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STANLEY KUBRICK (1928-1999)

Muita gente acha que Stanley Kubrick é inglês, por dois fortes motivos: algumas de suas obras mais famosas foram produzidas na Inglaterra e toda a sua filmografia foge - às vezes se choca - com a estética de Hollywood. Mas Kubrick é americano. Aos 17 anos, graças aos ensinamentos de seu pai, já trabalhava como fotógrafo da revista Look. Certamente este início profissional influenciou seus filmes, que dependem bastante do visual para que a história seja contada.

Aos 22, passou para o cinema fazendo curtas. Demonstrou talento e seus trabalhos foram adquiridos pela RKO. Em seu primeiro longa, "Fear and desire", atuou como produtor, diretor, montador e operador de câmara. Seu primeiro sucesso foi "Glória feita de sangue", extraordinário filme de guerra, em que analisa profundamente os limites entre o patriotismo e a insanidade bélica. A ação se passa na França, o que ocasionou, por vários anos, a proibição da exibição do filme naquele país. Kubrick, contudo, nunca se dobrou às exigências de quem quer que fosse.

Sem conseguir tocar novos projetos, acabou substituindo Anthony Mann na direção de "Spartacus", filme que não o agrada muito, mas que contém cenas de batalha impressionantes. Antes de se exilar na Inglaterra, ainda faz Lolita, baseado em Nabokov, mais uma vez gerando escândalo e atraindo a fama de cineasta perigosamente radical (ou imoral). Seguiram-se "Doutor Fantástico", farsa muito bem humorada sobre a bomba e o fim do mundo, em que Peter Sellers demonstra sua versatilidade e seu gênio humorístico, e 2001- Uma odisséia no espaço, o maior clássico do cinema de FC de todos os tempos.

Sua trilogia de clássicos é coroada por "Laranja mecânica", que esteve proibido no Brasil e depois foi liberado com as famosas "bolinhas pretas", que perseguiam as "partes pudentas" dos atores enquanto eles se movimentavam na tela. Quem viu nunca esquecerá. "Laranja mecânica" é um estudo sobre a amoralidade do ser humano, que não consegue administrar seus instintos frente a uma civilização igualmente incapaz de administrar suas contradições sociais. O filme é muito violento e tem uma das melhores trilhas sonoras da história do cinema. Aliás, Kubrick sempre demonstrou uma ousadia imensa na confecção do som de seus filmes, jamais se permitindo a solução fácil da música incidental que automaticamente sublinha o contexto dramático de cada cena. Kubrick, assim como brinca com a imagem, brinca com o som.

"Barry Lyndon", apesar da fotografia exuberante, é um pouco aborrecido, porque previsível demais. Já "O iluminado" é mais um triunfo da técnica e da ousadia de Kubrick. É um filme de terror que usa os truques do gênero, mas reserva muitas surpresas para o espectador. Usando e abusando do "steady-cam", equipamento que permite longos movimentos de câmara sem trepidação, Kubrick sabe como ninguém criar um clima absolutamente verossímil.

O mesmo clima tenso e clautrofóbico está presente em "Nascido para matar". Mais uma vez, Kubrick brinca com a estrutura do roteiro, partindo em dois a história. A primeira parte, que se passa num campo de treinamento dos fuzileiros navais é de uma crueldade sem limites, arrasando os conceitos mais importantes da vida militar: disciplina e hierarquia. Mas, afinal das contas, quem era Kubrick, que nos deixou concluído "Eyes wide shut", filme sobre casal de psiquiatras que se envolve em jogos sexuais?

O Kubrick de "Glória feita de sangue", "Doutor fantástico" e "Nascido para matar" era um anarquista clássico e muito feroz, empenhado em destruir conceitos basilares da sociedade ocidental, reservando um ódio todo especial aos militares. O Kubrick de "2001" e "Laranja mecânica" era um pensador, quase um filósofo, à procura de explicações para a origem e para a finalidade da civilização humana. O Kubrick de "O iluminado" e "Barry Lyndon" era um esteta, um grande virtuose, brincando com gêneros e com o próprio ato de fazer cinema.

Kubrick era, enfim, um rebelde. Fazia o filme que queria, do jeito que queria. Preferia não filmar a filmar o que não lhe agradava, Preferia ser chamado de imoral a ser chamado de omisso. Kubrick nunca fez um filme que não dissesse alguma coisa. Kubrick era um discurso, que às vezes até podia soar ambíguo, mas era sempre coerente. Sua morte é uma perda irreparável para o cinema mundial.

FILMOGRAFIA
1. Fear and desire (1953)
2. A morte passou por perto (1955)
3. O grande golpe (1956)
4. Glória feita de sangue (1957)
5. Spartacus (1960)
6. Lolita (1962)
7.
Doutor Fantástico (1964)
8. 2001- Uma Odisséia no Espaço (1968)
9. Laranja mecânica (1971)
10. Barry Lyndon" (1975)
11. O iluminado" (1980)
12. Nascido para matar (1987)
13. Eyes wide shut (1999).


Carlos Gerbase
é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e Fausto) e atualmente prepara o seu terceiro longa-metragem para cinema, chamado "Tolerância".

 

 

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