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Jovem empreende em diferentes áreas para driblar o desemprego

Não-binário e morador de favela da Zona Norte, jovem empreende por falta de oportunidades no mercado de trabalho

17 nov 2022 - 05h00
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Miguel Odara em aula no curso “Cozinha & voz”, do Senai, voltado para capacitação de pessoas trans
Miguel Odara em aula no curso “Cozinha & voz”, do Senai, voltado para capacitação de pessoas trans
Foto: Arquivo Pessoal

Miguel Odara, 25 anos, morador do Morro Fallet/Fogueteiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, é estudante de programação e empreendedor. Vendo no trabalho autônomo a oportunidade que o mercado de trabalho não lhe deu, atualmente possui três negócios: a Loja Transparecer, de produtos voltados para a estética transmasculina, Pico da Larika, de comidas veganas e presta serviços de limpeza e organização doméstica, como autônomo.

Miguel é uma pessoa não-binária transmasculine, e por conta de sua identidade de gênero, sempre enfrentou obstáculos em diversas áreas da vida. Pessoas não-binárias são as pessoas trans que não se identificam com o binarismo de homem ou mulher. Transmasculines são o grupo de pessoas trans que foram designadas como mulheres ao nascimento e se identificam dentro do espectro das masculinidades.

Ele conta que foi expulso de casa e sobrevivia através da venda de brigadeiros na rua e um brechó online no instagram, mas tais atividades não geravam renda suficiente. Depois de enfrentar muita dificuldade para entrar no mercado de trabalho, ele consegue um emprego, que o ajudou financeiramente, mas conta que a sua saúde foi prejudicada pelo ambiente preconceituoso da empresa. “Por conta do preconceito e alguns desrespeitos, eu acabei não aguentando e preferi empreender. Eu nunca me encaixei em nenhuma empresa, sempre me sentia depressivo, ansioso e sugado todos os dias pelo ‘cistema’. O ambiente de trabalho CLT e as pessoas são muito transfóbicas. Além disso, eu também era consciente que podia ganhar dinheiro de outra forma. ”

Em 2019, ele decide desistir de trabalhar de carteira assinada e apenas empreender, mesmo com pouco dinheiro para investir. “Criei algumas lojas, fui analisando bastante e vi que com apenas um negócio eu não ia conseguir ter dinheiro suficiente no começo. Então foi fluindo e eu tenho hoje três lojas no instagram. ”

Para ele, o empreendedorismo é um possível caminho para pessoas trans que sofrem com a exclusão social: “O mercado formal de trabalho, ele é muito transfóbico, sexista e afins, o próprio mercado nos “expulsa” do mercado. Empreender foi o melhor caminho pra minha vivência e sobrevivência. Eu acredito muito que ele acaba sendo uma opção pra nós pessoas trans.”

No início da vida como empreendedor, Miguel encontrou apoio na sua rede de pessoas trans, que o incentivaram, comprando seus produtos e engajando nas redes sociais, compartilhando. “Pra mim foi uma carga muito pesada no começo, é muito difícil quando se tem que aguentar tudo sozinho! Uma boa parte da população trans é jogada pra fora de casa quando se entendem trans.”

É pensando nesse público alvo, as pessoas trans, que uma de suas lojas, a Transparecer, foi criada. A intenção é ajudar na autoestima de pessoas trans, principalmente transmasculines, que enfrentam problemas na pele por conta da transição hormonal, além de necessitar da complementação de tônicos para crescimento da barba. Atualmente, é a loja que mais o motiva, é o empreendimento em que mais ama trabalhar e que mais está crescendo, cada dia mais. “Amo ajudar as pessoas trans com a sua autoestima. Os produtos que eu vendo ajudam principalmente os transmasculines que querem ter barba. ” Diz. “Inclusive, a autoestima de  transmasculines precisa ser enaltecida todos os dias, isso já foi nos negado por bastante tempo.”

Miguel em seu primeiro evento vendendo churrasco vegano, em Campinas com a loja Piko da Larica
Miguel em seu primeiro evento vendendo churrasco vegano, em Campinas com a loja Piko da Larica
Foto: Arquivo Pessoal

O seu outro empreendimento, a loja de comida vegana, Pico da Larika, foi desenvolvida por ele ser vegano e perceber que as pessoas enfrentam dificuldades ao consumirem, cozinharem e/ou venderem alimentos veganos, por falta de tempo, preconceito ou mesmo por falta de ideias do que fazer.

Nesse caso, as dificuldades não ficaram nos primeiros passos da sua trajetória. Miguel fala sobre como a pandemia e a forma como o governo atual lidou com a situação prejudicou as suas vendas: “Eu trabalhava na rua (semáforo), por conta disso tive que me virar com outras coisas para trabalhar dentro de casa. ” Relata. “O governo Bolsonaro prejudicou bastante o meu negócio principal, o de comida. Os alimentos aumentaram muito durante o desgoverno dele, então foi muito difícil sobreviver e manter meu negócio.”

Em comparação, quando o presidente Lula estava em exercício, segundo Miguel, os alimentos eram mais baratos. “Se eu tivesse minha loja de comida vegana naquela época, venderia muito! Acredito que com Lula sendo presidente de novo, os microempreendedores de periferia vão ser mais vistos e valorizados.”

Para conhecer o trabalho de Miguel Odara, confira no Instagram: @storetransparecer, @picodalarika e @organizadorprofissional.

ANF
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