Casal une paixão por rock e veganismo em cozinha itinerante
Rafaella e Marcelo, moradores de São Miguel Paulista, trouxeram à mesa a defesa da causa animal e viajam por SP vendendo salgados sem carne
Quando a gastronomia e a música se unem, o resultado pode ser animal, ou melhor, pró-animal. Foi o que aconteceu com a cozinheira Rafaella Turati, 31, e o músico Marcelo Verardi, 44, moradores de São Miguel Paulista, na periferia da zona leste de São Paulo.
Ela, gastrônoma há quase nove anos, e ele, músico há mais de 20 anos, ambos veganos, se conheceram em 2016 durante um show de rock e decidiram combinar as duas paixões à defesa da causa animal e transformá-las em uma cozinha itinerante vegana.
O casal agora viaja ao redor da cidade, participando de feiras veganas, apresentações musicais e outros eventos, propagando os ideais do veganismo (estilo de vida contrário a qualquer forma de exploração dos animais, como o consumo de alimentos ou de produtos de origem animal) e vendendo salgados no melhor estilo “rock n’ roll”.
“O rock é nossa vida, nos representa, e o veganismo idem. Acho que assim podemos definir essa ligação”, diz Verardi. Ele, que apesar das duas décadas na estrada tocando na banda de punk hardcore brasileira Dance of Days, sempre teve vontade de cozinhar, conta que após conhecer Rafaella resolveu dar um novo rumo à carreira.
A partir disso, entre o final de 2017 e o início de 2018, eles fundaram juntos o próprio negócio, a Vegana Cozinha Orgânica. “Além da comida, queríamos também espalhar o amor, a causa [animal] e os ideais do veganismo, principalmente pela periferia”, acrescenta o músico.
A produção de quitutes da Vegana Cozinha Orgânica conta com sabores sem carne, leite ou ovos no menu, como coxinha de jaca ou de palmito, quibe de abóbora ou couve, e bolinho de lentilha ou grão de bico. Além dos eventos presenciais, eles atendem pelas redes sociais, por delivery e através de revendedores parceiros.
Dentro da questão de conscientização e da luta pela defesa dos animais, a cozinha conta com o próprio merchandising, estampando camisetas, bottons e adesivos com frases como “comer é um ato revolucionário”, “veganize já” e “preserve o planeta”, tudo dentro do estilo alternativo.
Os produtos também fazem referência a bandas do gênero, como o grupo norte-americano Nirvana, formado originalmente por Kurt Cobain, Dave Grohl e Krist Novoselic no final dos anos 1980.
“Quando começamos, nem imaginávamos o tanto de pessoas interessadas no veganismo”, comenta Rafaella. Segundo ela, além das pessoas interessadas, tinham também as que consideravam o estilo de vida vegano muito caro.
“Nos colocamos em nossos lugares, então, como veganos da periferia e dissemos: ‘sim, a galera aqui tem que conhecer [o veganismo], tem que poder pagar um valor justo e merece comer uma comida de qualidade’”, conta a gastrônoma.
De acordo com o casal, do mesmo jeito que a música pode servir como forma de protesto, o veganismo também representa atitude, contracultura e contestação. “Assim como é o rock que admiramos. A comida é importante para nós, e a causa também”, destaca Verardi.
Feira vegana na zona leste
No último domingo, 23, a Vegana Cozinha Orgânica participou da Feira Vegana Protetoras da Zona Leste, no Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Ricardo Teruel, 32, é um dos organizadores do evento, que já dura cinco anos.
“A zona leste é muito grande, há muitas pessoas que são carentes de eventos veganos”, diz ele, que é responsável pela produção das artes visuais da exposição nas periferias da região.
Teruel defende que o veganismo não seja encarado como algo elitista, embora muitas coisas tenham valores altos. “Estamos construindo um território onde o veganismo possa ser cada vez mais acessível e que as pessoas tenham condições materiais para poder optar por esse caminho”.
O posicionamento de Ananta Martins, 49, idealizadora da feira, vai em linha com o de Teruel. Segundo ela, em contrapartida aos preços caros de alguns alimentos, há ofertas relativamente baratas de vegetais e frutas em determinados períodos de colheita.
“A periferia é muito rica em feiras livres. Basicamente, o veganismo é o que utiliza (os produtos), o que resulta no ideal do veganismo acessível”, reflete.
A feira é mensal, tem entrada gratuita e conta com a exposição de diversas marcas veganas da zona leste para os moradores da região e para todos interessados em auxiliar na permanência do evento, de acordo com a fundadora. A programação pode ser consultada nas redes sociais.