Estúdio desenvolve games que unem fantasia e periferia
Criado por amigos de faculdade, a MMaxixe trabalha em jogo que combina referências periféricas, literárias e de clássicos do mundo dos games
De colegas de turma a sócios. Esse é o caminho traçado por Magno Borges, Matheus Pigozzi, César Mosca e Mathias Codas, responsáveis pelo Estúdio MMaxixe. Formados em design de games, eles desenvolvem jogos que destacam a periferia e apresentam novos olhares sobre essas regiões.
A parceria entre o quarteto surgiu durante a faculdade, por volta de 2016. Desde o início do curso, foram incentivados a pensar de forma empreendedora e a produzir jogos que valorizassem a brasilidade.
Por conta das vivências como moradores de bairros periféricos, a decisão de incorporar essas características nos games ocorreu de forma natural, embora tenham enfrentado a incompreensão por parte de professores e outros colegas de turma.
“A gente teve que convencer uma professora a deixar usar funk no jogo. Ela não entendia que aquilo fazia sentido, que tinha lugar ali”, relembra Magno Borges, 38, que cresceu na região do Jaraguá, na zona oeste de São Paulo.
“Lembro de outra vez que a gente foi apresentar um pedaço do game e nosso personagem usava [óculos] Juliet e cabelo blindado, shortinho de tactel. Falaram que ele tinha cara de assaltante. E era uma criança, um menino negro. Isso foi bem assustador”, complementa ele, que é designer e level design no estúdio.
Level design é o profissional responsável pelo planejamento do jogo, a narrativa que vai ser desenvolvida, as mecânicas e a experiência geral do jogador. No MMaxixe, Magno também cuida dos projetos e dos editais nos quais o estúdio se inscreve.
Desde que decidiram transformar o MMaxixe em uma empresa, após o término da faculdade, o quarteto participou de três editais para empresas de tecnologia. Dois deles foram do Vai Tec, da Prefeitura de São Paulo, e atualmente estão com o ProAC (Programa de Ação Cultural), do Governo do Estado.
“Passamos por dois tipos de mentoria no Vai Tec. Tivemos aula de captação, prospecção, como montar o negócio. Foi ótimo porque deu para ter essa noção do que precisávamos para nos manter. Já o outro, voltado para games, serviu muito para perceber se o que estávamos fazendo fazia sentido no mercado”, conta Magno.
Para este novo edital, o grupo está trabalhando no desenvolvimento de um jogo chamado Melusina. O game resgata o primeiro projeto digital que eles criaram na faculdade, combinando a obra do autor potiguar Câmara Cascudo com o jogo Adventure, um clássico do Atari lançado em 1979. E, é claro, trazendo a perspectiva periférica.
“Ficou muito evidente, fazendo esse trabalho, que não precisávamos ser retratistas. Tem um lugar da fantasia que acaba falando muito mais. Pensar num jogo de masmorra como periferia nos tira desse lugar realista. Não estamos sendo desrespeitosos, só estamos mostrando que a periferia pode ser divertida, um lugar mágico e incrível.”
Enquanto o lançamento do Melusina não ocorre, é possível acompanhar essa mistura de referências entre fantasia, cultura pop e periferia por meio das ilustrações que Magno e Matheus costumam publicar no perfil do estúdio no Instagram.
Por lá, também são encontrados desenhos de outro jogo em que o grupo trabalhou, o Kintal, que foi o tema do trabalho de conclusão de curso. “Eram vários minijogos inspirados em brincadeiras infantis. Por ser multiplayer, seria muito caro para ser lançado comercialmente, então deixamos esse projeto de lado”, conta o level design.