A televisão vai ficar mais parecida com o computador. A imagem sem fantasmas e o som com qualidade de CD são detalhes do mundo de possibilidades que vai se abrir: realizar serviços bancários no intervalo da novela ou comprar a camisa do atacante durante uma partida de futebol, com a simples mudança de canal. A TV digital, sistema de transmissão que transforma som e imagem em linguagem de computador, responde por essa transformação e deve entrar em funcionamento no Brasil até 2003.
Até lá, as experiências com a TV digital no país estão restritas aos assinantes do sistema de TV por satélite Sky, que explora a interatividade desde novembro do ano passado, e a um grupo de 250 assinantes da NET em Sorocaba, no Estado de São Paulo.
A troca do sistema atual (analógico) para o digital vai além da modernização dos sistemas. Pressionada pelas novas mídias e equipamentos, como a Internet, o telefone celular e os sistemas de transmissão por satélite e cabo, a televisão aberta vê, pela primeira vez, o seu reinado de 50 anos ameaçado.
– É preciso correr para não virar uma mídia de segunda categoria – diz Carlos Brito, da Rede Globo, assessor do grupo do Abert/Set, encarregado dos testes de avaliação dos padrões para televisão digital realizados entre 1999 e 2000 em São Paulo.
Ganhar terreno em uma área dominada pelo computador e a Internet vai custar caro. De acordo com Brito, as emissoras deverão gastar US$ 1,7 bilhão para atualizar os 8 mil transmissores em operação no país. O custo será compensado pelos novos serviços, como transmissão de dados e comércio eletrônico.
Os fabricantes de eletroeletrônicos estão atentos ao movimento, que poderá, ao longo dos próximos anos, convencer os brasileiros a substituir os 40 milhões de aparelhos analógicos por um modelo digital.
– Mas isso vai demorar. No início as pessoas deverão optar por um decodificador, que vai converter os sinais digitais para analógicos, de forma que possam ser captados pelos aparelhos antigos – explica Francisco Machado, gerente para o Brasil da área de Broadband da Motorola.
Os decodificadores custam em torno de R$ 400, enquanto os aparelhos de televisão digital não saem por menos de R$ 4 mil.
A Sony, que fabrica aparelhos digitais nos Estados Unidos, Europa e Japão, está familiarizada com os três padrões, mas só vai começar a produção de equipamentos no Brasil quando o padrão a ser adotado for anunciado.
– Os aparelhos da linha Wega estão em condições de dar uma resposta de imagem melhor quando a TV digital entrar em operação – assegura Cristiano Castro, diretor de Marketing.