“Eles não tinham um caso. Sou testemunha”, diz ator e amigo de Daniella

Como num jogo de imaginação, o ator Duda Ribeiro (à dir. na foto) se pega, hoje, pensando como seria a amiga Daniella Perez se ela não tivesse sido morta aos 22 anos. Melhor amigo da atriz na época do crime, ele busca se lembrar dela de forma positiva. Lamenta também que, segundo ele, tão pouco se fale da personalidade de Daniella. Duda quer se lembrar da “Dani” generosa, que, espontaneamente, perturbava a mãe, Glória Perez, para colocá-lo em suas novelas. “Só se fala no caso (crime), dão voz para as pessoas erradas. Eu quero falar dela, homenageá-la. Poxa, foram 22 anos de uma vida linda”, diz o ator, que atualmente, como gostaria de ver Daniella, está numa novela de Glória. Mesmo evitando focar, durante a entrevista, no crime praticado por Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, faz questão de reforçar uma declaração de forma taxativa: “A verdade é uma só: eles (Daniella e Guilherme) não tinham um caso. Eu sou testemunha”. A declaração é em alusão aos rumores alimentados pelo próprio autor do crime de que tivera um romance com a atriz na época. Confira a entrevista:

Terra - Para você o que é mais importante de lembrar da Daniella Perez 20 anos após sua morte?

Duda – Sempre se fala mais sobre o caso (o crime). Dão voz a pessoas erradas para falar. Eu quero muito falar sobre ela. Poxa, ela teve 22 anos de uma vida linda. Quando eu vejo uma foto dela, ela teria 42 anos, feitos agora em agosto, fico imaginando os filhos que ela teria, onde estaria na carreira dela, o que estaria fazendo nesse momento. Quando vejo uma foto eu a vejo jovem e ainda consigo vislumbrar muito. Eu vejo uma jovem bonita, talentosa, que dançava muito. Eu a conheci no palco, eu na plateia e ela no palco. Ela com mais ou menos 16 anos como bailarina de formação de jazz de clássico. Depois dançando dança de salão. Ela tinha uma facilidade de ritmos... Isso ficou claro na peça que estávamos ensaiando, eu ela e o Raul (Gazolla, ex-marido de Daniella Perez) em 1992. Faltavam quase quatro meses pra estrear (quando ela foi morta). Era bacana demais esse talento nato que ela tinha para a dança. Em Kananga do Japão (novela da extinta TV Manchete) ela já dançava com o Raul. Foi lá que eles se conheceram.

Terra - Você se sentia mesmo como o melhor amigo dela?

Duda – Fomos amigos uns sete anos.... Ela me dizia isso, que eu era o melhor amigo dela. Não deixava muito as meninas chegarem perto. Tinha ciúmes das minhas namoradas (risos). O Raul mesmo me dava esse título. Ele dizia: ‘você é o melhor amigo dela, toma conta’. Devo a ela duas novelas: Barriga de Aluguel e De corpo e alma. Ela pedia para a mãe (colocá-lo nas novelas). Eu, na verdade, queria fazer roteiro. Já fazia teatro, mas não tinha essa relação com novela. Aí quando a Glória fez Barriga de Aluguel ela pediu pra mãe. Teve outras com a Glória também, como Amazônia. A Dani falava sobre mim pelo meu talento.

Terra - Não era só uma coisa de amiga, é isso?

Duda – Exatamente. Favor de amiga ela fazia, mas era outra coisa. O mais bacana disso tudo é que, aos poucos, a Dani foi se chegando naturalmente para o caminho da atriz. E ela era quase aluna comigo. Sempre chegava pra mim pra perguntar as coisas. Nossa diferença de idade é de dez anos. Pra você ter ideia, eu me lembro dela tirando a carteira de motorista aos 18 anos (risos). Lembro dela felicíssima no seu primeiro Voyage. Lembro dela em Búzios passando as férias inteiras. Aquela coisa de jovem...

 

 

 

 

 

Terra - Como ficou sua relação como Raul Gazolla?

Duda – A gente se tornou muito muito muito amigo. Foi como se, a partir dela, viéssemos a nos conhecer mais. Sou diretor do espetáculo novo do Raul. A cumplicidade veio da dor. Temos um respeito muito grande pela dor um do outro.

Terra - Existe dor ainda?

Duda – Não. Sabe por quê? Porque se pensar na dor eu vou ter que pensar nas pessoas que fizeram. Prefiro parar dias antes (do crime). No momento ruim, eu estive em tudo. E eu já ouvi tanta mentira. O cara (Guilherme de Pádua) só mente. Continuam as mesmas mentiras. Quem tem a dimensão de quem ela era sabe. Não quero dar voz para ele, tudo que ele falou até agora foi mentira, inclusive que eles tinham um caso, isso é mentira. Eu sou testemunha. A verdade é uma só: não tinha o caso. Fiz a minha parte naquele momento. Fui muito para porta de teatro pegar assinatura para o projeto (de iniciativa popular que transformou homicídio qualificado em crime hediondo). De lá pra cá, nunca vi uma reportagem que falasse só da vida dela. É só o crime, cadê ela, cadê a vida dela? O importante é lembrar como ela era alegre, feliz, como amava o marido, tudo que eles planejavam. É fundamental reverenciar a pessoa. Sinceramente, quero muito ressaltar as qualidades dela como essa pessoa maravilhosa, linda, de bem com a vida, animada pra caramba, que tinha um futuro belíssimo como atriz. Ela aprendia muito rápido. Ela é contemporânea da Cacau (atriz Claudia Abreu). Não comparando, mas hoje ela estaria nesse caminho aí da Cacau, da Adriana Esteves.

Foto: Divulgação