Série de reportagens mostra a importância de Xuxa para a consolidação do funk
Globonews contou a história do funk carioca destacando o papel hoje pouco conhecido da apresentadora, funkeira declarada
Xuxa teve papel decisivo na inserção do funk na mídia, sobretudo quando seu programa passou a ser exibido nas manhãs de sábado. Ela abriu espaço para artistas que iniciavam o ritmo, comprando briga com poderosos da Globo e, inevitavelmente, com a diretora Marlene Matos.
“Existem momentos importantíssimos, por exemplo, o programa da Xuxa, eu tocando funk lá, os artistas se apresentando lá”. Quem diz isso é nada menos que DJ Marlboro, um dos principais criadores do estilo carioca que tomou o mundo, o funk.
Acompanhado de funkeiros, ele tocou na estreia do programa Xuxa Park, em junho de 1994. Cantores de funk tinham estado antes e voltaram depois. Xuxa, funkeira declarada, comprou briga com a Globo e com Marlene Matos para levar a música das favelas ao programa.
Evidenciar essa história é o maior mérito da série da Globonews, que mostra os bailes e a expansão nacional e internacional do gênero. Competentes, as três longas reportagens não vão mudar os rumos do jornalismo brasileiro, mas mostram a importância de Xuxa na expansão midiática do funk.
Ela faz importantes revelações. “A primeira vez que eu recebi um não da Globo foi com o funk. Tanto é que, quando eu comecei a trazer o funk e começou a dar certo, os outros programas não passavam”. Ela se refere a artistas como Claudinho e Bochecha, Bonde do Tigrão e MC Marcinho (o hit Glamurosa foi inspirado na apresentadora).
Xuxa abraçou o funk e aproveitava sua empolgação com o ritmo para cutucar Marlene Matos, com quem a relação azedava. “Eu já falei pra vocês, funkeira eu sou”, disse em 1998. Em 2002, no Planeta Xuxa, foi mais incisiva.
“Já vi que eu não posso fazer dança, né? Não posso fazer mais nada quando é programa ao vivo. Não quero mais fazer, viu? Fica com fitinha toda hora”. Na entrevista à Globonews, ela explica o desabafo. Marlene Matos achava a alegria de Xuxa excessiva, mas não era só isso.
“O funk é uma coisa de periferia, do movimento negro, o funk era visto como música de pobre”. Na mosca. Xuxa não é boba, e nada disso apaga o desserviço de anos de elogio da beleza branca e loira.
Mas suas declarações à Globonews ampliam a compreensão da história do funk e ensinam, bebês, que o mundo é bem mais complexo do qualquer militância cega.