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Conheça a onda no ar que foi voz de morro em BH na ditadura

Rádio Autêntica Favela FM resiste há mais de 40 anos no Aglomerado da Serra “da favela para a favela”

20 set 2022 - 05h00
(atualizado às 12h21)
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Ouça você está na Favela.
Ouça você está na Favela.
Foto: Arquivo Pessoal.

Ainda hoje, quando tudo gira em torno da tecnologia, falar sobre ela para as pessoas mais pobres remete à ideia de algo caro e às vezes inalcançável. Essa realidade vem desde o surgimento dos primeiros meios eletrônicos de comunicação. Em contrapartida a esse distanciamento, existe um fascínio que a tecnologia causa principalmente nos jovens e curiosos.

Foi esse encantamento da comunicação que levou Misael Avelino, fundador e coordenador da Autêntica Favela FM, a se apaixonar pelo rádio desde criança. Neste ano, é comemorado o centenário do rádio no Brasil. Porém, Avelino não tinha o aparelho em casa quando criança, o que não o impedia de sonhar. “Quando eu completei 13 anos falei para os meus amigos que iria ter uma rádio e todo mundo deu risada”, recordou.

No início de 1976 Misael viu em uma banca de jornal, uma revista que era vendida junto com uma peça de brinde em cada edição, para que o leitor fabricasse um transmissor de rádio. Em 8 meses ele conseguiu montar o aparelho. Na época o alcance do transmissor era só de 50 metros, mas com a ajuda de três amigos da comunidade, Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, foi possível destravar o transmissor para emitir o áudio em longa distância.

 Misael Avelino, idealizador da Rádio Autêntica Favela.
Misael Avelino, idealizador da Rádio Autêntica Favela.
Foto: Arquivo Pessoal.

A partir daí nasceu a Rádio Favela FM, com um transmissor desbloqueado, um toca fita de rolo, um fone de ouvido e a antena instalada num pé de abacate em um bambu de 7 metros e duas baterias de tratores. “De dia escondíamos o bambu na árvore, à noite a gente subia no abacateiro com o bambu na mão”, conta.

Misael tinha 16 anos quando fundou a rádio e nunca mais parou de trabalhar na área. Durante o dia ele e os outros integrantes da Favela anotavam o que acontecia na comunidade e à noite, no horário da voz do Brasil os locutores entravam no ar representando a voz dos moradores, denunciando problemas e lendo os boletins com as necessidades e reclamações do povo da vila. “Não tinha coleta de lixo, nem água e nem energia elétrica aqui e nós fomos na prefeitura cobrar e jogaram água na gente”, fala Misael.

Antigo portão da Rádio que tinha que permanecer fechado.
Antigo portão da Rádio que tinha que permanecer fechado.
Foto: Arquivo Pessoal.

O início coincidiu com o período da ditadura militar no Brasil. Misael relembra as dificuldades: os militares ficavam dentro do morro procurando a gente, todo mundo sabia onde a gente estava, mas nenhum morador entregava. Eles perseguiam a gente e quebravam todos os nossos equipamentos. Mas a gente resistia.

A legalização definitiva do governo federal ocorreu somente em 2002. “Mas na verdade isso foi meio que um presente de grego. Nós havíamos pedido a cessão comercial, para que a rádio pudesse veicular anúncios durante a programação e assim garantir nossa condição financeira, mas com o canal educativo nós não podemos anunciar nada comercialmente”, explica Misael.

 Chamada do filme 'Uma Onda no Ar' que conta a história da Favela.
Chamada do filme 'Uma Onda no Ar' que conta a história da Favela.
Foto: Quimera Filmes.

Após a licença concedida a história da rádio virou um filme de Helvécio Ratton, “Uma onda no ar” que conquistou as telas de cinema e diversos prêmios.

Atualmente a rádio funciona na frequência FM 106,7 e tem o nome de Autêntica Favela FM e continua sendo uma das principais vozes dos moradores das periferias e favelas da capital mineira.

ANF
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