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Sundance 99 exibe 114 filmes
Idealizado por Robert
Redford para impulsionar o cinema independente norte-americano a partir
do Sundance Institute, em 1981, o Sundance
Festival começa a se distanciar do espírito "indie"
para ser a principal vitrine de lançamentos quentes e talentos
fora dos padrões hollywoodianos. Prova disso são as pré-estréias
mundiais dos filmes de Mike Figgis, Robert Altman, Tim Roth, e
a lista cada vez mais gorda de revelações que migraram para
o mainstream.
De 21 a 31 fevereiro, serão exibidas 114 produções.
Dezesseis filmes concorrem nas categorias ficção e documentário,
com boas chances de chegar ao grande público. A mostra Cinema Mundial
traz o brasileiro Ação entre
Amigos, de Beto Brant, ao lado de diretores consagrados, como
o iugoslavo Emir Kusturica. O filme de Brant concorre como melhor produção
latino-americiana.
Depois de lançar nomes como Quentin Tarantino e Steven
Soderbergh (que foram contemplados com a Palma de Ouro em Cannes logo
depois, respectivamente com Pulp Fiction e sexo, mentiras & videotape),
Spike Lee, os irmãos Joel e Ethan Cohen, Todd Haynes (Velvet
Goldmine), Neil LaBute (Na Companhia de Homens), Robert Rodriguez
(El Mariachi), o Sundance mostra antecipadamente sua força
na cena americana: todos os participantes da mostra competitiva já
têm distribuidor.
O destino de sucesso de Central do
Brasil deve muito ao festival. O filme de Walter Salles começou
sua carreira de 27 prêmios com um prêmio de melhor roteiro
em 1996, o que permitiu sua finalização e uma unusitada
disputa entre A Miramax e a Sony, que quase saíram aos tapas pelos
direitos de exibição. Hoje, a Sony esquenta o lobby para
indicar o filme ao Oscar.
A edição
99 começa com o lançamento de Cookie's Fortune, de
Robert Altman, um diretor genuinamente independente, na acepção
da palavra. À margem dos grandes estúdios, Altman realizou
filmaços como M.A.S.H. (1970), Nashville (1974) e
Short Cuts - Cenas da Vida (1993), ironizando a voracidade da indústria
em O Jogador (1992). Enquanto o novo filme de Altman toma conta
de Salt Lake City, Park City abre o festival com The 24 Hour Woman,
dirigido por Nancy Savoca, com Rosie Perez e Marianne Jean Baptiste (a
filha negra de Segredos e Mentiras, de Mike Figgis).
A presença de estrelas consagradas já não constitui
pecado original entre as boas novas do Sundance. O roteirista de Blade
Runner, Hampton Francher, dirige a cantora Sheryl Crow e Janeane Garofalo
em The Minus Man, sobre um viajante que revela segredos ao chegar
a uma cidadezinha. Já Val Kilmer e Ethan Hawke estrelam Joe
The King, de Frank Whaley, drama sobre as agruras enfrentadas pelo
filho de um faxineiro em uma escola. Lili Taylor, espécie de musa
do cinema independente e a assassina de I Shot Andy Warhol, é
a atração de A Slipping Down Life, sobre uma professora
que se apaixona por um roqueiro.
Entre os documentários, destacam-se The Black Press, sobre
a história da imprensa negra norte-americana; e Hitchcock, Selznick
and the End of Hollywood, de Michael Epstein, sobre a derrocada do
poder dos grandes estúdios; o alemão Run Lola Run,
do diretor de Wintersleepers, Tom Tykwer, e o espanhol Os amantes do
círculo polar.
A atriz Laura Dern,
a linda doutora de Parque dos Dinossauros, que prefere ser lembrada
pelos filmes de David Lynch, Veludo Azul e Coração
Selvagem, recebe o Piper-Heidseick Tribute no Independent Vision,
prêmio dado anualmente a personalidades do mundo do cinema que dedicam
suas carreiras a produções independentes.
O ciclo Premiéres
revela 12 estréias mundiais e 2 lançamentos nos EUA,
com alguns tiros certeiros para a próxima temporada. Mike Figgis,
Palma de Ouro em Cannes por Segredos & Mentiras, apresenta
The loss of sexual innocence, drama sobre o amadurecimento erótico
de um homem. O ator Tim Roth (Pulp Fiction) estréia na direção
com o drama familiar The War Zone, tentando abrir caminho no apertado
mercado americano juntamente com Lock, stock, and two smoking barrels,
sucesso inglês de Guy Ritchie. O documentarista de Errol Morris
apresenta Mr. Death: The rise and fall of Fred A. Leuchter Jr.,
um caso de revisionismo de crimes cometidos na Seguda Guerra por nazistas.(Cássia
Borsero)
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