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Desemprego faz casal superar medo e abrir o próprio negócio

Retificador usou a experiência construída como empregado no mercado de trabalho para empreender na área de motores de veículos

14 dez 2022 - 18h27
(atualizado às 18h48)
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Casal de empreendedores Valdomiro e Cláudia, fundadores da MD Retífica
Casal de empreendedores Valdomiro e Cláudia, fundadores da MD Retífica
Foto: Arquivo pessoal

Muitos brasileiros tentam buscar espaço no mercado de trabalho por meio do próprio negócio, mesmo com a desigualdade social sendo determinante para que a população das favelas espalhadas por todo território nacional tenha ainda mais obstáculos no início da caminhada no empreendedorismo.

Em Salvador, moradores de bairros periféricos quando não tem mais oportunidades no mercado de trabalho, tentam encontrar no empreendedorismo esperança de uma vida melhor. “Fiquei desempregado e consegui me restabelecer quando abrir o meu próprio negócio”, diz Valdomiro José dos Santos, 57 anos, fundador da empresa MD Retífica.

Ele, um homem negro que vem de família pobre, trabalha desde os 10 anos de idade. “Sou um cidadão que cumpre com as minhas responsabilidades. Sou guerreiro, otimista, sonhador e casado há mais de 36 anos com Cláudia Conceição dos Santos, minha grande apoiadora em tudo. Tenho um casal de filhos, que são maravilhosos”, conta.

O empreendedor descreve que quando era empregado não tinha tempo para a família, vivia para o trabalho e não era valorizado. “Eu trabalhava em uma empresa como retificador veicular, reconstruindo motor de veículos. No trabalho eu não tinha férias justas, acordava muito cedo para trabalhar e chegava em casa bem tarde, ficava sem tempo para minha família. Não tinha um lazer digno, além de salários atrasados. Eu trabalhava em duas funções: encarregado e fazia serviços de retífica. Com um tempo fiquei desempregado e passei muitas dificuldades”, diz.

O caso de Valdomiro não é diferente de muitos brasileiros, que sofrem com a falta de oportunidades de emprego e com isso as questões financeiras se tornam o maior problema para as famílias. Entretanto, ele e a esposa decidiram criar a própria empresa com a intenção de melhorar de vida.

Desempregado por muito tempo, ele criou a MD Retífica, que é uma empresa de restaurar motor de combustão interna, seja em razão de ter sofrido danos, ou por desgaste natural como consequência do uso.

“Para o bom funcionamento de um motor de combustão interna é necessário que haja possíveis folgas entre algumas peças móveis, as quais são estabelecidas por cada fabricante de acordo com cada modelo de motor. Tudo isso com o objetivo de permitir a passagem do óleo, responsável pela lubrificação, a fim de evitar o desgaste excessivo gerado pelo atrito entre os metais e permitir a dilatação térmica programada das peças internas, tais como: pistões, eixo virabrequim, anéis, bielas, comando de válvula e cabeçote”, explica.

A MD retífica começou a funcionar no quintal da casa de Valdomiro por incentivo da esposa. “Eu andava muito estressado no trabalho. Na época, a minha esposa tinha um salão de beleza e estava passando por problemas de saúde e por isso teve que desistir do salão. Fiquei desempregado, aí começou as dificuldades financeiras. Fiquei um bom tempo sem conseguir um emprego. Certos momentos pensei em trabalhar para mim mesmo, mas tinha medo porque teria que alugar um ponto, comprar materiais e não tinha condições financeiras de abrir uma empresa. Foi aí que minha esposa teve a ideia de começar no quintal de casa”, lembra.

Trabalhando em casa, ele e Cláudia ficaram mais próximos. “A minha relação com a minha esposa sempre foi de união, apesar das dificuldades financeira, sempre fomos em busca dos nossos objetivos. Trabalhando juntos ficamos muito mais próximos, ficamos mais ainda unidos. Na empresa, a minha função é visitar empresas, clientes e executar os serviços, enquanto a dela é de fazer toda a organização administrativa”.

A esposa de Valdomiro assume o papel de organizar todas as informações dos clientes da empresa, colhendo dados, criando planilhas com informações técnicas de motores dos veículos, entre outros serviços. “Executo o meu trabalho administrativo, criando planilhas e organizando a parte financeira da empresa no escritório que funciona na minha própria casa”, comenta.

Cláudia é uma empreendedora negra, e busca com determinação realizar os objetivos. Ela diz que antes de abrir o próprio negócio trabalhava como cabeleireira em um salão de beleza, porém com a síndrome do túnel do carpo, causada pelo esforço repetitivo, a impossibilitou de continuar a trabalhar na profissão.

“Trabalhei por 10 anos cuidando dos cabelos das pessoas, contudo com o problema de saúde, nas mãos, não pude continuar com a minha profissão. Então juntamente com o meu marido criamos a empresa no ramo de retífica veicular”, conta.

A diferença entre antes e depois do negócio, como fala a empreendedora, é a liberdade de horários no trabalho e poder dar mais atenção a família. “Antes era uma correria muito intensa, no entanto, hoje em dia, tenho a mais liberdade de fazer o próprio horário de trabalho, além de possuir mais tempo com a família”.

Ela faz questão de afirmar que a empresa melhorou ainda mais a relação com o marido. “Sempre fomos unidos, apesar das dificuldades, procuramos buscar harmonia e sempre priorizar a família. Todavia, depois de abrir a empresa, a nossa relação melhorou 100% em tudo”, destaca.

“Quando decidimos abrir o negócio não pensamos duas vezes em começar no quintal. Fazíamos o orçamento no caderno, fizemos cartões de visitas, não trabalhávamos com cartões de créditos. Acreditamos na honestidade dos clientes para pagar depois. Hoje temos um espaço alugado, mas a luta continua para termos o nosso próprio espaço”, completa a empreendedora.

Cláudia diz que ter o próprio negócio tem algumas dificuldades, mas a persistência faz com que tudo isso valha a pena. “Para ser empreendedora enfrentamos a burocracias para abrir uma empresa, ter capital de giro e saber lidar com a concorrência acirrada. Porém, com persistência e boa comunicação conseguimos alcançar os nossos objetivos”, afirma.

A empreendedora ressalta que vale a pena empreender, pois quando é aberto um negócio na comunidade todos ganham. “Com o empreendedorismo local tem a geração de empregos e os moradores não precisam ir em outro local para fazer um serviço ou comprar algo. No meu caso mesmo, moro aqui no bairro de Pirajá há mais de 40 anos e sempre incentivamos aos moradores a também seguir o nosso exemplo”, pontua.

Cláudia Santos enfatiza que a dificuldade financeira, a falta de empregos foram situações que influenciou para que ela e o marido criassem a empresa. “O que nos influenciou a abrir o negócio foram as dificuldades que passamos: falta de apoio, falta de oportunidade, falta de empregos”, lembra.

Com a intenção de adquirir conquistas e ter uma renda financeira melhor, a empresa foi aberta em 2014 e atualmente funciona em um espaço alugado.

De acordo com a empreendedora, a MD Retífica faz visitas as empresas e clientes particulares oferecendo os serviços de retífica de bloco, de eixo, de bielas, de cabeçotes e de encamisamento.

“Trabalhamos com linhas leves (veículos que funcionam com gasolina e álcool) e linhas pesadas (veículos que funcionam com diesel), atendendo seis empresas fixas e clientes particulares. Dependendo do mês, atendemos entre 10 e 15 clientes. Funcionamos das 8h até as 17h, de segunda a sexta, e aos sábados, das 8h às 12h”, conclui.

ANF
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