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Em cima de bicicleta, vendedor de doces quita dívidas e volta a sonhar

Após diversas tentativas gastronômicas, Gil se reencontrou consigo mesmo ao vender brigadeiros com suas bicicletas

3 nov 2022 - 05h00
(atualizado às 11h49)
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Gil e sua bicicleta, em que vende seus doces e o brigadeiro, carro chefe do negócio
Gil e sua bicicleta, em que vende seus doces e o brigadeiro, carro chefe do negócio
Foto: Divulgação

No centro histórico de São Paulo, a bicicleta do Gil está sempre estacionada próxima à B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, onde ele deu início a um recomeço de sua vida profissional e um reencontro consigo mesmo.

Antes de chegar até aí, a história é longa. Passa por um episódio de violência doméstica, há cerca de 25 anos, à vida na periferia da zona sul paulistana, na região do Jardim Ângela, a três pizzarias, vendidas por excesso de trabalho, e a um bistrô que faliu, no Jardim Aeroporto, na zona sul da capital.

Gil conta que desde mais jovem tem uma veia empreendedora, mas que nem sempre os caminhos foram lineares. Como tudo na vida, os altos e baixos foram constantes na vida desse paulistano, que hoje conta com duas bicicletas ativas e em breve estará com a terceira. No tabuleiro que acompanha o veículo de duas rodas, o carro chefe é o brigadeiro, que ele diz fazer com um cuidado todo especial.

Ele afirma que já fez de tudo. Ainda adolescente cuidava da manutenção de chácaras de veraneio, limpou piscinas, e já na vida adulta chegou a ter três pizzarias simultaneamente. "Chegou uma hora que percebi que não fazia outra coisa a não ser trabalhar. Não tinha vida", diz ele.

Com o dinheiro, abriu um bistrô no Jardim Aeroporto, mas a clientela não foi suficiente pra manter o negócio em pé. Foi nessa época em que se afundou em dívidas e viu o negócio falir. "Perdi dinheiro, um apartamento, atrasei aluguel, fiquei com dívida no banco, e processos trabalhistas. No fim das contas fui morar num quartinho, no fundo do imóvel".

Gil levou os equipamentos que sobraram do restaurante para um galpão de equipamentos usados na esperança de reaver parte do investimento. Levou outro tombo. O local fechou e ele perdeu o pouco que havia sobrado.

Nessa época, Gil, que se formou em administração, tinha notado uma tendência européia, da venda de produtos sobre duas rodas. Já havia comprado uma bicicleta, ainda sem saber o que iria vender. Ele mesmo começou a customizar o veículo. "Sou meio professor Pardal e montei toda a estrutra".

Num domingo conta que recebeu a visita de dois amigos e do filho, que à época tinha 12 anos. Almoçaram e ele fez um brigadeiro de colher como sobremesa. "Todo mundo adorou e meu filho deu a ideia, que eu precisava: 'porque você não faz para vender?'

No dia seguinte fui comprar as madeiras e fiz a primeira caixa. Mandei adesivar, entrei na Internet e o primeiro logotipo foi baseado na primeira caixa de chocolates, de mil oitocentos e pouco. Plageei o fundo da marca, quem sabe para ver se trabalhava com o inconsciente das pessoas", diverte-se.

A bicicleta do Gil, feita por ele mesmo
A bicicleta do Gil, feita por ele mesmo
Foto: Divulgação

Durante uma volta pelo centro histórico de São Paulo, em setembro de 2015, viu "aquele mundo de pessoas circulando" e decidiu-se instalar próximo à B3. Ficou tão popular por lá, que vira e mexe é convidado para levar seus doces aos eventos dentro do prédio da instituição. Antes já havia feito algumas experiências na avenida Paulista. 

No começo, na Paulista, ele conta que levou cerca de 40 caixinhas de brigadeiro, que se esgotaram em 40 minutos. "Foi uma loucura. Nem bem comecei a vender e acabou tudo".

Aí a coisa começou a engrenar. Ele foi ampliando a quantidade de produtos à venda e o tempo dedicado ao negócio, que inclui toda a produção. "Aí fui para o centro. Quitei a dívida do restaurante em 2016. Fechei o ano girando quase R$ 300 mil".

Segundo ele, as coisas foram bem até o começo de 2020, quando a pandemia de Covid-19 fez com que o comércio ficasse fechado por cerca de quatro meses.

"Eu já tinha juntado uma grana, mas eu já tinha conseguido pagar minhas dívidas e tinha um pouco de fôlego. O tombo que eu levei me trouxe mais humildade."

Hoje, ele fornece os doces cinco cafeterias do centro e das duas bicicletas, uma está com uma de suas irmãs, que ao perder o emprego começou a trabalhar com ele. A terceira, que será inaugurada em breve, próximo ao shopping Cidade de São Paulo, na avenida Paulista, ficará na responsabilidade de um amigo, que hoje é seu "representante de vendas".

Ele resume sua trajetória homenageando a sua mãe. "Se não tivesse a dona Fátima, que sempre me apoiou, talvez não tivesse chegado até aqui".

Receita do Gil

Os ingredientes: Leite condensado (R$ 7,00), uma colher de manteiga (R$ 15/kg - dá pra 20 receitas), 100 ml de creme de leite (R$ 21 o litro - dá pra 10 receitas), 100g de chocolate (R$ 2,25) e chocolate granulado (R$ 13/2kg - rende 300 unidades).

Custo estimado: R$ 12,10 por receita. Valor pode ser elevado a R$ 20, por conta de gastos com água e luz, por exemplo.

Rendimento: 26 brigadeiros

Preço de venda: R$ 3,00 a unidade

Valor bruto: R$ 78,00

Como fazer

Todos os ingredientes são colocados na panela (menos o chocolate). É preciso mexer em fogo baixo até a mistura ficar homogênea. Demora cerca de 5 minutos.

Após esse tempo, começa o processo de fervura, quando é acrescentado o chocolate. Em movimentos leves, é preciso continuar mexendo para que não fique grudado na panela.

Mais seis minutos e estará pronto. Aí desliga-se o fogo e segue-se mexendo por mais um minuto. A massa é reservada em potes, para descanso e esfriamento, por pelo menos 4 horas. Depois é só enrolar.

Fonte: Visão do Corre
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