Max B.O. consagra ogum em novo disco. Leia entrevista exclusiva
Artista viaja entre mundos internos e externos em seu novo trabalho, Estrada Aberta, e tem orixá da guerra como guia inspirador
Max B.O. lança o álbum Estrada Aberta com participação de Kamau, Magrão, Ravi Lobo, Ajuliacosta, colaboração de Noturno 84 e DJ Nato PK, numa viagem pelas batalhas da vida. A obra é inspirada e homenageia o orixá ogum. Em entrevista exclusiva, rapper fala de sua religiosidade.
Uma viagem percorrendo desafios, prazeres e batalhas que travamos ao longo da vida. Esse é o fio condutor de Estrada Aberta, novo álbum do rapper Max B.O, mas também a caminhada de quem é devoro de ogum, o orixá da guerra.
Com participações de Kamau, Magrão, Ravi Lobo e Ajuliacosta, o disco foca em um rap mais cru e faz uma verdadeira reverência ao orixá ogum, responsável por abrir caminhos com sua espada enquanto guia e protege seus filhos.
Feito a quatro mãos, o disco Estrada Aberta foi criado por Max B.O. em conjunto com o produtor musical e beatmaker Noturno 84 na cidade de São Paulo ao longo de todo o segundo semestre de 2023.
“A ideia central deste trabalho são as estradas, becos e vielas que percorremos, desafios que enfrentamos. A concepção artística visual é pautada na natureza e a sonoridade está especialmente conectada com a raiz do rap, voz e batida”, diz o rapper.
Ele conversou com o Visão do Corre sobre ogum, sua devoção religiosa e ainda comentou as críticas que Anitta vem recebendo por ter lançado clipe relacionado ao candomblé.
Como começa sua relação com Ogum?
Eu nasci de numa família católica e durante quase 25 anos, frequentei muitos lugares, igrejas, religiões orientais, mas nada de umbanda ou candomblé até 2018, quando conheci o Ile Asé Opó Baragbo, casa onde sou filho.
Até que ponto vai sua devoção?
Passei por todos os processos de iniciação, inclusive me mudei pra Salvador por que minha roça - como é chamado o terreiro pelos filhos de santo - fica em Camaçari, na Região Metropolitana.
Qual terreiro frequenta? Pode falar um pouco do local?
O meu Babalorixá é pai Edigar Costa de Carvalho e minha casa de asé é regida pelo orixá Esú. Sou um filho de Ogun, numa roça de Esú. Esú Biyí, nosso mensageiro e protetor, nasceu no Ile Asé Opò Aganju, de pai Balbino Daniel de Paula, Obarayí, numa época que pouco se sabia sobre esse orixá.
Como você vê a relação de ogum com o povo brasileiro?
Ele está entre os orixás mais celebrados, entre os mais cultuados, embora todo o panteão seja importante para o desenvolvimento da comunidade. Ogum está ao lado de quem luta pela sobrevivência e seu Inhame já sustentou uma nação.
Anitta vem perdendo fãs por explicitar sua relação com o culto afro. Isso também pode acontecer contigo?
Ogum salvou minha vida, fez por mim coisas incríveis e eu nem imaginava que fosse ele lá. Quem não achar isso bonito, quem achar minha água diferente da dele, só porque a minha vem de outra torneira, não beba. Eu acho que quem deixou de seguir Anitta porque ela declarou sua religião, precisa ver questões consigo mesmo. Isso diz mais sobre a pessoa que sobre a Anitta. Ela não perdeu seguidores, perdeu despreparados, gente intolerante.
O crescimento de posições religiosas radicais pode prejudicar ou mesmo destruir os cultos afro no Brasil?
O candomblé é a vivência ancestral e ela nunca vai deixar de existir. Eu não sei quem foram meus avôs, não sei quem foram meus bisavôs e bisavós... Minha familia não tem Brasão e eu não sei quem foram meus antepassados, mas eu sei quem são meus ancestrais.
O que é Deus e o demônio?
Deus é uma energia suprema, maior, e o Demônio é a maldade das pessoas.
Se Ogum é a guerra, a forja, o ferro, o que te traz o contraponto de delicadeza, suavidade, calmaria e paz?
Minha mãe Iemanjá, com certeza é ela. Eu sou muito emotivo, meu pai é orixá que entra na guerra, mas isso não faz de seus filhos brigões ou encrenqueiros. Isso faz de nós pessoas batalhadoras por aquilo que acreditamos.