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Jovens do Grajaú querem ser influenciadores da quebrada

Inspiração está no próprio bairro, onde vizinho tem página de frases motivacionais com quase um milhão de seguidores

23 jun 2024 - 07h49
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Resumo
Há três meses, vizinhos do Jardim Itajaí se reuniram para fazer gravações de vídeos de cenas cotidianas e postar no Instagram. Contam com a ajuda dos conhecidos para aumentar o engajamento. Algumas produções deram muito certo, com milhares de visualizações. A meta é viver da internet, como um o jovem que administra página de mensagens motivacionais, com quase 1 milhão de seguidores.
Jovens do Grajaú na porta da garagem onde tudo acontece: das ideias às filmagens de cenas realistas inspiradas no cotidiano
Jovens do Grajaú na porta da garagem onde tudo acontece: das ideias às filmagens de cenas realistas inspiradas no cotidiano
Foto: Su Stathopoulos

Já virou rotina: aos domingos, próximo ao ponto final da linha Jardim Itajaí, zona sul de São Paulo, a vizinhança sai às janelas, varandas e ruas para ver manos e minas interpretando e filmando com celular cenas cotidianas, como enquadros policiais. Vão postar no Instagram, querem ser influenciadores da quebrada.

São pelo menos três perfis e vários chegados em torno de uma ideia que surgiu na garagem de Denílson Góes Souza, o “Beleza”. A garagem é parada obrigatória para conversas, churrascos e ideias – há três meses, depois de baterem uma laje, pensaram: por que não sermos influenciadores?

“Já tem gente de fora vendo, está virando”, diz Beleza, apelido que vem do pai, dono da casa com a garagem que reúne os jovens, quase todos motoboys. Beleza, por exemplo, faz entregas de dia e, à noite, realiza o mesmo trabalho em uma pizzaria da região.

Durante a entrevista, vão parando motos do lado de fora da garagem. Pelo menos vinte manos e minas encostam para ver o movimento. “A gente cola aqui desde que era portão de madeira e rua de terra”, diz Kaike da Silva Lima, 24 anos, que, invariavelmente, faz o personagem do policial nos vídeos gravados nas ruas do Jardim Itajaí.

Filmagem simula batida policial. Kaike Silva, que segura a arma de brinquedo, gosta de brincar de tira desde pequeno
Filmagem simula batida policial. Kaike Silva, que segura a arma de brinquedo, gosta de brincar de tira desde pequeno
Foto: Su Stathopoulos

Aprendendo a usar as redes sociais

Nos últimos três meses, os manos têm mantido o propósito: gravação no domingo e postagem à noite, além de quarta-feira, sempre às 19 horas. Larissa Peres, 19 anos, explica que “sete horas é quando o pessoal está saindo do trampo e pega o celular. E quarta tem jogo”.

Quanto aos domingos, Allyson Gabriel diz que “geral está reunida em casa, com o celular na mão, dá um engajamento violento”. Eles sentiram a sensação de viralizar, com um vídeo que bateu 260 mil visualizações.

Dois ou três celulares são usados para filmagem, edição e postagem. Os gastos de produção com cacetete e pistola de plástico, algema de brinquedo, colete e alguns pequenos acessórias, como calcinhas para uma cena, custaram cerca de R$ 250,00.

Weverton Almeida, 24 anos, filma e edita. Sonha em fazer curso cinema. “Queremos fazer algo diferente e profissionalizar isso. Não queremos fazer um vídeo, mas o vídeo”, resume.

Na parede da garagem, a frase representa o sonho de viver de internet, sem precisar trabalhar para terceiros
Na parede da garagem, a frase representa o sonho de viver de internet, sem precisar trabalhar para terceiros
Foto: Su Stathopoulos

Estratégias de engajamento

As ideias de roteiro são discutidas durante a semana em intensas trocas de mensagens, mas o improviso corre solto. Na hora de gravar, seriedade e diversão para os manos e para a vizinhança, que se acostumou com as filmagens aos domingos, um lazer.

Os vídeos são baseados em situações cotidianas, com um pouco de humor. A estratégia é postar e incentivar a galera a curtir, replicar. Estão fazendo vaquinha para pagar prêmio de R$ 50,00 para quem impulsionar o compartilhamento.

O próximo passo é colocarem o conteúdo no Youtube. O sonho é viver como influenciador “se Deus quiser, né, mano”, acredita Leandro da Silva, 24 anos.

A filmagem é de brincadeira, mas os objetivos são sérios: deixar o emprego de entregador e viver de internet
A filmagem é de brincadeira, mas os objetivos são sérios: deixar o emprego de entregador e viver de internet
Foto: Su Stathopoulos

Chegando a um milhão de seguidores

Uma das inspirações dos candidatos a influenciadores está no próprio bairro. É Gabriel Augusto Moreira Ribeiro, 29 anos. Ele tem uma página de frases motivacionais no Instagram que está prestes a atingir um milhão de seguidores. “Só criei porque sempre gostei de frases positivas, mas nunca imaginei que ia dar uma repercussão dessas”, conta.

O perfil foi criado em 2018. Antes disso, a vida de Gabriel não foi fácil. Estudou em escola pública e não concluiu a formação. Com doze anos, começou a trabalhar fazendo malabares nas ruas. Também vendeu rosas, água.

Gabriel Augusto Moreira Ribeiro, cria do Jardim Itajaí, criou a página por diversão, agora virou negócio e sobrevivência
Gabriel Augusto Moreira Ribeiro, cria do Jardim Itajaí, criou a página por diversão, agora virou negócio e sobrevivência
Foto: Arquivo pessoal

Em 2020, começou a perceber que poderia viver do engajamento da página. Faz anúncios para pizzarias, dentistas, lojas. Cobra R$ 500,00 por uma postagem no feed e R$ 200,00 para inserção em três stories. “Dá pra viver”, diz Gabriel.

 O influenciador está na contramão da tendência de apostas virtuais e do famoso “jogo do tigrinho”, que recruta perfis com muitos seguidores.

“Tigrinho a gente não divulga porque atrasa muito o lado dos nossos clientes. Para nós, seria bom, para ganhar dinheiro, mas para quem está jogando, a tendência é perder”, diz Gabriel, que prepara uma festa para quando atingir um milhão de seguidores.

"Falta pouco, vou comemorar, não é todo dia que nós faz um milhão, né?”.

Fonte: Visão do Corre
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