Em 2 de outubro de 1992, a Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru, foi palco de uma tragédia que jamais será apagada da história do maior presídio do País. Uma intervenção da Polícia Militar do Estado de São Paulo para controlar um tumulto no presídio resultou na morte de 111 presos. Após quase nove anos, o "massacre do Carandiru" tem o seu julgamento. Duas tentativas já fracassaram.
No início da tarde de 2 de outubro, uma discussão entre detentos do pavilhão 9 deu início a um motim.
O confronto parou o local. Os presos impediam carcereiros e funcionários de intervir. Rebelados, os presos destruíram boa parte do presídio, levando a segurança a trancar o portão principal e chamar a Polícia Militar.
Com a chegada da polícia, a confusão apenas aumentou. Cerca de meia hora depois de acionado o alarme, 341 homens estavam na frente do Carandiru. Entre eles, estavam o 1º Batalhão de Choque, com 51 homens - chefiado pelo ex-comandante da Rota, Antonio Chiari -, o 2º Batalhão, com 125 soldados, e o 3º Batalhão, com 74, sob o comando de Édson Faroro e o tenente-coronel Luiz Nakaharada, respectivamente.
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Após o massacre, familiares tomaram a frente do presídio |
O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), comandado pelo major Wanderley Mascarenhas e o Comando de Operações Especiais (COE) também estavam na equipe para deter a rebelião, com 41 soldados, contando ainda com a cobertura de mais 45 PMs. Para liderar a operação, o diretor da Casa de Detenção, José Ismael Pedrosa, chamou o coronel Ubiratan Guimarães, do Comando de Policiamento Metropolitano (CPM), que chefiou pessoalmente todos os policiais envolvidos.
Diante da presença da tropa de choque, a briga entre os detentos transformou-se em um confronto com os policiais. Temendo uma invasão, os presos prepararam a defesa com colchões incendiados e fizeram um curto-circuito na casa de força. A rebelião esquentou e Ubiratan recebeu ordem de Pedro Franco de Campos, Secretário de Segurança da época, para invadir o pavilhão. Segundo o secretário, a autorização foi dada com a permissão do então governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB).
Após um pedido do diretor do presídio para que os rebelados voltassem às suas celas, o motim tomou proporções maiores e a polícia interviu definitivamente. Entre os corredores do pavilhão, rebelados e soldados não se entenderam. Munidos de metralhadoras e facas, os policiais conteram os presos com fuzilamento, transformando a operação em chacina.
Meia hora foi suficiente para que a tropa de choque dominasse o pavilhão. Cães da PM também participaram da operação. Dentro das celas, cadáveres estilhaçados, que, logo depois, foram levados pelos sobreviventes até o pátio. Ao final do massacre, um saldo de 111 mortos.
A guerra entre os detentos e policiais gerou tumulto ao redor do Carandiru. Imprensa e curiosos acompanharam de longe a ação. Os dados finais foram divulgados somente no dia seguinte (3 de outubro de 1992), quando aconteciam as eleições municipais.
Redação Terra com informações Agência Estado
e Secretaria de Estado dos Direitos Humanos