Após 7 anos vendendo doces na rua, confeiteiro abre loja em SP
Klebinho Real morava em Suzano e vendia brigadeiros na zona leste de SP e na rua Augusta; em agosto, inaugurou a própria confeitaria
O cardápio da confeitaria de Kleber Adair Neves da Silva, 29, na rua Augusta, centro de São Paulo, tem 140 opções de doces. Quando ele trabalhava como vendedor ambulante no mesmo endereço, a lista se resumia a brigadeiro, beijinho, bicho de pé e paçoca.
Kleber é proprietário da Doces de Ouro Brasil, inaugurada no dia 20 de agosto de 2022. A loja, que fica na altura do número 1.365, funciona de segunda a domingo, exceto às terças-feiras, das 10h às 18h. O local tem um ambiente requintado e atrai o olhar de quem passa em frente.
Além desse estabelecimento, Klebinho Real, como é mais conhecido nas redes sociais, é sócio de outros empreendimentos, atua com incorporação de imóveis e também tem sociedade em uma empresa de alimentos fitness.
Ao olhar para trás, ele afirma sentir orgulho do caminho que percorreu. “Vendi doces por uns sete anos nas ruas, bares e estações. Hoje tenho meu próprio estabelecimento”, afirma.
O jovem reside na Bela Vista, também região central de São Paulo, desde que começou a empreender. Mas, antes disso, morava no bairro Miguel Badra, periferia de Suzano, na Grande São Paulo, e chegou a atuar em dois empregos ao mesmo tempo.
De segunda a sexta-feira, durante a manhã, exercia a função de assessor na prefeitura de Suzano. À tarde, trabalhava em uma empresa de telemarketing no bairro da Liberdade, região central da capital paulista.
Aos sábados e domingos, Kleber aproveitava o tempo de folga para cozinhar brigadeiros e, durante a semana, vendia para os amigos do trabalho. Após alguns meses mantendo essa rotina, ele foi demitido de um dos serviços.
“Minha chefe disse para mim: ‘vou ter que te desligar porque a empresa está fazendo alguns cortes, mas tenho certeza de que vai ganhar muito mais dinheiro vendendo doces do que com o telemarketing’. Felizmente ela estava certa”, comenta.
Em 2016, Kleber pediu exoneração do cargo da prefeitura para se dedicar apenas ao comércio de doces. Ele conta que, no começo, fazia tudo sozinho: comprava os ingredientes, cozinhava, embalava e depois ia às ruas vender.
“Nunca vendi em Suzano porque tinha vergonha das pessoas próximas me verem. Então eu ia para as ruas da capital. E foi aí que começou a dar certo”, relata.
Primeiro ele foi para o Itaim Paulista, depois para São Miguel Paulista, ambos na zona leste, e então passou um tempo na avenida Paulista, no centro. No entanto, foi na rua Augusta onde ele conseguiu vender mais. “Pedestres, motoristas e pessoas que estavam nos bares, todos eles compravam”, conta.
Ele diz que os negócios iam muito bem no começo, porém notou que, ao passar dos dias, as pessoas deixavam de comprar os doces, então desenvolveu uma metodologia própria para abordar os clientes.
“Diferentemente da maioria dos vendedores de rua, eu abordava os clientes com um sorriso no rosto e dizia que, embora estivesse precisando de dinheiro, eu tinha saúde, uma família e não tinha ninguém doente, mas que precisava pagar as contas”, lembra.
Logo, Kleber adquiriu experiência e passou a vender cada vez mais. Foi quando se mudou para o distrito da Bela Vista e passou a pagar a diária de uma cozinheira para ajudá-lo. “Nessa época, eu tinha um faturamento mensal médio de R$ 10 mil”, relata.
Outro método que o vendedor desenvolveu para melhorar o negócio foi apelidar os doces com nomes de famosos. “Tinha o chocolate branco Anitta: quando você coloca, derrete na boca da malandra”, conta, fazendo referência à música “Vai, Malandra” da cantora.
Apesar das vendas estarem indo muito bem, ele enfrentou diversas situações inusitadas enquanto comercializava os doces. Certa vez, teve todos os brigadeiros furtados na rua. “Uma pessoa pegou minha cesta de brigadeiros e distribuiu para as pessoas em situações de rua. Ao menos ela fez uma boa ação”, ri.
Em março de 2020, quando a pandemia de Covid-19 começou, o empreendedor fez uma parceria com um amigo e passou a entregar doces por delivery. “No começo eu fazia os brigadeiros e o meu parceiro entregava de bicicleta, mas logo contratamos um motoboy”.
Ainda que a confeitaria e os negócios estejam em constante crescimento, Kleber continuou com o comércio ambulante. Ele conta que, por vezes, ainda vai às ruas vender doces mesmo não necessitando, pois sente-se bem ao entrar em contato com as pessoas.
“Sou negro, homossexual e periférico, então é obvio que passei por algumas situações de preconceito nas ruas, mas sempre tive mais motivos para continuar do que para desistir”, afirma.
O empreendedor conta que sempre foi apaixonado pela rua Augusta e que concretizou um sonho ao inaugurar a confeitaria no local. “Chegar aqui não foi fácil, mas difícil mesmo é se manter. Quanto mais crescemos, maiores são os riscos. Hoje quero concluir as reformas na confeitaria e crescer cada vez mais”, afirma.