Pista em Cidade Dutra tem manutenção feita pelos skatistas
Espaço na zona sul de São Paulo ganhou uma rampa nova, mas sofre com problemas básicos como falta de iluminação e limpeza
Foi na Praça Ivete Vargas que Sônia Stephanie Costa, 21, retomou um prazer da infância: andar de skate. Quando criança, ganhou da mãe a primeira prancha com rodinhas, ao custo de R$ 20. Sem espaços para brincar pela zona sul de São Paulo, acabou vendo o brinquedo se quebrar em pouco tempo.
Por falta de incentivo e espaço para que pudesse aprender a praticar o esporte preferido, ela o largou de lado. A situação mudou há oito anos, quando começou a frequentar a Bowl Skate Park, espaço inaugurado em 2014 que ampliou a oportunidade dos jovens de bairros como Cidade Dutra, Grajaú, Jardim Iporanga, Parque Alto e Vila Rubi.
No entanto, a falta de manutenção tem sido alvo de reclamações e os skatistas relatam que eles próprios têm buscado formas de manter o espaço em ordem.
Em 2022, o local recebeu uma nova rampa, mas sem reparos nos problemas antigos, como falta de iluminação e de limpeza, gramado sem cortar e até dificuldades com o escoamento da água após chuvas.
A iluminação do local onde a pista fica, por exemplo, foi garantida por iniciativa dos próprios skatistas, que resolveram juntar dinheiro para melhorar a situação.
A vaquinha resultou em algumas lâmpadas penduradas por fios de energia, que ficam amarradas em algumas árvores e ligadas a um poste. Essa foi a solução improvisada que encontraram para não ficar sem o uso da pista durante a noite.
"A gente ia atrás da prefeitura, que ficava prometendo e não fazia nada. Aí a gente faz as reformas que são mais necessárias, já que arrumar tudo ficaria muito caro", afirma Sônia, que trabalha no setor financeiro de uma empresa de software.
Além disso, há pouca manutenção da pista mais antiga, resultando em problemas como desplacamento do piso, rachaduras e infiltrações nas trincas, que também são apenas resolvidas por conta da colaboração dos usuários.
Espaço de encontro
A pista do Parque das Árvores — como é conhecida a praça Ivete Vargas pelos moradores — tem um grande valor sentimental não só para Sônia, mas também para muitos jovens da região.
No caso da atleta, ela começou a frequentar a praça na adolescência nos fins de semana. Assistia os skatistas fazendo manobras e decidiu recomeçar.
Até conseguir o reconhecimento que tem hoje profissionalmente com algumas premiações locais, Sônia teve muitas dificuldades, que iam além da falta de oportunidade por morar na periferia. O machismo no esporte sempre foi presente, seguido pelas dificuldades do valor das peças para montagem da prancha, que nunca foi acessível.
"Quando eu comecei a andar, meus amigos me ajudaram a montar o skate, me deram algumas peças e eu tive que comprar o básico. Nesse quesito eu dei muita sorte"
Sônia Costa, 21, skatista
E é nessa frase que ela vê novos aspirantes chegando. Desde a construção pela prefeitura, o local se tornou um skatepark, por contar com diversas atividades que vão além do skate (como uma quadra, mesas para encontros e equipamentos para exercícios ao ar-livre).
O espaço se tornou opção para quem está começando no esporte, que se tornou modalidade olímpica desde 2021.
Sônia viveu sempre na zona sul e buscava um espaço para praticar o esporte Sônia ganhou prêmios em competições locais Placa improvisada sobre o espaço Espaço foi inaugurado em 2014
Apesar os problemas na manutenção, a pista ganhou a ampliação com uma nova mini-ramp Bowl — modalidade no skateboarding com rampas côncavas e inclinadas no formato de bacia — e teve um aumento da plataforma na parte externa da pista e um caixote.
A construção da nova pista foi feita por licitação e cedida à empresa JRA Empreendimentos e Engenharia LTDA, que chegou por subcontrato até a empresa Overwall Engenharia Esportiva, especializada na construção de pistas de skate.
Raphael Humberto, representante da Overwall, afirma que a empresa foi responsável apenas pela construção da rampa mais nova, feita junto de uma elevação com um caminho de concreto e um caixote, e que não tem responsabilidade sobre a manutenção da pista antiga.
Raphael diz que o tempo de manutenção de uma pista pode variar por grau de necessidade e que varia conforme o nível de utilização. Por exemplo, se ela é utilizada por muitas pessoas, se pega muito sol, se tem muitos detritos de sujeira.
Resposta da subprefeitura
Em resposta à Agência Mural, a subprefeitura da Capela do Socorro informou que desconhece as intervenções realizadas pelos moradores na Praça Ivete Vargas e ressaltou que, em março deste ano, a administração regional realizou manutenções no local mencionado, inclusive, da pista de skate que passou por reforma.
"Para promover o bem-estar da população no entorno da praça e no local supracitado, a última ação de zeladoria foi realizada em 25 de maio. Essa programação se repete a cada 15 dias."
A nota diz também que a equipe de manutenção compareceu à pista Bowl Skate Park, para verificar a situação da iluminação do local e constatou que "os projetores instalados não são os utilizados por nossa concessionária, foi constatado ainda, que se tratam de pontos de iluminação com ligação clandestina".
Encerra dizendo que "em situações normais, a manutenção é realizada no prazo máximo de 24 horas. No entanto, em decorrência de fatores externos como queda de árvores, furto de cabos ou fenômenos naturais, esse prazo poderá ser estendido".
Diz ainda que a SP Regula abriu um processo de ampliação para a instalação regular de iluminação pública no local. Até o fechamento desta reportagem, a pista continua com a iluminação que os usuários colocaram na pista.