PerifaCon, na zona leste de SP, atraiu público das periferias de diversas regiões
Moradores de quebradas de outras regiões da cidade contam como foi a experiência na terceira convenção nerd das favelas
O game designer Victor Hugo Garcia Correia, 30, levantou cedo no último domingo (30), vestiu sua fantasia de Capitão América, saiu da sua casa no Rio Pequeno, na zona oeste de São Paulo, e encarou uma aventura de ônibus, metrô, trem e outro ônibus, para chegar à PerifaCon, realizada na Cidade Tiradentes, na zona leste da cidade.
O trajeto durou cerca de duas horas, com intervalo para fotografias com crianças. Por volta das 9h40, o herói já estava no Centro de Formação Cultural Cidade de Tiradentes, para conferir as atrações da terceira edição da convenção nerd das favelas. Só saiu de lá por volta das 17h.
“Gostei bastante, mesmo sendo do outro lado da cidade. Por ser periferia também, consegui me sentir muito à vontade. As artes do Artist Alley [espaço para os artistas independentes venderem seus produtos] estavam bem maneiras, com muitos artistas que puxavam mais para o street. Pena que o evento só durou um dia”, avalia.
Victor também pontua que a divulgação da convenção pode ser melhorada nas próximas edições. “Acho que seria interessante termos mais acesso às informações do evento antes dele acontecer. Teve muita coisa que eu perdi, como o Concurso de Cosplay, porque não tinha informações claras”.
Quem também atravessou a cidade para conferir o evento foi o pintor Gerson Márcionilho dos Santos, 51, morador do Jardim Nakamura, na região do Jardim Ângela, extremo sul da capital. Por volta das 7h, saiu de casa com a esposa Marilza Soares dos Santos, 47, e os dois filhos, Adriel, 10, e Alessander, 6.
“Foi uma aventura. Pegamos quatro ônibus e chegamos por volta das 10h, com o coração a mil. Estávamos muito ansiosos. Já participei há muitos anos de eventos de anime, e estava alguns dias sondando a PerifaCon”, diz.
A viagem até a convenção se tornou um dos obstáculos para o aproveitamento do evento. As crianças cansaram, e Gerson conta que ficou apenas três horas no local. “Foi muito legal. Na hora que começou a chegar os cosplays, que eu estava muito a fim de ver, meus filhos já estavam exaustos porque a gente acordou, bem dizendo, na madrugada para se arrumar. Infelizmente, não pude ficar até o final”, lamenta.
Satisfeito com a passagem pela convenção, o pintor faz ressalvas sobre a escolha da localização. “O que eu vi foi muito legal. Tirei fotos com bastante gente, com os piratas... Por ser um evento destinado para nós de baixa renda, achei de muita qualidade. Só espero que a próxima PerifaCon seja no centro, ou mais perto. No centro, acredito que seria mais viável, seria bom para boa parte chegar”, diz.
Outro que se divertiu em família foi o professor de educação física Danilo Novais Barbosa, 36, que levou seu filho, o estudante Thales Daniel, 9, vestido com a fantasia do Mario Bros. Moradores do Jardim Colorado, em Suzano, na Grande São Paulo, eles foram de carro e levaram 30 minutos até o local. Curtiram três horas de experiência no evento.
Animado em ver outros cosplays, Thales elencou os seus personagens favoritos. “Gosto do Cebolinha, da Mônica, do Bob Esponja, do Luigi, que também é do Mario Bros, do irmão do Jorel e do Fred de Five Nights at Freddy's, que é um jogo.”
Para o professor, as três horas no evento valeram a pena.
“Foi uma experiência maravilhosa. O mais interessante para mim, com certeza, foi esse evento acontecer na periferia, dando voz a artistas independentes e sendo acessível para a população periférica dos bairros, que na sua maioria são negras e negros.”
Danilo sentiu falta de espaços mais lúdicos para o público infantil, contudo, destacou a festa visual como saldo positivo. “Um monte de gente fazendo cosplay, vestida de personagens que gostam e do outro lado da rua acontecendo um jogo de várzea, em um campo de terra, essa imagem, pra mim, diz muito sobre o evento que foi maravilhoso.”
Com colaboração de Jacqueline Maria da Silva, da Agência Mural