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Não-violência
budista dá forma e conteúdo a Kundun
Martin Scorsese já retratou de maneira impecável A Época da Inôcencia, Os Bons Companheiros,Touro Indomável, Taxi Driver, Cassino. A capacidade ilimitada de tratar de temas diversos levou o ex-seminarista também a fazê-lo com a religião como em A Última Tentação de Cristo. Os membros mais conservadores da Igreja criticaram brutalmente a obra. Assim como os espectadores, acostumados a violência como temática recorrente do trabalho do cineasta, estranharam o tom pacifista. Com Kundun, que chega às telas brasileiras com um ano de atraso, ocorreram incidentes semelhantes. O filme mostra a vida do 14º Dalai Lama, o líder espiritual do Tibet, dos dois aos 24 anos quando ele teve que procurar exílio. A história narrada pelo próprio Dalai Lama à roteirista Melissa Mathison mescla realidade e imaginação e Scorsese a filmou assim: sem preocupação em demarcar onde começam os fatos e seguem os sonhos. A temática da não-violência budista é aparentemente inofensiva, a não ser para os chineses. E exatamente eles polemizaram a produção. É que depois da revolução comunista de 1949, o Tibet foi anexado à China e seu povo teve que 'se adequar' ao estilo de vida chinês, que determinava o extermínio de qualquer prática religiosa. Esse confronto já matou mais de 1,5 milhão de pessoas e tirou dos tibetanos o direito de conviver com o Dalai Lama. Por isso, a fúria de autoridades chinesas que ameaçaram a Disney, financiadora do projeto, com um boicote a todos os seus produtos. Em vão. A imprensa também o atacou rotulando Kundun (significa 'oceano de sabedoria') de 'tibetan chic' - na onda de personalidades hollywoodianas que estavam aderindo ao budismo lideradas por Richard Gere e de 'outros' filmes como Sete Anos no Tibet, com Brad Pitt. Quem se enfureceu desta vez foi Scorsese. Independente
dos conflitos, o filme tem uma fotografia belíssima de locações
realizadas no Marrocos e um elenco amador de 400 tibetanos - e nenhum
ocidental ou profissional -, todos crentes em sua importância como
representantes de seu país e de uma causa.
Essa escolha obrigou o Scorsese a adaptar as filmagens ao ritmo dos movimentos
e rituais deles, fazendo de Kundun um filme reflexivo e totalmente
diferente de tudo o que já havia realizado. Experiência que
reforçou o fascínio do ítalo-americano pela espiritualidade
do líder tibetano, despertado na primeira leitura rápida
do roteiro.
Leia
a opinião de Carlos Gerbase sobre o filme
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Título Original: Kundun |
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