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SP: entregador é preso por assalto que aconteceu enquanto ele trabalhava em outro bairro

No início do mês, Leonardo Souza Ramalho ficou preso por sete dias em razão de um assalto de moto que aconteceu a 5 km de onde ele realizava sua última entrega do dia

25 nov 2022 - 11h04
(atualizado às 13h42)
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Entregador de aplicativo Leonardo Souza Ramalho
Entregador de aplicativo Leonardo Souza Ramalho
Foto: Imagem: Arquivo Pessoal / Alma Preta

Enquanto o entregador Leonardo Souza Ramalho, de 23 anos, fazia sua última entrega no bairro do Tucuruvi na noite do dia 2 de novembro, um assalto acontecia a 5 km dali, no bairro da Vila Nova Galvão, zona norte de São Paulo. Mesmo assim, o jovem foi preso acusado de roubar a moto, que foi abandonada na rua de seus familiares. Ele estava na calçada quando foi abordado por policiais militares e identificado por uma das vítimas como o autor do roubo.

O jovem ficou uma semana preso e só foi solto no dia 10 de novembro. Leonardo terá que cumprir medidas cautelares como comparecimento periódico em juízo, recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga e está proibido de ausentar-se da comarca. Ele responderá, em liberdade, pelo crime de roubo.

A defesa do entregador aponta que, no dia do crime, ele encerrou o expediente pouco depois do horário que a vítima diz ter sido assaltada. Segundo confirma registros do aplicativo Ifood, o rapaz parou de trabalhar às 21h27, no bairro do Tucuruvi, e o assalto teria acontecido às 21h20. Essa é uma evidência que descarta a possibilidade de Leonardo estar na cena do crime, já que ele estava a 5,6 quilômetros de distância e a 15 minutos da região onde a moto foi roubada.

Ainda conforme a defesa, o jovem foi vítima de uma prisão injusta porque não tem as mesmas características do suspeito que estacionou a moto na rua. "Nesse dia, Leonardo iniciou o seu turno de trabalho às 15h42 sendo que sua última entrega foi finalizada às 21h27. Como se verifica pelo registro do próprio aplicativo do Ifood. Diante o histórico de entrega do dia dos fatos, seria impossível que o paciente estivesse em dois lugares ao mesmo tempo!", cita a defesa em um dos trechos do processo.

No boletim de ocorrência, o homem que teve a moto roubada informou à polícia que não foi possível reconhecer o entregador como o autor do crime porque no momento do roubo ele foi ameaçado com uma arma, ficou em choque emocional e não conseguiu visualizar o rosto dos autores do crime.

O caso

Com base no processo do caso, a vítima do roubo contou que estava com a esposa em uma moto na Rua Gabriel Ribeiro, no bairro da Vila Nova Galvão, quando foi abordada por três indivíduos em duas motos. Durante o roubo, ele foi derrubado do veículo e teve uma arma apontada para a cabeça. Em seguida, os suspeitos fugiram do local com a moto.

Com o auxílio de um rastreador, ele e a esposa conseguiram localizar a moto na Rua Merino, no bairro Vila Medeiros, a cerca de 7 quilômetros do local do roubo, e acionaram a Polícia Militar.

Imagens de câmera de segurança mostram o momento em que o suspeito do roubo estaciona a moto, às 21h47, e deixa o local. Nas imagens, é possível ver que o suspeito tem cabelos longos e pele escura, diferentes das características físicas do entregador Leonardo, um homem pardo e de cabelo raspado.

Ainda conforme os registros da câmera, viaturas da Polícia Militar chegaram ao local às 22h47, uma hora após o suspeito abandonar a moto, e as vítimas compareceram ao local às 22h59. Em depoimento, os policiais militares informaram que encontraram Leonardo a cerca de cinco metros da moto e que ele foi reconhecido por uma das vítimas como o autor do roubo. A outra não o identificou.

Depois de ser reconhecido, Leonardo foi encaminhado para o 73º DP Jaçanã, zona norte de São Paulo, onde foi detido. Segundo a polícia, com ele também foi encontrado um celular com registro de roubo, em 2019. De acordo com a defesa, o entregador comprou o aparelho sem saber que era furtado. O aparelho, que o jovem utilizava para o trabalho, está detido na delegacia.

Familiares apontam injustiça

A prima de Leonardo, Laene Aparecida Santana, fala que as imagens da câmera de segurança provam que o jovem não cometeu o crime. "Em 20 minutos não tem como ele roubar uma moto e colocar na rua de casa e ele [o autor do roubo] é mais escuro, tem cabelo, e o Leonardo é mais claro, não tem cabelo", comenta Laene.

A avó de Leonardo, Ivonete Ferreira da Silva, confirmou que naquele dia tinha pedido ao neto para comprar um cigarro após ele encerrar o expediente, às 21h27, e defendeu a inocência do neto. "Meu neto é inocente, ele estava trabalhando. Eu crio meu neto desde os 14 anos, ele não é essa pessoa que estão pensando", conta a avó.

Segundo familiares, Leonardo tinha acabado de comprar a própria moto, com um dinheiro da rescisão de um trabalho anterior, e resolveu trabalhar como entregador como forma de ganhar uma renda. Para a prima de Leonardo, Laene Aparecida, o caso se trata de uma injustiça.

"É uma injustiça o que estão fazendo com ele, porque ele não teve tempo para se defender, a gente não teve tempo para defender ele. É assim que funciona nas comunidades, periferias, a gente não tem voz", comenta Laine.

Posicionamento

A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com o Tribunal de Justiça de São Paulo e questionou o motivo do pedido de prisão de Leonardo, mesmo com as contradições do processo, como o fato dele não ter sido reconhecido por uma das vítimas e ter características distintas do verdadeiro autor do roubo. A reportagem também perguntou ao Tribunal quais medidas o órgão tem adotado para zerar prisões de pessoas inocentes.

Em nota, o Tribunal de Justiça de São Paulo informou que "não emite nota sobre questões jurisdicionais" e que os magistrados possuem independência funcional para atuar conforme os documentos do processo e conhecimento.

"Essa independência é uma garantia do próprio Estado de Direito. Quando há discordância da decisão, cabe às partes a interposição dos recursos previstos na legislação vigente", completa a nota.

A reportagem também questionou o horário do crime para a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), já que a informação não constava no processo. A SSP-SP não respondeu. A informação só foi confirmada após o contato da reportagem com a vítima do roubo.

Em nota, a SSP-SP informou que Leonardo foi encontrado próximo ao veículo e foi reconhecido por uma das vítimas. Disse também que com ele foi encontrado um celular roubado e, posteriormente, ele teve a prisão convertida em preventiva pelo poder Judiciário.

Já o iFood lamentou o ocorrido e informou que entrou em contato com a família de Leonardo para oferecer suporte e apoio psicológico. A empresa também disse que "repudia atos que levem ao constrangimento contra os entregadores de aplicativo e preza por relações e ambientes livres de assédios, preconceitos e intimidação em todas iniciativas que realiza, sempre baseado em respeito, conforme os valores presentes em seu Código de Ética e Conduta".

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Alma Preta
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