tem Medo da Mulher de Roxo? Para o autor, personagem merecia estátua.
Foto: Arquivo pessoal

O que se pode afirmar com certeza sobre a Mulher de Roxo?

Que ela existiu, que faz parte do imaginário coletivo dos baianos, que vivia com aquelas roupas no centro da cidade, que passou a morar em um abrigo em 1977 na Baixa dos Sapateiros. Sabemos também que houve um temporal, alagou o abrigo e ela perdeu todos os documentos.

Ninguém a conheceu antes de ser a Mulher de Roxo?

Eu conheci Ivone Maria do Carmo, que me deu entrevista contando que os pais dela eram donos da casa onde a Mulher de Roxo vivia. Um belo dia, avisaram que ela estava quebrando tudo, tinha um filho pequeno. Ela teria sido levada para um hospital psiquiátrico. E, a partir dali, começou a aparecer na rua Chile.

Não há informações nem no hospital onde ela passou os últimos dias?

Depois da morte, o hospital retardou o sepultamento para ver se aparecia alguma pessoa. Não apareceu ninguém e ela foi enterrada como indigente. Tive contato com pessoas que tiveram vínculo com ela, ninguém apareceu no sepultamento. Aumentou ainda mais o mistério.

Solitária na vida e na morte, Mulher de Roxo foi enterrada como indigente, não se sabe onde, nem o dia.
Solitária na vida e na morte, Mulher de Roxo foi enterrada como indigente, não se sabe onde, nem o dia.
Foto: Tribuna da Bahia

Não se sabe onde ela está enterrada?

Não. Por questões éticas, o hospital não deu nenhum tipo de informação de local, nem quando foi. Há um projeto de revitalização da área onde ela andava, sugeri que tivesse um busto, ou mesmo uma estátua em tamanho natural, com a mão estendida. Ali era o reinado dela.

No clipe de Pitty e Cascadura, a Mulher de Roxo recebe moedas e joga no chão. Poderia explicar essa cena?

Ela mendigava, mas não aceitava moedas. Só aceitava cédulas porque dizia que estavam estampadas com o rosto dela e do marido.

Apesar da popularidade, ela não era unanimidade, certo?

Uma famosa professora fez um texto no Jornal da Tarde que causou certa apreensão. Ela diz coisas sobre a Mulher de Roxo como “é uma infeliz”, cita “pés imundos”, que “já não desperta atenção”, seria “uma doida”. Pareceu uma forma de apagamento afirmar que “ela já não chama a atenção”.

Fonte: Visão do Corre
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