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Mostra
Rio 98 Leia
mais: Os Idiotas é comida para
o pensamento
Mostra
chega à reta final
Centenas de filmes
estão à disposição dos cinéfilos cariocas
Com uma lista nada
menor do que 201 filmes, começa nesta sexta no Rio a X Mostra Internacional
do Filme, conhecida como Mostra
Rio, organizada pelo grupo que revolucionou o mundo cinéfilo
do Rio. Poderiam ser menos filmes ou, melhor que isso, a mostra poderia
ser dividida em várias mostras durante todo o ano, assim seria possível
a todos ter uma idéia de como anda a produção de filmes
no mundo, principalmente fora de Hollywood.
A mostra tem subdivisões
e atende a qualquer tipo de gosto e curiosidade. O coração
da mostra fica por conta do Panorama do cinema mundial, da Expectativa
98 e da Première Brasil.
O Panorama do Cinema
Mundial traz uma seleção dos melhores filmes do circuito internacional,
de novos diretores ou dos mais consagrados. Este ano o Panorama traz Carne
Trêmula, de Pedro Almodóvar, um filme que ainda
contém a estética kitsch do mais bem sucedido diretor espanhol,
mas muito menos cinismo, com um enredo digno de novela mexicana. Velvet
Goldmine, filme britânico de Todd Haynes com Ewan Mc Gregor,
mostra o mundo do glitter rock, cujo maior expoente foi David Bowie, ao
lado de Marc Bolan. Entre
o dever e a honra, último filme de Bruno Barreto, traz
ótimos atores da nova safra hollywoodiana como Gina Gershon, Stephen
Baldwin e Chris Penn. Os Idiotas, do dinamarquês Lars
Von Trier, é o filme que causou sensação no último
festival de Cannes, aliado a todo um mis èn scene criado por
seu diretor, redator do tratado Dogma
95, uma carta de intenções pelo cinema moderno,
livre dos grandes estúdios e das imposições mercadológicas
em termos de estética e tecnologia. Algo como o que Glauber Rocha
dizia: “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”.
Mais de Dogma 95 pode
ser visto na obra de outro componente deste movimento dinamarquês,
o diretor Thomas Vinterberg, que comparece com seu filme Festen,
na mostra Expectativa 98, que traz filmes dirigidos pelos diretores
mais promissores da atualidade. Entre estes destacam-se The
Opposite of Sex, de Don Ross, com a nova musa do cinema independente
Cristina Ricci, além de Lisa Kudrow, Martin Donovan e Lyle Lovett.
Sinais
de Fumaça, filme que ganhou o prêmio do público
no festival Sundance, é o primeiro filme escrito e dirigido por nativos
americanos, ou seja, os americanos de sangue puramente indígena.
Unlucky Money e Postman Blues, são filmes
japoneses do diretor Sabu que chegam à X Mostra Rio com ótimas
críticas. De
caso com o acaso é uma deliciosa comédia romântica
com Gwyneth Paltrow, realizada em Londres, com um roteiro bastante original.
A mostra foi inaugurada
na quinta, 17, com a pré-estréia de Ação
Entre Amigos, filme de Beto Brandt com roteiro de Marçal
Aquino. O filme, que trata da luta armada no Brasil nos anos 70, tem Leonardo
Villar encabeçando o elenco e foi bastante aplaudido em sua exibição
no último Festival de Veneza. A Première Brasil traz
longas e curtas inéditos como o primeiro longa da produtora Conspiração
Filmes, Traição, que apresenta três episódios
baseados em histórias de Nelson Rodrigues. Arthur Fontes, Claudio
Torres e José Henrique Fonseca dirigem elenco nacional estelar composto
por Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Drica Moraes e Alexandre Borges, entre
outros.
A já tradicional
mostra Midnight Movies, que este ano traz mais filmes que nas ediçoes
anteriores, traz modernidades, novas tendências e o que há
de mais curioso no cinema mundial. Modulations
é o segundo filme da brasileira Iara Lee, que vive em N.York.
O filme é um apanhado da trajetória da música eletrônica,
juntando o erudito e o pop, desde os primórdios, em 1913, quando
Luigi Russolo escreveu o manifesto The Arte of Noise (nome adotado por um
dos grupos de música pop mais interessantes dos anos 80). Jungle,
trance e drum’n bass, ao lado da música conceitual de Stockhausen.
Rápido,
barato e fora de controle é um bizarro documentário
sobre homens fascinados por animais, como um domador de leões e estudiosos
do comportamento dos animais. Benvindo
a Woop Woop, de Stephan Elliot é um comédia australiana
muito bem comentada. Barbie
Nation é um documentário que desvenda o culto
à boneca Barbie e mostra a trajetória de Ruth Handler, criadora
da boneca e seu marido Elliot, fundador da fábrica Mattel. Bertolt
Brecht: Amor, revolução e outras coisas perigosas mostra
uma abordagem humana do mito Bertolt Brecht.
O filme dentro do
filme é o que promete a mostra Filme Documento, trazendo documentários
sobre Billy Wilder, Lars Von Trier, Ingmar Bergman, Ken Loach, David Lynch,
Ed Wood e os bastidores dos filmes B.
A mostra Mundo
Gay deixa de ser parte da mostra Midnight Movies. O
Beijo Hollywoodiano de Billy e Uncut são
detaques da mostra, ambos dramas sobre relacionamentos homossexuais. The
Silver Screen: Color me Lavander é um documentário
de Mark Rappapport mostrando como o cinema hollywoodiano dos anos 30 e 60
ratratava os gays.
A mostra Tesouros
da Cinemateca continua nesta X Mostra Rio, desta vez trazendo preciosidades
do acervo do MoMa de N.York, como melodramas de D.W.Griffith, Victor Sjostrom,
Erich Von Stroheim e outros. Ainda reverenciando os clássicos, a
X Mostra Rio presta uma homenagem ao cineasta Roberto Rosselini com
a exibição de seus maiores filmes, entre eles Stromboli,
com sua então futura esposa Ingrid Bergman, o clássico do
realismo italiano Roma Cidade Aberta e Alemanha, Ano
Zero, sobre a Itália no pós-guerra. O centenário
de Eisenstein também não foi esquecido e dois documentários
dissecam a maestria do diretor russo.
Para quem gosta de
diversidade as diversas etnias estão representadas na X Mostra Rio.
O maior nome do cinema indiano, Satyajit Ray, tem uma mostra exclusiva
de seus trabalhos. Já a Herança Judaica é lembrada
na mostra que celebra os 50 anos de Israel. A nova safra de cineastas britânicos
pode ser checada na mostra de Curtas Britânicos.
Com programação
tão intensa e/ou extensa fica a pergunta: não seria melhor
dissecar esta mostra e exibí-la em partes durante todo o ano? Fica
aí a pergunta/sugestão em prol dos cinéfilos de plantão.
(Beth Ferreira)
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