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Emmanuelle Béart visita Rio e São Paulo para promover O Tempo Redescoberto


Estrela da delegação francesa que veio a São Paulo e ao Rio de Janeiro no último fim de semana, para acompanhar a exibição de oito filmes novos na Primeira Mostra do Cinema Francês, a atriz Emmanuelle Béart foi o rosto mais procurado pelas objetivas dos fotógrafos e câmeras de tevê. Com uma agenda rigorosamente vigiada, a atriz enfrentou uma extensa bateria de entrevistas.

Vestida com simplicidade – tênis preto com solado de 6 cm de altura, jeans canelado caramelo, regata marrom sem mangas realçando um farto busto, casaquinho de lã preta e foulard em tons de azul e cinza no pescoço –, Emmanuelle não se recusou a responder perguntas sobre sua carreira. Mas virou uma fera – é leonina, nasceu a 14 de agosto de 1965 – quando começaram a pipocar as perguntas sobre sua vida íntima e o fim de sua relação com o ator Daniel Auteuil.         

– Daniel, como ator, está cada vez mais interessante e tem, da minha parte, uma imensa admiração – diz Emmanuelle enquanto aperta entre os dedos da mão uma fina piteira, que utilizara para fumar uma cigarrilha Superleggera.

A atriz trouxe para o Brasil sua filha Nelly, uma menininha loira de seis anos que é uma imagem bonsai da mãe. O nome da garotinha lembra o da personagem vivida por Emmanuelle em um dos seus melhores e mais conhecidos filmes, Minha Secretária (Nelly et Monsieur Arnaud), dirigido por Claude Sautet em 1995. - Sautet está sempre presente na minha vida, mas isso é algo muito particular – afirma. – Eu mataria a outra atriz, se ele escolhesse alguém que não eu para o seu novo filme, ou ao menos desejaria que ela quebrasse a perna.         

Sem planos imediatos para a sua carreira, Emmanuelle Béart afirma que depois de ter atuado ao lado de Tom Cruise em Missão Impossível (1996) tem recebido propostas para fazer outros filmes em Hollywood.

– São personagens de suecas, alemãs ou dinamarquesas, todas com um sotaque exótico – comenta com um sorriso a atriz que viveu parte de sua juventude no Canadá e domina perfeitamente o inglês. – Sou bilíngüe e sem sotaque – declara divertida.         

Mas Emmanuelle reclama que os roteiros hollywoodianos carecem de substância, assim como os personagens que lhe têm sido oferecidos. Ela veio à 1ª Mostra do Cinema Francês para apresentar seu filme mais recente, O Tempo Redescoberto (Le Temps Retrouvé), dirigido pelo chileno Raoul Ruíz inspirado na obra de Marcel Proust.         

– Mudei minha trajetória cinematográfica porque agora tenho possibilidade de escolher filmes mais difíceis – salienta a intérprete do personagem de Gilberte. – É uma figura secundária da trama, já que o narrador (Proust, vivido pelo italiano Marcello Mazzarella) é quem conduz a história. Mas todos os homens têm uma Gilberte em suas vidas, um fantasma cujo encontro impossível destruiria a fantasia.

O encontro com Emmanuelle Béart ao vivo e a cores também pode derrubar a impressão de que aquele mulherão sedutor de O Ciúme, de Claude Chabrol (1994), é, na realidade, uma francesinha mignon a quem os saltos altos e a magia das lentes cinematográficas agigantam.         

Entre os novos valores do cinema francês destaca Cedric Kahn (O Tédio) e Erick Zonca (A Vida Sonhada dos Anjos), mas acredita ser difícil trabalhar com eles, já que tem uma trajetória. – Sou inconstante, tenho vontade de encontrar outras pessoas, de procurar outras pessoas – diz Emmanuelle entrecortando as frases, como se tivesse de pensar muito para exprimir suas idéias sobre o futuro. – Mas tenho minha casa e minha família que é o cinema francês, e isso me absorve muito mais.         

– Meu relacionamento com o cinema não foi um amor à primeira vista, mas algo que se transformou em uma paixão, na minha vida, em algo que eu terei dificuldade em deixar um dia – pondera.         

A atriz coloca o filme A Vingança de Manon, de Claude Berri (1987), como o início de sua carreira. Ela explica o fato:
– Sempre quis cair fora daquilo que parecia uma vida normal. Optei por ser atriz. Queria ser conhecida, famosa e rica e descobri o quanto isso poderia ser complicado. A Vingança de Manon me fez existir de um modo brutal de um dia para o outro. Mediatizada, tive de ouvir dizer que faltava o essencial para a minha personagem. Em busca dessa alma trabalhei vários anos até encontrá-la em A Bela Intrigante (de Jacques Rivette, feito em 1991).         

Com sua bela voz rouca ela declara:
– Tenho agora grande orgulho de meu trabalho de atriz.
(Tuio Becker - Agência RBS)




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